Há dias em que o arrependimento pesa sobre o peito como um
sopro abafado, um sussurro que se arrasta pelos cantos da memória e acaba por
erguer muros dentro de nós. É um sentimento denso, de contornos quase
invisíveis, que se insinua no silêncio, nos intervalos entre um pensamento e
outro, na brisa leve que entra pela janela sem pedir licença. Diante dele, tudo
que não fizemos, tudo que deixámos para depois, tudo o que fingimos que não
importava, retorna na forma de fantasmas: palavras que nunca foram ditas,
olhares que não se cruzaram, cartas que ficaram fechadas em gavetas empoeiradas
de incerteza.
Carregamos o eco dos gestos contidos, dos abraços que não demos,
das confissões sufocadas pelo medo de ser julgado ou não compreendido. O
arrependimento é a morte lenta das possibilidades que, um dia, pareceram
eternas e inquebrantáveis. É testemunhar, impotente, o desbotar de cores que,
um dia, foram vívidas e o ranger de portas que se fecharam para sempre. Há uma
certa melancolia na perceção de que nem sempre é possível retornar aos
instantes onde a escolha andava no ar, esperando que estendêssemos a mão e a recolhêssemos
para dentro de nós, transformando-a em realidade.
Porém, talvez haja um consolo neste desconforto: o
arrependimento também é um lembrete de que somos humanos e falíveis, um convite
a reconhecer as nossas limitações e fragilidades. É no amargor das
oportunidades desperdiçadas que encontramos o fermento para novas tentativas. A
dor de não ter tentado abre espaço para a determinação de não mais hesitar. O
remorso, por si só, não reverte o passado—mas pode iluminar o caminho adiante,
ensinando-nos a não fugir do que sentimos, a não nos intimidarmos pelo que não
sabemos, a não poupar ternura e honestidade quando o coração a pede.
Assim, resta-me carregar o arrependimento como um espelho que me faz encarar a mim mesmo, com meus lapsos, silenciosas covardias e arroubos de orgulho. E, ao fazê-lo, crescer na direção da coragem, da transparência e do cuidado com o agora. É nessa assimilação lenta que repousa a chave para um futuro menos marcado pela dúvida e mais iluminado pela clara vontade de viver com autenticidade.
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