Quinta feira almocei com o meu neto André - um homem com 20 anos -, na minha casa e sexta fomos jantar fora e ao cinema. Sempre os dois sozinhos que, confesso, é como eu gosto. Preciso muitos destes silêncios cúmplices que já tive com o pai deles e hoje tenho com este. Com o Frederico - recuso-me a chamar-lhe Fred - a nossa intimidade é diferente. No fundo, afinal, trata-se de uma repetição do que já acontecia com os meus filhos. Do mais velho sabia quase tudo sem nada indagar. Do mais novo só sei aquilo que perguntar.
Jantámos bem e fomos ver a Gaiola Dourada. O filme não sendo bom, vê-se com prazer. E tem uma representação soberba de Rita Blanco que jamais me desilude nesse retrato da emigração do meu tempo, que é, já, diferente daquela que o André conheceu em Bruxelas. Portanto, a foto era mais fiel para mim do que para ele.
Depois falámos bastante sobre a saída dos jovens. Quando eu tinha 20 anos só queria ter um curso e trabalhar. Ele quer o curso, quer trabalhar - já trabalha ao fim de semana - mas não tem qualquer ansiedade por fazer uma carreira. Quer dedicar-se a coisas várias e mais do que acabar os estudos em cinco anos, com mestrado, quer é viver experiências que o enriqueçam. Por instantes, lembrei-me do Miguel com a mesma idade! Só que, nessa época, eu reagi tentando convence-lo da importância de uma vida profissional. Agora oiço e até compreendo. Afinal, somos nós que temos de escolher em que gaiolas nos vamos querer meter...
HSC
16 comentários:
"Do mais velho sabia quase tudo sem nada indagar. Do mais novo só sei aquilo que perguntar". Do seu texto, que adorei, fixei-me nas suas frases acima. Pois é, ambos teriam tido uma educação dentro dos mesmos princípios, mas a verdade é que cada um nasce com a sua génese. Conheço dois irmãos, já homens, em que um é um belíssimo administrador dos seus bens, enquanto o outro não consegue guardar uma nota de 5 Eu.
Um abraço, Dra. HSC.
Eu ainda não vi o filme, mas gosto bastante de ver séries ou filmes que retratem aquilo porque já alguém passou "históricos, qui çá".
Mas com efeito, há que fazer escolhas. Quando eu estava no 2º ano da faculdade a minha mãe foi submetida a uma delicada cirurgia à coluna vertebral. Sem nada lhe dizer,decidi ficar esse ano letivo (Novembro em diante) em casa a cuidar dela e ía a aulas que não tivessem nenhuma outra de seguida. Duas horas e vinha... mantive-me a trabalhar mas quase não ia às aulas. No fim do ano, quando tive de explicar o motivo de tamanha reprovação (nesse ano só fiz uma disciplina) fartou-se de me ralhar, porque prejudiquei a minha vida, mas não adiantava: no momento sentia que era o que tinha de fazer, sem contar que acordava de madrugada para que tomasse a medicação a horas. E, às aulas que ia de nada valia, já que não conseguia concentrar-me (tentava compensar com mais horas de estudo autónomo mas ainda foi "pior a emenda que o soneto" porque noites mal dormidas... assistência a minha mãe, tomar o comando da casa, redobrar as horas de estudo desembocaram num esgotamento que me provocou um bom susto porque, mesmo deitada as tonturas não passavam e não me aguentava de pé, a capacidade de memorização também se ressentiu um pouco. Mas estou certa que fiz pela minha mãe o que tinha a fazer. Não acabei o curso no tempo previsto mas tornei-me uma mulher muito mais madura e atenta ao sofrimento dos outros e isso nenhuma faculdade ensina.
Um beijinho
Vânia
Coincidência engraçada essa das personalidades dos filhos e netos e dum filme que tb ontem foi falado aqui em minha casa.
O meu filho João é transparente, decidido e extrovertido. O mais novo, o Zé é um cofre forte, cuja chave só ele possui. Pelo meio uma rapariga que não esconde os seus sentimentos, mas nunca exterioriza demais as suas emoções...
Ontem o meu filho e nora foram a Lagos ver esse filme. Adoraram...eles que viveram sete anos na Alemanha, onde o meu filho fez parte do curso de engenharia e a minha nora um MBA.
