terça-feira, 7 de abril de 2020

Ramalho Eanes


Declaração prévia: sou amiga do casal Ramalho Eanes. Porém, a nossa amizade nasceu após a sua saída de funções. Assim só muito indiretamente essa estima terá a ver com o facto de o considerar um dos mais dignos e respeitáveis Presidentes que Portugal teve. 
E esta afirmação é muito séria, porque alguns houve - pertenço a uma geração que, para o bem ou para o mal, teve vários ao longo da vida -, que me não mereceram respeito especial e por um, direi mesmo, que não tive qualquer respeito. 
Assisti à ultima entrevista feita ao General e, confesso, senti orgulho por ter sido governada por uma pessoa com o caracter, a honestidade, o sentido de serviço e o sentido de Estado de António Ramalho Eanes. Como sempre acontece, o ditado diz que atrás - prefiro ao lado - de um grande homem está sempre uma grande mulher. É o caso. A Dra Manuela permaneceu ao lado do marido, apoiando-o e ajudando-o em crises que muitos portugueses ignoram e foram bem difíceis. Conheço algumas, mas não me compete falar delas.
Por tudo isto aconselho vivamente quem não viu a dita entrevista que tente ve-la, pois acredito que muitas pessoas poderão, como eu, ficar emocionadas com o seu conteúdo.

HSC

20 comentários:

João Menéres disse...

Ainda há dois anos, num jantar de homenagem a Vasco Graça Moura, quando me dirigi a ele para o cumprimentar, ele levantou-se da cadeira !!!...
Continuo a trata-lo por SENHOR PRESIDENTE, naturalmente.

Melhores cumprimentos.

" R y k @ r d o " disse...

Foi sem dúvida um exemplar militar e um enorme e ilustre Presidente da República Portuguesa

Tem também a minha admiração

Uma semana Santa Feliz

Virginia disse...



Conheci-o muitos anos antes de vir a ser quem é, namorou oito anos uma goesa que veio a casar com um primo direito meu. Fomos juntos a Coimbra em 1966 para um sarau da Queima e ele fez atrasar o nosso autocarro de mais duma hora pois foram-no buscar expressamente ao quartel, que nem sei onde ficava. A minha prima ia cantar e dançar na gala. Felizmente acabaram namoro pois sempre o achei um chato. Desculpe a sinceridade, mas não aprecio o espírito militar, nem seria capaz de me submeter a regimes chefiados pelos ditos. Basta-me ler Os Cus de Judas do ALA para ficar vacinada ou ver filmes americanos de guerra. Neste momento estou a ver a série de Spielberg Band of Brothers, que é excelente. O militar obedece, não escolhe, rege-se por uma ética própria que é estúpida por vezes.
Daí, o discurso do General me não tenha comovido, em especial a história do ventilador, que foi para lá de paternalista e demagógica quando todos sabemos que ele teria dez ventiladores à disposição se necessitasse deles.
Quanto A Dra Manuela é outra paternalista, encontrei-a num almoço em Chaves quando o meu marido era lá Juiz. Voltou-se para mim e comentou: Ai Chaves é uma cidade muito linda e desenvolvida. Nada de mais falso, estávamos nos anos 79. Nem havia piscinas, nem supermercados. Deu-me vontade de lhe responder: Sabe, minha senhora, antes de você morar em Belém, já eu lá morava. Pura verdade, fui viver para o Restelo em 1051 com 4 anos.
Este espírito paternalista e pseudo caridoso irritou-me. Nunca apreciei o género de casal. Nem deles, nem de outros que vieram a seguir.

Maria Isabel disse...

Eu vi e senti o mesmo orgulho.
Continua a ser um SENHOR
Maria Isabel

Anónimo disse...

Subscrevo inteiramente todas as suas palavras. Trata-se realmente de um cidadão exemplar, aliás dois, a quem ficaremos sempre a dever muito. Como a nenhum outro. A sua mulher, idem. Só espero que a saúde não lhes falte.

Helena Sacadura Cabral disse...

Virginia não acredito que numa situação semelhante não tendesse a fazer o mesmo!

Anónimo disse...

António - é nome de um grande presidente,sim sr.
JG

Anónimo disse...

O seu comentário é muito despropositado e, não tome a mal, mas também muito grosseiro.
O homem podia não servir para a sua prima, mas foi um homem digno para Portugal e muito sério.
Não ter casado com a sua prima foi uma sorte que ele teve, para não ter de a encontrar a si, com o seu ar de queque petulante edespropositada.
Os meus respeitosos cumprimentos.

Virginia disse...


Nunca me veria em tal situação. Casei com um homem que era o oposto, duma modestia e duma inteligência superiores. Vivemos em Chaves dois anos com toda a espécie de dificuldades, frio de rachar, um filho com dois anos e à espera de outra. Nunca me achei superior às minhas colegas que não tinham estudos universitários, preparávamos aulas em conjunto e organizávamos projectos muito acima do que eles estavam habituados. Por isso o casal Eanes marcou-me pela negativa. Nada tenho contra eles, mas a demagogia irrita-me. O Mário Soares , de quem não gostava nem um bocadinho nunca diria uma frase daquelas sobre os ventiladores. "Eu quero um, pois já dei ao país o suficiente para não me deixarem sufocar. O que é demais é demais". Ao menos era pao pao, queijo , queijo.

Pedro Coimbra disse...

Um estadista, um homem impoluto, que passou aqui por Macau (Comandante Militar de Coloane onde ainda existe o Largo General Ramalho Eanes).
Boa Páscoa

Teresa disse...

