domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os deuses andam zangados

O fim de semana foi épico. Na sexta feira o jantar de aniversário da Rita, para além de excelente, proporcionou uma noite agradabilíssima de convívio. No fim do serão, começou a risada, que soube muito bem nesta semana triste que passou. À vinda, o vento já uivava no presságio do temporal que iria assolar-nos.
Sábado de manhã, quando ainda as televisões quase só falavam da Madeira, nova e violentíssima catástrofe. Desta vez no Chile. Pontes, estradas, casas, um terrível rasto de destruição. Dramático, pela violência!
A tarde, passei-a num motu contínuo, a fechar persianas. Que, no último andar em que vivo, mais pareciam o decor de filme de terror. Um desatino, um vai e vem, um senta levanta, sem direito a descanso, mas em que consegui, mesmo assim, deitar abaixo cinco jornais.
À noite, finalmente, estirei-me no sofá e, qual madame Recamier, ouvi o Plano Inclinado. Desta vez, o convidado era Rui Moreira, um homem de quem gosto muito e que conhece o nosso tecido empresarial como poucos. Depois li as revistas estrangeiras e fui para a cama com a estranha sensação de que o que se passara no Chile podia ter acontecido connosco...
Hoje, finalmente relaxei. O vento parou e a chuva tornou. Nada como ir almoçar e ao cinema com o meu neto André. Ando, mesmo, a aproveitar o tempo em que ainda o tenho por cá.
O filme, " Um homem sério", dos irmãos Cohen, é uma comédia dramática, bem feita, mas pesada, pelo menos para o meu estado de espírito.
Ao fim do dia já não aceitei o convite filial para nova sessão cinematográfica. Tantas e tão más notícias nesta semana, deram quase cabo da minha proverbial boa disposição. Estou estafada e com, pelo menos, mais dez anos em cima...
HSC


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Dois maus exemplos!

Um exemplo:
Leio nos jornais que o Estado não paga aos dentistas dezenas de milhares de euros que lhes deve, ao abrigo do plano "cheque dentista", tão propagandeado pelo governo anterior. Dá-se, assim, um mau exemplo a todos aqueles que se esforçam por manter as suas obrigações financeiras e fiscais em dia e e fomenta-se o descrédito de quem governa.
Só quando o Estado for obrigado, de facto, a pagar juros pelos seus incumprimentos é que tem autoridade para exigir dos portugueses aquilo que ele próprio não cumpre.
Outro exemplo:
Oiço, na televisão, que a um pedido - mais do que justo - do Bloco de Esquerda, para que fosse tornada pública a lista do que cada ministério paga em publicidade, a resposta do ministro responsável terá sido a de que isso não era possível, porque tais dados não eram registados.
A esta afirmação só me apetece perguntar "como é que estes elementos não são registados, se é o dinheiro dos contribuintes que os paga?!". Pois então, em nome da transparência tão apregoada, passem a registá-los. E, já agora, a divulgá-los.
HSC


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A minha amiga Rita

A minha amiga Rita Ferro faz anos, hoje, sexta feira. Quando pretendo explicar a alguém o que nos une, não sei fazê-lo. Fico sempre embaralhada porque as minhas respostas, as minhas razões são, afinal, uma parca aproximação do laço que nos une.
A Rita tem um coração imenso. Em tudo, é uma mulher transbordante. No amor como na amizade. Dotada de um espírito crítico fortíssimo, sobre si e sobre os outros, é o humor que melhor serve as análises que faz. Vivíssima, brilhante na pena, feroz na defesa daquilo em que acredita, o saldo da sua vida, garanto-vos, é abundantemente positivo. É das mulheres mais cultas e fascinantes que conheço e de cada vez que estou com ela, mais nítido se torna este facto.
Não somos da mesma geração, não pensamos da mesma forma, não funcionamos com os mesmos relógios, não moramos perto, nem sempre apreciamos as mesmas coisas, mas conseguimos a proeza de gostar muitíssimo uma da outra. E, surpresa, até temos amigos comuns, que não disputamos, porque são tão bons que chegam amplamente para as duas.
Como diz o anúncio, se eu não tivesse conhecido a minha querida amiga Rita Ferro, vivia com certeza. Mas não seria certamente a mesma coisa!
Parabéns, amiga!
HSC

