Conhece aquela
sensação de quem comprou um pacote de arroz de 5 kg e, quando o abre, o pacote
vem com um aviso: “A validade é ilimitada”? Agora ele está permanentemente no
seu armário. Pois é, ter um filho que não sai de casa é mais ou menos isto.
Eles chegam pequenininhos, mal ocupam um berço, e num piscar de olhos viram
espécies raras de “filhos-adultos-acomodados” no sofá, agarrados ao computador,
com a mesma naturalidade com que se respira.
Quando bebé,
mal podemos esperar para ver o primeiro passo. No momento, décadas depois, ficamos
na expetativa de ver qualquer passo em direção à porta de saída. Mas não, eles
não vão.
E se
perguntamos: “Filho, quando é que vais arranjar um canto só para ti?”. A
resposta é tão certa quanto a falta de dinheiro na carteira: “ando a pensar
nisso, mãe, ando a pensar...”. Entretanto, o frigorífico fica vazio, mais rapidamente
do que a magia num show infantil.
Mas eles têm
sempre uma justificação original. “A economia tá difícil, pai”. “O mercado de
trabalho é selvagem, mãe”. “Meu signo diz que não é momento de mudanças”. São
argumentos tão convincentes quanto o “cachorro comeu as bolachas”, do jardim de
infância.
Aí, um dia, o
pai ousa, quase envergonhado: “Filho, se pagares a conta da luz por mês, já
ajuda”. A reação é digna de ópera dramática: “Eis que me arrancam a juventude!
A luz, ó céus, a luz, símbolo da minha liberdade, agora cobra pedágio...”! Tudo
isso, claro, enquanto assistem às séries em streaming na TV da sala,
esparramados como se o mundo acabasse ali.
No fundo, nós
até rimos (para não chorar). Porque sabemos que, um belo dia, vai surgir aquele
momento mágico, em que eles enfim partem, empacotam as meias, os posters de
banda que já se separou há dez anos e seguem rumo ao desconhecido. E, pode crer,
nesse dia, nós vamos sentir saudade. Mas até lá, que tal mais um franguinho de
churrasco, na hora do jantar? Quem sabe, assim eles saem... ou não? Mas, pelo menos, já nos divertimos a contar esta
história tão comum?
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