Eu
herdei a Alice Vieira. É exactamente assim. Herdei-a do marido, o meu querido e
saudoso Mario Castrim.
O
meu laço de amizade nasceu inicialmente com o Mário e de uma forma bem curiosa.
Quando apareceu a Máxima, numa entrevista que me fizeram, eu explicava que
tinha abandonado o Banco de Portugal para fazer o que sempre quisera - escrever
- e que não pudera fazer antes, porque não era rica e precisava de trabalhar
para criar os filhos. Uma altura chegou em estes estavam encaminhados e, com
ela, a minha vez de optar por viver da escrita.
Ele
ouviu a entrevista e fez uma crónica em que me avisava que o futuro daqueles
que viviam da palavra não era muito risonho e que eu meditasse bem na opção
feita. O texto tinha o seu cunho acre, mas revelava alguma ternura por mim.
Com
a desenvoltura habitual, eu, que não o conhecia, escrevi-lhe uma longa carta na
qual lhe contava um pouco da minha vida e das minhas razões. Uns dias depois
recebi um telefonema seu a convidar-me para almoçar. Fui. A partir daí e
enquanto foi vivo, muito pouca coisa terei feito em que não ouvisse o seu
conselho.
Várias
vezes ele me disse que eu gostaria muito da Alice. Mas a ocasião não se
proporcionou. Com a sua morte, a minha amizade por ela havia de tomar
forma.
A
Alice não se pode descrever em palavras. Todas me parecem escassas para tal.
Além de possuir um profissionalismo férreo, é uma escritora e poeta de
altíssimo nível, facto que é reconhecido além fronteiras. E é uma mulher
adorável, uma amiga sem falhas, alguém que deixa uma marca naqueles que com ela
convivem.
A
juntar a todas estas qualidades, tem a gargalhada mais solta que eu conheço e
uma alegria que a faz ultrapassar todas as ratoeiras que a vida já lhe pregou.
E felizmente para ela e para todos quantos, como eu, gostam muito dela, tem
hoje na sua vida, um "outro Mário", de quem é impossível não se
gostar!
HSC
9 comentários:
🌹
É maravilhoso existirem amizades assim. Também gosto muito de Alice Vieira...faço parte da geração que devorava os seus livros infantis...e que saudades desse tempo.
Era uma vez...a Flor e a Rosa.
Sara
Também eu sou fã.
Só a conheço dos livros que li em criança numa biblioteca perto da minha escola (em Bragança), onde me refugiava em dias chuvosos enquanto esperava o autocarro. Havia lá uma senhora bibliotecária que não nos deixava ler os livros que queríamos, sem antes ler os que ela nos recomendava, na altura torcia o nariz a tal prepotência, mas hoje agradeço-lhe do fundo do coração, pois foi pelas mãos dela que conheci livros que ainda hoje recordo. A Alice era uma das suas (hoje minhas) escritoras de eleição.
Bom dia Helena!
Está muito bonita, existem pessoas que tem uma áurea especial, a Alice como a descreve deve ser uma delas.
Carla
Anónimo das 12:53
Não percebi o seu comentário sobre o AZIMUTE...
Pode explicar?
Obrigada n391111
" Não sei por que sorri de repente,e um gosto de estrela me veio na boca."
Mário Quintana
:-)
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