De registar e de louvar

Volto ao tema Madeira. Impossível não deixar aqui um registo de comoção pela forma exemplar como os portugueses e, em particular os madeirenses, deitaram mãos à obra de reconstruir a sua terra. Há muito tempo que me não sentia tão orgulhosa de ter nascido em Portugal, que mostra saber, como ninguém, ser solidário na aflição.
E deve registar-se, também, a forma como os políticos, esquecendo divergências, se aliaram em torno dos que precisavam. Se Alberto João Jardim merece palmas, devemos dá-las também ao governo e às oposições que se uniram à volta daqueles que, depois de tudo perder, se impunha sentissem que não tinham sido esquecidos.
A Madeira foi e vai ser um grato símbolo de união nacional. E também um exemplo para o mundo que tem os olhos postos em nós e vê que, quando é preciso, somos capazes!
Pena é que só a desgraça nos una e o duro quotidiano, por norma, nos afaste...

HSC

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Devagarinho

Os elementos estatísticos do Banco de Portugal, tornados públicos no seu Boletim Trimestral, revelam que o valor do crédito concedido às famílias, mas de cobrança duvidosa, diminuiu de Novembro para Dezembro em 166 milhões de euros. Este valor é, ainda, cerca de 22% superior ao alcançado no final de 2008. Mas prova que as famílias, assustadas, estão a tentar poupar e a respeitar melhor os seus compromissos bancários.
A poupança dos agregados familiares está a aumentar, tendo os depósitos dos particulares crescido mais de mil milhões de euros no mesmo período de Novembro a Dezembro, o que significa uma expansão, em termos percentuais, de 0,9.
Evidentemente que é cedo para se tirarem destes números quaisquer conclusões. Mas pode ser um indício de que, finalmente, os portugueses tenham começado a dar-se conta de que é preciso abandonar um certo estilo de vida.
Claro que não existindo investimento, uma contracção do consumo pode piorar a situação. Porém, se houver imaginação para atrair poupanças e com elas se desenvolverem projectos cuja componente essencial seja a mão de obra, poderemos estar a contribuir para resolver o problema do desemprego e, ao mesmo tempo, a tornarmos útil à sociedade as poupanças tão duramente conseguidas!

HSC

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A nossa Madeira

Acabo de chegar dos estúdios da SIC onde vou todas as segundas feiras comentar um tema. Hoje foi impossível não falar do que nos aconteceu na Madeira. E uso o plural porque ninguém pode ficar indiferente à calamidade que por lá passou. A esta hora em que escrevo, teme-se um alerta vermelho que pode significar novos riscos.
Com crise ou sem ela é necessário ajudar quem ficou sem nada. No programa, lancei um apelo. Após o 25 de Abril os portugueses deram um dia de trabalho para ajudar o país. Não sei bem o que aconteceu a esse dinheiro porque nunca dele foram prestadas contas...
O que agora sugiro é que se abra uma subscrição nacional, entregue a gente de bem - Isabel Jonet, por exemplo, do Banco Alimentar - que distribua o que se conseguir reunir, a fim de minorar, no imediato, as carências de quem tudo perdeu. Mas é fundamental que tenhamos a certeza de que tudo será bem aplicado e não sirva de oportunidade para um qualquer aproveitamento político.
Por mim já decidi que tudo farei para ajudar os madeirenses. A primeira medida vai ser passar no Funchal metade das minhas férias. Que tal, todos os que possam, fazerem o mesmo, em lugar de ir para o Brasil ou para as Caraíbas?

