A conversa versou, uma vez mais, sobre a actual situação económica. E foi de grande utilidade perceber que a situação que, anos antes, juntara os dois primeiros nomes citados - um no Banco de Portugal e o outro no Ministério das Finanças - era, afinal, bem diferente daquela que agora enfrentamos. Porque, antes, o Governador do Banco Central dispunha de meios de intervenção que hoje não possui. A análise de Silva Lopes do actual quadro económico e financeiro não se afasta do que aqui tem sido levantado, mostrando que estamos bem longe de ser arautos da desgraça, porque ela até nos suplanta.
Os portugueses gastam, há muito, mais do que produzem e ainda não acordaram para essa realidade. A produtividade nacional é baixa e, ou nos preparamos para"viver pior", por iniciativa própria, ou seremos externamente obrigados a isso. Na lista dos quatro piores países europeus, Portugal está já em segundo lugar, logo a seguir à Grécia. A Espanha - um mercado importante para nós - está em terceiro e a Irlanda, que tomou medidas duríssimas, já vem em quarto.
A opinião generalizada foi a de que o Orçamento, aprovado há dias, é manifestamente insuficiente para resolver os problemas que enfrentamos.
Ou o PEC - que nunca mais é apresentado - põe alguma ordem no caos que pode surgir, ou corremos o risco de vir a não ter dinheiro para pagar salários e pensões. Basta que os mercados deixem de no-lo emprestar.
Enfim, para já seria preciso, no mínimo, até 20013, cortar mais de 5% na despesa (salários, pensões e subvenções sociais, etc) e preparar o aumento de impostos. Que, não se enganem, vem aí. Só com estas duas medidas em simultâneo poderemos ter alguma chance.
Se nenhuma delas for tomada de motu próprio, elas vão-nos ser "impostas", ou pela Comissão ou pelo FMI. Aliás, tarde demais porque, finalmente, alguém teve a coragem de referir as responsabilidades que a Comissão Europeia também tem em tudo isto, quando deixou passar, sem forte intervenção, o enquadramento em que, nos últimos anos, viveram os quatro países agora ameaçados.
HSC
8 comentários:
Também vejo desde a 1ª emissão... e se perco algum vejo na net!
Agora aproveito para brincar: Escreve a Helena (por lapso) "...para já seria preciso, no mínimo, até 20013, cortar mais de 5%...", brinco Eu, que por certo será só mesmo em 20013, isto se ainda existir a espécie humana, e este território... porque em 2013 não vai ser de certeza... e se por acaso for é aldrabado!
Cara Srª Drª Helena,
Aprecio muito e leio desde o inicio (ou quse, ok...) o seu blog, que acho excelente, pela clareza e 'desempoeiramento', pela formação e 'experiência' superior que a Srª tem.
Sou daqueles que dizem que os anos trazem experiência, antes desta moda 'americanizada' dos yuppies acharem que depois dos 40 somos pó para a prateleira.
Bom, resumindo, apenas uma questão, que a Srª Drª talvez consiga, efectivamente, elucidar:
Um trabalhador comum trabalha até aos 65 anos (H)ou 62? (S).
Os politicos e gestores da 'cousa pública' são reformados várias vezes, pelos vários lugares por onde vão passando (comissões, BP, AR, etc., etc.
Uma 'perguntinha' apenas:
Imaginando que todas estas pessoas se reformariam apenas aos 65 anos (ou 40, 45 anos de descontos...) quanto se pouparia aos cofres do Estado anualmente?
Esqueçamos as %, falemos mesmo de M€.
É que custa um pouco levantar-me às 4 da manhã diariamente, para enfrentar o trânsito de Luanda (sou mais um dos novos-emigrantes, assumido), passar horas no trânsito, etc, etc (Africa é divinal, mas muito, muito dura, sem qq conotações perjorativas) e depois, ao final do dia, ver o Engº Mira Amaral, que está reformado pela CGD, com 15.000 (sim, quinze mil € mensais, provavelmente X 14 meses), sair do seu carro de luxo, com que se desloca por aqui, claro com motorista, e entrar no Hotel Trópico, onde a diária mais baixa passa dos 300€ dia, e auferir, seguramente, de um excelente salário como PDG do Banco BIC em Portugal.
