quarta-feira, 22 de abril de 2020

A terceira vaga

Ouvi há pouco o Dr Machado Vaz falar de uma mensagem que tinha recebido e que levantava a questão de nos termos de preparar para uma "terceira vaga". No inicio não percebi bem o que iria seguir-se, porque, creio, ainda andamos a fugir da segunda e a tentar sair da primeira.
Mas, como sempre, depois veio a claríssima explicação. Se uma segunda houver ela será ainda do domínio sanitário. A terceira, essa que há-de chegar, resultará da exaustão dos profissionais de saude, situação que só compreenderá quem tenha assistido ao que se lhes tem pedido e à forma inexcedível como eles têm correspondido.
Não quero sequer falar de uma noticia que ouvi, de que eles não seriam aumentados quando toda a função publica será. Acredito que seja falsa porque, se for verdadeira, eu começo a perguntar em que país vivo. Vamos por isso, considera-la uma fake new.
Quando isto passar estes profissionais vão obrigatoriamente ter que rever a sua vida. Muitos deles não vão a casa, não vêem cônjuge e filhos há semanas. Alguém avalia o que podem ser as consequencias emocionais e psicológicas que resultam de uma tal situação? 
Vai ser necessário mobilizar psicólogos, psiquiatras e analistas para recuperar parte da população e parte dos clínicos que a trataram, ao mesmo tempo que vão ser necessários mais médicos para acompanhar  as doenças tradicionais, um pouco abandonadas pelo medo do contágio hospitalar.
Será esta a tal terceira vaga que nos cairá em cima, num período em que a situação económica e financeira constituirá, só por si, uma avalanche de ondas gigantes. É para isto que temos de nos preparar, unidos. Porque uma rotura ideológica, por mais idiota que seja, pode dar cabo de todos nós. Como dizia o filósofo, "os países não desaparecem, mas as pessoas sim"!

HSC

6 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Os meus primos, médicos, já há semanas que só comunicam com a mãe dentro do carro e nem sequer ousam visitar a avó (conversa virtual).
Esgotados física e psicologicamente continuam entregues à sua missão.

Anónimo disse...


Dra Helena
Obrigada pelas suas palavras. O estado de exaustão de muitos de nós é tal que só com fotografias conseguem visualizar o rosto daqueles de quem estão fisicamente separados.
Acredite que como médica, já com muitos anos de prática, e fora de um cenário de guerra, julguei poder alguma vez assistir a tanto cansaço.
Oxalá haja muita gente a ter a sua compreensão para com o que pode vir a seguir!

Ermelinda

Anónimo disse...

Se não for fake new, embora noticiada em todos os canais de tv, acho (detesto este verbo…), ou melhor, devemos exigir que o Governo disponha de 24 hrs para lhes processar o salário e o aumento, por ridículo que seja. Não pode haver desculpas de «erros informáticos» para estes profissionais. Deviam até usufruir de um subsídio excepcional, desde que entraram no caos e no medo. E resistiram salvando vidas.

Anónimo disse...

Doutora Ermelinda,

Não compare o que não é comparável. Esta pandemia não é um cenário de guerra, é pior. Em que cenário de guerra exerceu medicina?

Excetuando todos os que continuam a trabalhar, para aos outros nada faltar:

Os portugueses e são muitos, estão em casa, porque a tempo, perceberam o risco de um número elevado de infetados, impossível de gerir, pelo SNS e privados juntos. Os recursos serão sempre insuficientes.

Agradeço todo o esforço da vossa parte, agradeçam vocês também a todos os, que, têm tido um comportamento exemplar.
Não são só os profissionais de saúde separados das famílias.

Somos muitos a merecer aplausos.

Anónimo disse...


Caro Anónimo15:21

Exerci em África, onde o cenário de guerra, era de uma violência atroz.

Ermelinda

Ana maria disse...

Dra Helena obrigada pela sua entrevista. Continua a ser como sempre uma Mulher fascinante. Tudo de bom no seu confinamento e em relação à Lapa a dor de cotovelo... Enfim