HSC

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O fim de uma saga

Leio, com algum atraso, que Patrick Kennedy não voltará a concorrer a deputado federal, retirando-se, assim, da actividade que sempre o ocupou.
Depois desta saída e de nenhum outro membro do clã se ter candidatado ao lugar deixado vago pela morte, no final do verão, de seu pai Ted Kennedy, é a primeira vez, em sessenta anos, que a "marca" familiar não estará na primeira fila da vida política em Washington.
Pesem embora problemas de adição e do foro psiquiátrico, Patrick conseguira, em 1994, tornar-se membro da Camara Baixa. Porém, sem a presença paterna, o congressista de 42 anos de idade, declarou que o trabalho parlamentar deixara de o motivar.
De facto, num vídeo de despedida, afirmou: "o meu pai inculcou-me um profundo compromisso de serviço público. Agora, depois de dedicar duas décadas à política, a minha vida vai tomar uma outra direcção".
Apesar de o deputado por Rhode Island nunca ter tido que enfrentar grandes dificuldades nas oito renovações do seu mandato, o certo é que as próximas eleições fazem adivinhar luta renhida para substituir o lendário Camelot. O retrocesso verificado, há quatro meses, quando o Massachusetts entregou ao republicano Scott Brown, o lugar que durante quarenta anos Ted ocupara, levou Patrick a queixar-se, com amargura, dessa derrota. Que, para ele, punha em evidência a indisciplina do Partido Democrata que não soubera tornar realidade a reforma da saúde preconizada por Obama.
Parece, assim, terminar a saga desta família, cuja história se mistura com a do próprio país no útimo meio século!

HSC

Plano Inclinado

Sempre que tenho possibilidade, vejo o programa Plano Inclinado, na SIC Notícias. O de ontem foi particularmente interessante, porque juntou um painel de luxo onde Silva Lopes ombreava com Medina Carreira e João Duque, rivalizando com o da semana anterior, em que João Salgueiro também me surpreendera, como aqui referi.
A conversa versou, uma vez mais, sobre a actual situação económica. E foi de grande utilidade perceber que a situação que, anos antes, juntara os dois primeiros nomes citados - um no Banco de Portugal e o outro no Ministério das Finanças - era, afinal, bem diferente daquela que agora enfrentamos. Porque, antes, o Governador do Banco Central dispunha de meios de intervenção que hoje não possui. A análise de Silva Lopes do actual quadro económico e financeiro não se afasta do que aqui tem sido levantado, mostrando que estamos bem longe de ser arautos da desgraça, porque ela até nos suplanta.
Os portugueses gastam, há muito, mais do que produzem e ainda não acordaram para essa realidade. A produtividade nacional é baixa e, ou nos preparamos para"viver pior", por iniciativa própria, ou seremos externamente obrigados a isso. Na lista dos quatro piores países europeus, Portugal está já em segundo lugar, logo a seguir à Grécia. A Espanha - um mercado importante para nós - está em terceiro e a Irlanda, que tomou medidas duríssimas, já vem em quarto.
A opinião generalizada foi a de que o Orçamento, aprovado há dias, é manifestamente insuficiente para resolver os problemas que enfrentamos.
Ou o PEC - que nunca mais é apresentado - põe alguma ordem no caos que pode surgir, ou corremos o risco de vir a não ter dinheiro para pagar salários e pensões. Basta que os mercados deixem de no-lo emprestar.
Enfim, para já seria preciso, no mínimo, até 20013, cortar mais de 5% na despesa (salários, pensões e subvenções sociais, etc) e preparar o aumento de impostos. Que, não se enganem, vem aí. Só com estas duas medidas em simultâneo poderemos ter alguma chance.
Se nenhuma delas for tomada de motu próprio, elas vão-nos ser "impostas", ou pela Comissão ou pelo FMI. Aliás, tarde demais porque, finalmente, alguém teve a coragem de referir as responsabilidades que a Comissão Europeia também tem em tudo isto, quando deixou passar, sem forte intervenção, o enquadramento em que, nos últimos anos, viveram os quatro países agora ameaçados.

HSC

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Até quando?

