Nas páginas amareladas da memória, guardo o retrato desbotado de um amor. Era verão em Lisboa, e o Tejo
refletia no brilho dos teus olhos,
a promessa de calor.
Caminhávamos de mãos dadas pelas ruas, de Alfama ao Chiado, sem destino ou razão. O fado soava em cada esquina, como se cantasse a melodia do nosso coração.
Mas o tempo, implacável em sua marcha, levou-te para longe, além do meu alcance. Restaram-me as saudades, essa doce
tortura e a esperança vã de um
novo romance.
Agora, sentado à beira do cais das colunas, vejo os barcos partirem, levando sonhos pelo mar. E
penso em ti, amor que foi embora, deixando em meu peito um eterno lugar.
Saudades, palavra que só a nossa língua conhece, descreve a falta que me fazes, amor antigo. E em
cada pôr do sol que o horizonte tece, envio ao vento o meu sussurro amigo.
Volta, nem que seja em pensamento, nas noites em que a solidão aperta. Pois mesmo que o tempo nos tenha separado,
em minha alma, por ti, a porta
está sempre aberta.
Esse amor passado, que habita as lembranças, era feito de momentos simples, mas profundos. Não havia juras eternas nem grandes esperanças, apenas a verdade nua em segundos.
Era um amor de verão, intenso e fugaz, como a brisa que acaricia e depois se vai. Não deixou promessas, nem olhares
para trás, apenas a saudade que
dentro de mim cai.
Falávamos a língua dos gestos, não de palavras. E cada toque dizia mais do
que mil versos. Mas como folhas que o outono desgarra, o nosso amor perdeu-se no universo.
Hoje, resta o eco daquela risada, o calor daquela tarde à beira-mar. Esse amor passado é, agora, uma estrada que se pode recordar, mas não caminhar.
E assim, entre o sonho e a realidade, vivo com a doce dor da nostalgia. Esse amor passado é saudade, uma chama que arde, mas que alumia.
1 comentário:
Admiro os casais que, percebendo que não podem permanecer juntos, mantêm uma relação de amizade e cumplicidade.
Cortes radicais só mesmo em situações muito extremas.
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