É que se o Sr. fosse presidente, sei lá, da Nestlé em Portugal, ou da Mota Engil, OK, teríamos inveja, mas enfim.
Agora entre Bancos? que é feito do período de nojo? Concorrentes?
Bem sei que ele já argumentou que era mesmo assim, tinha um acordo, 'entrava pelo escalão lá do topo' agora perguntemos ao contrário:
O Eng.º Mira Amaral contrata uma secretária para sua assistente.
Ao fim de menos de 2 anos, dispensava-a, mas tinha de lhe pagar uma pensão vitalicia embora, provavelmente, mais modesta, claro). No dia seguinte, a Sr.ª em causa ia secretariar o seu mais directo concorrente, ou um concorrente qq.
O que sentiria o Sr. em causa?
O texto vai longo, mas formulo novamente a questão:
Consegue a Drª Helena S. C. ter uma estimativa aproximada das centenas de milhões de € que um estado fabulosamente rico como Portugal assume por ano com estas pensões de 'sobrevivência'?
Grato,
Joaquim Vieira
Luanda - Angola
Voz a 0 db não fui eu que disse. Foram eles. Eu até nem acredito que chegue...veja lá o meu desespero!
Julgo que só mesmo com um milagre -descobrir-se petróleo na nossa costa, por exemplo - é que não desapareceremos!
Joaquim como eu o entendo. Todos os dias quando, às 8 da manhã, me sento à secretária pergunto porque é que não tenho uma reforma como agora têm os que se aposentam do Banco de Portugal...
É que a reforma que tenho de lá é inferior à que teria se tivesse trabalhado no Estado.
E como não pretendo viver se não à minha custa, sei o que dói. Às vezes são 12 horas seguidas. Logo, compreendo muito bem o seu lamento e uno a minha voz à sua.
Porque sei que é duro, injusto e intolerável o que me descreve.
Por isso é que sou uma descrente da política!
Caríssima... Eu também não disse que foi você que disse...
Apenas estava a brincar com o facto de a Cara Helena ter escrito 20013 e não 2013...
Abraço
E Continue... E já agora também não acredito que isto assim lá vá...
Quem passa no meu "sítio" pelo menos não se pode queixar de falta de aviso!
Bom dia.
Não queria ser repetitiva, mas este blog é sem dúvida uma lufada de ar fresco e puro o que é escasso neste poluido ambiente em que adormecemos e acordamos.
Bem haja .
E com tanta qualidade só pode atrair qualidade. Diametralmente oposto acontece o mesmo nos blog´s por onde passei também e que referiu, por certo, a Fada do Bosque.
Não é portanto com surpresa total que me deparo com o que escreveu o Sr. Joaquim Vieira e que inumeras são as vezes que dou comigo a pensar o mesmo,pese embora não ser tão bem descrito :-)
Para quem luta numa empresa familiar carregada de impostos e com umas tantas familias que dependem do salário que daqui levam, a vida é uma tortura que não se vislumbra felicidade.
Enfim, cá vamos nós na caravana dos acontecimentos e a transpirar para levar a vida...e as vidas...
A. Malheiro
Ó Voz a 0 db, agora é que me apanhou desprevenida. A situação anda a tornar-me lerda. Reajo ao ralenti!
Eu sei que temos avisado - vou com frequência ao seu "tempo que chegou" - mas parece que os nossos políticos têm medo de falar verdade. E nós somos os arautos da desgraça.
Houve até um ministro que disse, há uns meses, que já tinhamos saído da recessão...
Não há salvação enquanto estivermos na UE.
O que me impressiona neste momento é começarem a aparecer coveiros do tempo de Guterração como o Dr. Pina Moura.
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