Tenho evitado, a todo o custo, neste blogue, escrever sobre a convulsão política que, nos últimos meses, vem assolando o país. O ar está quase irrespirável e os noticiários não se ocupam de mais nada que não seja Freeport, Face Oculta, TVI, PT, BCP, BPN, BPP, enfim, um rol de siglas e de "estórias" tristes, que afastam governo e oposições da tarefa essencial de ajudar Portugal a recuperar o respeito por si próprio e a fazer-se respeitar pelos outros.
Detesto julgamentos em praça pública, não aprecio ver o PGR falar demasiadas vezes, não sei o que entre nós significa segredo de justiça, não gosto de ver o Presidente do STJ desdizer o PGR, enfim, do meu ponto de vista, começa a ser demasiado incómodo e preocupante para os portugueses assistir a esta forma "achincalhante" de fazer política.
Ninguém ganha com o que se está a passar. Nem interna nem externamente. Se a nossa democracia fosse real, nada disto seria possível. O que estes acontecimentos provam é que estamos longe de viver no regime pelo qual lutámos. E isso, confesso, explica muito da nossa falta de empenho, da nossa descrença, da nossa falta de ética e da nossa fraca exigência.
Até quando, pergunto eu, vamos tolerar o estado do nosso Estado?

HSC

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A pior faceta do desemprego

Os dados estatísticos mais recentes vêm comprovar algo preocupante. O desemprego aumentou e a faixa dos jovens até aos vinte e quatro anos continua a ser duramente posta à prova. A juntar à falta de trabalho, acentuou-se precariedade, o desemprego é mais duradouro e os salários líquidos diminuiram, em particular na região de Lisboa. Uma das consequências de tudo isto é o número cada vez mais elevado de pessoas activas que vivem de apoios sociais como recurso de subsistência.
Os dados do INE agora divulgados mostram que o desemprego no quarto trimestre ultrapassou a barreira dos 10% da população activa, o que atira a média anual de 2009 para mais de 9,5%. Ou seja, cerca de 530 mil pessoas.
Mas o mais preocupante é que nesse último trimestre o número de pessoas dependentes do Estado rondava os 578 mil. Se a isto acrescentarmos os dois milhões de reformados, fica-se com uma ideia dos encargos que o país suporta com pessoas inactivas. Em termos grosseiros, isto quer dizer que um quarto da sua actual população não produz nada.
Ora se em momento de crise, esta dependência tem justificação, o certo é que ela também aumenta a pressão sobre as contas públicas que nos comprometemos a sanear até 2013, tornando a gestão do que temos num verdadeiro calvário.
Revelando, em simultâneo, que o lado pior do desemprego não é o económico, mas sim o social. E este não pode deixar de constituir a preocupação dominante nas políticas que forem escolhidas. Como conciliar tudo, é que será o grande desafio. Do governo. Mas também da oposição.

HSC

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnavais...

Confesso que não gosto do Carnaval. Em pequena, a minha mãe nunca permitiu que eu me mascarasse. Para compensar, deixou-me, na idade própria, ir a uns "assaltos", desde que fosse acompanhada do irmão mais velho ou de alguém em quem confiasse.
Felizmente que os meus infantes nunca lhe deram grande importância e os netos foram pelo mesmo caminho. Porque me seria, de facto, muito difícil passear meninos disfarçados de Capitão Gancho ou de Robin dos Bosques...
Este ano, com chuva e um frio de rachar, a bizarria do entrudo nacional chegou ao cúmulo de pôr umas criaturas quase nuas, a tiritar sob temperaturas que deviam rondar os cinco ou seis graus centígrados. E as desgraçadas, pagas para isso, bem abanavam o corpo numa tentativa de sambar uma nota só. Mas o fremor era tanto, que me pergunto se o mesmo se devia ao frio, aos arrepios ou à música...
Porque diabo havemos nós de importar coisas destas? É claro que na Europa há Carnaval em Veneza. E esse, já o presenciei, é digno de se ver. Mas aqui, meu Deus, não bastará o estremecer da folia em que andamos mergulhados ?!

HSC

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Nunca é tarde...

