terça-feira, 19 de novembro de 2024

SE PUDESSE VOLTAR ATRÁS

Quantas vezes já pôs a si próprio esta questão? Algumas, decerto. Importantes. Se pudesse voltar atrás, talvez não mudasse tudo, mas certamente passaria mais tempo naquilo de que hoje sinto falta. Lembra-se daquelas conversas que deixou pela metade? Daqueles olhares que evitou por pressa ou medo? Talvez os prolongasse, deixasse que eles durassem um momento mais, mesmo que na época isso parecesse tolice.

Eu voltaria aos dias em que o sol parecia brilhar de um jeito mais simples, em que a correria do futuro não existia ainda — porque o futuro parecia uma promessa distante e não uma conta que tem de ser paga. Abraçaria mais apertado, diria as palavras que calei, daria menos valor ao que me preocupava e mais ao que me fazia feliz.

Mas também sei que voltar atrás é um desejo enganoso. Talvez o eu de ontem não soubesse o que sei hoje, e é por isso que aquele erro parecia inevitável. Não é só o tempo que muda, somos nós. Se pudesse voltar, eu não encontraria o mesmo cenário — porque, no fundo, não é o passado que queremos mudar, é o peso que ele deixa no coração.

E mesmo assim, é curioso pensar: o que faria diferente? Seria eu mais valente? Mais leve? Ou só mais consciente? Talvez voltar atrás não seja sobre corrigir, mas sobre resgatar. Resgatar a leveza, a esperança, o olhar ingénuo que via o mundo com mais amor do que exigência.

Se pudesse voltar atrás, não corrigiria o passado, mas aprenderia a perdoá-lo. Afinal, é nele que me tornei quem sou, mesmo com as cicatrizes. E talvez seja exatamente isso: viver é aceitar que o tempo segue em frente, mas sempre deixa um pouco de nós para trás, como uma lembrança ou um aviso para o que vem a seguir.

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