Eu não estou muito convencida a ir ver o filme, embora goste muito da Rita Blanco, que já deu provas de ser um actriz impar. Pode ser que estando no Porto com saudades de férias me dê para o ver...
Continuação de boas férias lisboetas:)
Também tinha essas idas ao cinema com omeu filho mais novo quando ele andava pelos 12 anos, e também só sei o que ele quer contar. o outro filho nunca me acompanhou,mas era e é,mais aberto.Só comento porque vejo algumas analogias, e achei engraçado.
Fátima Freitas
Nós todos temos cinco dedos na mão e nenhum é igual...e o mesmo acontece com os filhos e netos. Por vezes e comigo acontece imensa vezes, relembro gestos, pensares, brincadeiras, conversas que já tinha esquecido que tinha tido com as filhos na vivência com os netos.
A vida é feita de ciclos, pode haver imensas coincidências gerecionais, mas hoje eles têm uma visão diferente do mundo, como nós tivemos em relação aos nosso pais e como avós...até nos surpreendemos como os compreendemos tão bem:)
Gostei muito do filme e do texto também...
abraço
Gostei bastante do filme porque, sem ser pretencioso, é divertido... Saí bem disposta!
Gostei muito do seu texto, principalmente do primeiro paragráfo porque era essa a cumplicidade que tive com os meus avós maternos, talvez porque fui neta única durante vários anos e adorava passar as férias grandes sózinha com eles... os meus primos nunca fizeram esses programas. Nem sabem o que perderam!
Beijinho para si,
Isabel BP
Cara Helena: o filme não terá nenhum Óscar, mas é uma montra caricatural, simpática e carinhosa, de um mundo fantástico e heróico, que eu tive o privilégio de cruzar na minha vida. A emigração para a Europa, vista por muitos com algum paternalismo e sobranceira distância, é uma experiência única e da qual Portugal deveria ter um grande orgulho. E da qual deveria ter uma imensa vergonha, por ter obrigado gerações a sair daqui.
Só a propósito das gaiolas em que nos metemos :
Mas umas têm uma portinhola e outras não...
Melhores cumprimentos.
Que bom, querida Helena!
Concordo com o neto da HSC, sobretudo nos tempos que correm em que pessoas muitissimo habilitadas caem no desemprego- ou no subemprego- a torto e a direito.
Aqui onde vivo, por exemplo, o rapaz do bar tem um mestrado em filosofia e uma das meninas que trabalha part-time num supermecado acabou um doutoramento em fisica numa das melhores universidades do mundo.
L.L.
Meu caro Francisco tem razão. Uma das nossos facetas piores é a incapacidade de dar valor, por mera razão ideológica, ao que fazemos ou somos obrigados a fazer.
Só quem passa por ela sabe avaliar a dor imensa de ver crescer e deixar - quando regressamos -, os nossos filhos na terra para onde fomos.
Meu caro João Menéres
Hum! Todas as gaiolas têm uma porta por onde se entra,
O problema reside naquelas que só se abrem por fora...
:-))
PS Venham os oitenta. E venham mais vinte. Com tudo a funcionar!
Que bom ter esse lindo neto que a ajuda a reviver momentos maravilhos.
O filme é optimo, retrata não apenas os nossos emigrantes como consegue fazer o retrato (muito real) de como certa classe de franceses olham para a emigração (uma das coisa que fiz durante 3 anos foi ser professora dos filhos dos emigrantes na região de Paris), emocionei-me muito.
Obrigada por este post.
Um forte abraço, lb/zia
Fui ontem ver o filme e apesar de nao ser um filme a não perder,gostei. Não vi razão para tanto riso que na sala ouvi.pareceu-me um filme sério embora divertido.Nunca fui emigrante nem ninguem da minha família, mas lembro-me muito bem da ajuda que os meus pais deram a muita gente a emigrar.Todos pediam para ajudar as famílias que ficavam. Para lhes escrever e ler as cartas.Alguns, hoje bastante idosos que voltaram, uma vez que os meus pais já cá não estão continuam a agradecer, agora a nós, os filhos, por tudo que "os paizinhos fizeram".A emigração de hoje é bem diferente. Talvez os mais jovens só perceberam a parte divertida
Origado pelos amáveis votos, HSC.
Vamos a ver...
Melhores cumprimentos.
Enviar um comentário