Com sucessivas entradas e saídas do país, às vezes, funciono ao retardador. Aconteceu agora com o programa Plano Inclinado, do Mário Crespo, que só hoje vi, já em repetição.
E, surpresa das surpresas, ouvi João Salgueiro, desenvolto, fazer uma excelente análise da nossa actual situação política e económica.
Perguntar-me-ão porque é que eu fiquei surpreendida se, afinal, Salgueiro é um economista conhecido e que já desempenhou, até, altos cargos na hierarquia do Estado? Por uma razão muito simples. É que de todas as vezes que, antes, me foi dada a possibilidade de o escutar, sempre o senti condicionado, sem dizer "exactamente" o que pensava, mas sim o que "podia" dizer do que pensava. Ou seja, parece que ter saído do cargo que antes desempenhava na Associação de Bancos lhe fez bem, soltou-o e deu-lhe, de algum modo, a liberdade perdida. Para além do mais fez uma intervenção com uma nota de otimismo que, até a mim, surpreendeu. Valeu muito a pena tê-lo apanhado!

HSC

Duzentos amigos


Ao fim de um ano de escrita aqui no Fio de Prumo, cheguei aos duzentos amigos! Bem hajam pela paciência e pelo encorajamento que ao longo deste tempo sempre me deram.
Devo a todos vós muito do que aprendi nestes meses. Espero continuar a merecer a vossa atenção e sobretudo a vossa estima!
HSC

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Saber retirar-se a tempo...

Saber retirar-se a tempo, seja do que for, é prova de grande inteligência. Mas é extremamente difícil de conseguir. Raramente as pessoas têm consciência disso.
Há dias, em conversa com amigos, dizia algo semelhante, quando chamava a atenção para certas idades, em que "ainda não se é velho, mas também já não se é novo". É o que eu apelido de "idade fatal". Ultrapassada esta, a gestão da nossa vida, mais do que diplomacia, é uma verdadeira prova de sabedoria.
Ontém vim do cinema a pensar nisto. Fui ver o último Woody Allen e fiquei com a impressão de que, naturalmente, depois deste, não virá mais nenhum. O filme é fracote. Direi mesmo mais. É, para mim, o mais fraco de todos os que ele fez. E eu sou fã do realizador!
Será a idade? Falta de inspiração? Falta de meios?Terá sido acidental? Não sei responder. Mas sei que fiquei com um travo amargo quando saí da sala. É que tenho imensa pena, se for esse o caso, de Woody Allen não se retirar a tempo...
HSC

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Herança familiar

Sempre pensei que a geração dos meus netos não se interessaria por política, depois de viverem numa família que não fala de outra coisa. E dava-me por feliz com esta perspectiva, porque nunca vi neles qualquer espécie de especial inclinação para a matéria.
Pois acabo de receber uma notícia fatídica, que me deixou tristíssima. O meu neto mais velho informou-me que decidiu fazer parte do movimento académico do liceu onde anda. Quando, a custo, lhe perguntei a razão da decisão tomada, disse-me que ficara impressionado com uma visita que fizera com o pai ao Parlamento Europeu e que isso mudara a sua maneira de ver a intervenção neste campo...
Fiquei tão abalada que, de momento, nem consigo ter a frieza necessária para pensar no assunto. Mas de uma coisa estou segura. Se esta geração pensa que me vai submeter a novo "karma", bem se pode preparar para não ter qualquer espécie de herança familiar. Pelo menos, do meu lado!

