domingo, 8 de março de 2015

A velha e a nova aristocracia


Parece haver dois tipos diferentes de "aristocracia". O primeiro está mais ligado à ostentação de símbolos  aos quais só alguns têm acesso, mais pelo sangue do que pelo dinheiro. Este será assim condição necessária mas não suficiente.
A necessidade de ostentação, ao contrário do usufruto discreto dos bens, resulta do insuficiente prazer de ter ou de ser . De facto, o prazer de exibir o que se tem ou o que se é, aparecem como valores relativos que estão condicionados à comparação com o que outros têm e são.
Por um lado, o valor da nossa riqueza depende do valor da riqueza dos outros. E por outro lado, a riqueza precisa sempre dum público, que estimula a vaidade pessoal e se alimenta da inveja dos outros.
A "verdadeira aristocracia" do passado foi substituída por uma classe média alta com o mesmo comportamento ostentatório da velha classe, mas que necessita de se demarcar daquela que tem a mesma origem, mas lhe está abaixo. O que faz através dos tais sinais exteriores que, em simultâneo, alimentam a vaidade própria e a inveja alheia.
Já a "outra aristocracia", é bem diferente. Assume-se como uma classe superior. Mas ao invés da aristocracia que reduz os outros ao mimetismo da sua imagem, vai possibilitar que a partir dessa imagem transmitida - nos valores, na educação, na cultura, no bom gosto – seja possível “avaliar” os outros.
No fundo é o mesmo que se passa com o professor que por se encontrar numa posição superior face ao aluno, o pode avaliar,  mas que, por essa mesma razão, também lhe pode servir de modelo e referência.
Nesta óptica o aristocrata pode ser rico mas não vive para ostentar a sua riqueza. É evidente que, pelo facto de ela existir, dificilmente será ocultada. Mas ser rico não implica a necessidade de exibição.
Esta aristocracia, ao contrário da anterior, pode até desempenhar um papel estimulante para a sociedade, ao representar uma classe que funciona como reserva moral, cultural, estética e até civilizacional, contrapondo o seu natural conservadorismo às ideias que vão surgindo, e que como uma espécie combustível alimentam o fluxo histórico nos dois sentidos.

HSC 

Nota: Este post foi muito influenciado pelo que, sobre um tema semelhante, escreveu José Ricardo Costa em http://ponteirosparados.blogspot.pt/2015/03/aristocracias.html

3 comentários:

Anónimo disse...

Apenas acrescento que a verdadeira aristocracia não é a dos ricos conservadores dos bons costumes - a classe superior. Qualquer um pode ser modelo de outrém, um verdadeiro aristocrata, ou, se quiser, um ser superior. Não o pode ser sempre porque é homem. Mas pode tentar ser superior na maioria das vezes. Esta é, para mim, a verdadeira aristocracia. Democrática e acessível ao esforço de qualquer homem.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 15:31
Neste caso julgo que tem razão pelo que dei seguimento à sua sugestão.

Anónimo disse...

humanidade que não tem nas arterias o famoso sangue normando, esse sangue invejado,
mais precioso que o de Christo, cantado por todos os poetas da côrte, e que foi
importado pelos brutamontes cobertos de ferro, e pelludos como féras, que
acompanhavam a estas ilhas Guilherme da Normandia; é emfim a humanidade que
Carlos Stuart, o Bem-amado, chamava a canalha, e que o grande sacerdote da Bella