Eu não concordo muito e explico,se muitos idosos não cumprem a quarentena porque acham que já viveram e todos temos que morrer,essas palavras vão nesse sentido. Os ventiladores são para os novos,os velhos podem morrer. Até acredito na boa intenção dele,mas a mensagem que passa não é a melhor!

Anónimo disse...

Não existe ninguém que só tenha qualidades, ninguém que possamos ou devamos endeusar.

Ramalho Eanes, apesar de todas as suas inegáveis qualidades, tem um estilo de comunicação que, digamos, já não é aquele que os dias de hoje necessitam- também não gostei da sua afirmação, em que punha a hipótese (MUITO REMOTA) de dispensar o seu ventilador. Isso já é santidade!

De louvar todas as qualidades de Ramalho Eanes, de que destaco a HONESTIDADE, uma qualidade que podemos considerar RARA, nos nossos dias.

Mas o estilo de MARCELO é inegavelmente uma lufada de ar fresco.
Mostra-se como um ser humano, honesto também, mas não deixa de dar a ver as suas fragilidades. É único!

Anónimo disse...

Apesar do seu VALOR, uma SOLENIDADE demasiada, uma PERFEIÇÃO demasiada, não aproxima, antes afasta, porque as pessoas em geral não se conseguem identificar.
É fácil dizer que faríamos isto ou aquilo, mas não interessa falar disso, se o momento se apresentasse, fá-lo-íamos, ou não.
Porque nunca sabemos como vamos reagir- num momento de vida ou de morte, In Extremis, tudo muda.
Pessoas que dizem «nunca seria capaz de dar a outro, o meu ventilador, apenas aos meus filhos», no entanto, chega uma ocasião inesperada e, sem saber como, até dão.
Pessoas que dizem «daria a outro o meu ventilador», por este ou por aquele motivo, e chegado o momento, não conseguem dar.
Os seres humanos são complexos.

Anónimo disse...

Concordo com tudo o que a Virgínia disse, exceto quando diz que não gosta do RE. Eu até gosto, mas aquela frase do ventilador não me agradou nem um bocadinho e ainda estou um bocadito longe dessa faixa etária. Eu, se tivesse de escolher, entre um jovem ou o meu pai (ou mãe), não duvidava, é que nem um bocadinho, primeiro (sempre, irremediavelmente) os meus...

Anónimo disse...

Deixando o Senhor General em paz, é general, mas, já não é presidente!

Alguém acha que vai poder decidir a quem "oferece" o hipotético ventilador?
Aí chegado, está em paragem cardiorrespiratória e inconsciente...

Virginia disse...

Concordo plenamente com o Anónimo das 15.47.

É exactamente assim que penso. Boa Páscoa.

Fátima Costa disse...

Não ouvi a entrevista, mas julgo que o documentário passado na RTP2 no dia 8 de abril sobre a monumental Natureza da Beira Baixa ilustra a verticalidade de carater do General Eanes, pois que é de Alcains, um beirão como o meu pai.

Anónimo disse...

Subscrevo inteiramente as qualidades de Ramalho Eanes já aqui apontadas. E as de sua mulher, sobretudo as suas iniciativas e acções levadas a cabo pelo Instituto de Apoio à Criança a favor da protecção das crianças. Acrescento ainda outras qualidades que muito aprecio neles: a discrição e a sobriedade de ambos, sobretudo pelo exemplo contrastante de certo casal presidencial, posterior, extremamente "espaçoso" e imoderadamente petulante para dizer o mínimo.

De qualquer forma, estou à vontade, pois não votei em nenhum dos presidentes que tivemos, à excepção dos 2 últimos, porque a alternativa era demasiado má e foi uma escolha no mal menor. MRS não o consigo avaliar, por enquanto. Sei que retirou por completo a solenidade ao cargo e ainda não percebi se é popular ou popularucho. Dada a sua preparação e craveira intelectual, confesso que esperava mais dele. Aguardo.
Mas olhando para trás, depois de tudo o que vi e vejo, comparo, consigo relativizar e, sem dúvida, hoje reconheço que Ramalho Eanes pode ter sido o nosso melhor PR. Contudo, tendo a concordar com a Virgínia, também não aprecio o estilo militarista de Eanes. Penso que lhe falta aquele "je ne sais quoi" caloroso que dá um certo encanto pessoal e nos envolve. Mas é uma opinião pessoal, vale o que vale.
O meu pai, que foi magistrado em Moçambique e por isso vivemos na principal cidade e Centro-Militar do Norte, costumava dizer que os militares tinham um problema: é que pensavam com os galões. (sem ofensa! era uma época conturbada). Curiosamente, era eu adolescente, os pais do actual PR estreitaram uma relação muito cordial e próxima com os meus pais, uma vez que foi Baltazar Rebelo de Sousa e sua mulher, que promoveram e fizeram a aproximação entre a sociedade civil e os militares, até então de costas voltadas, na época.
Mas são apenas memórias. E esbatidas.
Gl

Fátima Costa disse...

OPela sua monumentalidade, o documentário exibido no dia 8 de abril sobre a Natureza da Beira Baixa pode ilustrar a verticalidade de carater do sr.General, pois que ele é de Alcains.

Anónimo disse...

Concentrem-se apenas na forma como o senhor disse aquilo e, obviamente, é genuíno. O Ramalho Eanes mesmo sabendo que tem 10 ventiladores ou mais disponíveis para ele também sabe que existe o testemunho vital e também nós (profissionais de saúde) respeitamos a vontade do utente e /ou da família. Chorei imenso porque não queria que o nosso país chegasse a esse ponto, mas chegando o Senhor teve uma grande ombreidade e teve a coragem de admitir algo tão irreversível.