HSC

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cenário do aborto nacional

Os números estão aí e são reveladores. Preocupantes diria, mesmo, para a realidade nacional.
Na Maternidade Alfredo da Costa - MAC -, a maior do país, 87% das mulheres que nela praticaram aborto não usavam qualquer tipo de contraceptivo. Ou seja, 1425 das 1632 mulheres que, no ano passado, ali interromperam uma gravidez, nenhuma fazia planeamento familiar.
Os números da MAC que, aliás, reflectem a tendência nacional, indicam ainda que de 2008 para 2009 o número de abortos cresceu 8%. Evolução que é corroborada pela Clínica dos Arcos, única privada a fazer aquele tipo de interrupções, mas com o crescimento, no mesmo período, mais significativo de 15%.
Outra questão preocupante nestes elementos estatísticos diz respeito ao número de mulheres que fizeram abortos repetidos. Com efeito, na MAC, foram 468 as grávidas que praticaram abortos mais do que uma vez.
Desde que a lei liberalizou esta práctica, em Abril de 2007, os números foram sempre crescendo. Nesse ano, a partir de Julho, abortaram 6287 mulheres, e em 2008 aquele valor atingiu os 15960.
A maior parte destas intervenções realizou-se no grupo etário dos 21/29 anos, logo seguido do que se situa entre os 30/39 anos.
Num país com uma taxa de natalidade perigosamente decrescente, o aborto em lugar de ser usado como último recurso está, paulatinamente, a transformar-se numa terapêutica anti concepcional corrente.
Ora não foi para isto que a lei foi aprovada. Apesar de, na altura, já se admitir a possibilidade deste comportamento perverso, aceitou-se correr o risco. Pergunto: mas se, de facto, for esta a tendência, que pensam as autoridades sanitárias fazer, para a corrigir e alterar esta evolução?

HSC

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A roda infernal

Ontém, na sequência da quinta feira negra que ficámos a dever ao senhor Almunia, o Presidente da agência de notação Fitch - uma das mais importantes a nível mundial - veio, também ele, insistir na tese do Comissário espanhol ao estabelecer, uma vez mais, o paralelo entre a situação de Portugal e da Espanha, com a da Grécia, contribuindo, assim, para nova deterioração dos indicadores de risco da dívida portuguesa.
O resultado foi, outra vez, imediato. Os CDS - Credit Default Swaps, espécie de seguro contra incumprimentos - sobre as obrigações do tesouro (OT) a cinco anos, atingiram o seu valor mais alto e o prémio pedido pelos investidores para manterem as OT portuguesas a dez anos voltou a subir para valores máximos.
E, apesar de salientar não haver risco de contágio entre os três países, o certo é que considera a situação nacional muito preocupante. Tudo isto está não só a dificultar a obtenção de dinheiro, como a torná-lo cada vez mais caro.
Se a este quadro juntarmos a prevsível subida das taxas de juro pelo Banco Europeu, o quadro começa a tornar-se insuportável. E a permitir avisos, como os de Vítor Constâncio, de que em 2011 é imperiosa uma subida de impostos!

HSC

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O que é importante

A minha querida Alice Vieira não deixa, nunca, de me contemplar com mail´s que umas vezes me fazem dar sonoras gargalhadas, outras me comovem, outras ainda me distraem de um quotidiano que nem sempre é agradável. Em qualquer dos casos há sempre uma liçãozinha a tirar...
Pois desta vez mimou-me com uma conferência - sim, digo conferência porque o vídeo demora cerca de vinte minutos - que deve ser ouvida com muita atenção. Trata-se de uma lição, única, sobre os riscos das "histórias únicas". Para quem lê e, sobretudo, para quem escreve a conferencista chama a atenção para algo que em muitas ocasiões escapa à nossa percepção. Oiçam, os que quizerem, a lição dada por Chimamanda Adichie em:

www.ted.com/talks/lang/eng/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html
Vale bem a pena, garanto-vos. A mim, fez-me pensar e comoveu-me!
HSC
Nota Se ao carregarem no link não conseguirem abrir, ele vai ter a TED. Aí no search procurem em The danger of a single story e o vídeo aparece

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A família

Passei este fim de semana, chuvoso, agarrada às mulheres - salvo seja -, que estou a biografar. A parte mais agradável do trabalho de escrever sobre a vida de alguém, é esta, de rever os textos e os tentar melhorar.
Seis deles estão prontos. Falta ainda "esfolar o rabo", como se diz na aldeia, a mais quatro, que será ler a investigação feita e trabalhá-la à minha maneira. Ao invés, este é, para mim, o lado mais doloroso das biografias, porque por muito que não queiramos, é difícil não nos identificarmos mais com umas do que com outras.Mas também é o mais surpreendente, porque ao escrevemos sobre alguém, acabamos sempre por fazer descobertas sobre nós próprios...
Foi embuída deste espírito e algo cansada, que fui jantar com a família. Hoje eramos só quatro: os dois infantes e o neto mais velho. Rimo-nos bastante e, ao voltar para casa, vinha a pensar como também aprendo sempre qualquer coisa nos repastos familiares. Neste, em particular, dei comigo a sorrir, ao ver neles tanto que era dos meus pais e, também, tanto que era do pai deles. Sorriso, aliás, de pura gratidão por esta espécie de memória genética, este imenso arquivo familiar que, depois, cada um vai trabalhando a seu jeito, mas que me faz continuar a ter, de algum modo, bem presentes, aqueles que amei mas já perdi...

HSC

Finalmente acordaram...

Todos sabemos que, se as comparações estatísticas nacionais são um problema, quanto mais não serão se quisermos fazê-las a nivel internacional.
Para "aliviar" estes problemas temos organismos especializados na preparação e recolha de tais dados. Entre nós é o INE, o Instituto Nacional de Estatística. Mas, quando queremos elementos economico-financeiros, servimo-nos muitas vezes, e bem, do Relatório do Banco de Portugal e do seus Boletins.
Mesmo assim, é frequente no discurso político entre governo e oposições, os números divergirem de acordo com as fontes que os produzem. Porquê? Porque o método de cálculo não é o mesmo. Já nem falo das díspares interpretações a que números iguais dão azo...
Pois bem. Para evitar a dúvida que certos países provocaram, como foi ultimamente o caso de Atenas, à qual foi movido um processo de infracção por as estatísticas serem pouco confiáveis, o Comissário Europeu do Comércio, Karel de Gucht, vem agora informar que a Comissão Europeia poderá mandar inspectores do Eurostat - o organismo que elabora as estatísticas europeias - aos países que não forneçam dados financeiros dignos de fiabilidade.
Levaram tempo a tomar uma medida que há muito se desconfiava ser necessária, face a uma série de erros políticos que apenas dificultaram a avaliação dos problemas económicos!

HSC

Calhandrices, infâmias e buracos de fechadura

Não sou uma purista da linguagem e até tenho alguma flexibilidade em relação ao que vou ouvindo pelos responsáveis políticos na minha terra. Mas estamos a chegar a um tal ponto de vulgaridade, que se não se corta o mal pela raiz, temo que faça escola o discurso totalmente desbragado. Os governantes em casa podem comportar-se como queiram...desde que não sejam escutados e depois nós tenhamos conhecimento público desse seu dialeto privado...
Mas quando falam como representantes dos cargos que ocupam - sejam eles o PM, os Ministros ou os Deputados -, que são pagos com o dinheiro de todos nós, há um mínimo de correção que se lhes deve exigir. Podem criticar, podem defender-se. Não podem ser vulgares.
Um PM não pode nem deve falar dum jornalismo de "infâmia" e de "buraco de fechadura". Um seu ministro não pode nem deve apelidar de "calhandrices" as notícias que lhe não agradam. Como Pinho não podia ter feito no Parlamento o gesto que fez e, por isso, se demitiu.
Os políticos podem e devem recorrer às instituições competentes, quando sintam que estão em causa abusos ou ilegalidades. Não podem entrar no achincalhamento verbal. Porque os portugueses não pagam aos políticos para eles usarem um linguajar de caserna, que nem sequer toleram na sua casa!
E depois admiram-se que os alunos batam nos professores ou usem, na escola, a linguagem da tasca da esquina. Lamentável o estado a que o Estado chegou...

HSC

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Jô Soares

Hoje vou partilhar com os que me lêm, o prazer de uma noite que me regalou. Bem andava precisada. Falo do espectáculo de Jô Soares num remix de Fernando Pessoa. Fui ontém com amigos vê-lo.
Jô diz Pessoa em português de Portugal. E domina totalmente a plateia. É uma comoção difícil de descrever, a que sente ao ouvir um dos nossos maiores poetas, na voz modulada de um dos grandes diseurs da nossa língua.
O nosso Gordo deve ter perdido uns vinte quilos desde a última vez que estive com ele e com o Herman. Continua gordo, mas bastante menos, o que lhe permite, em palco, mexer-se com um à vontade corporal que antes não tinha e que magnetiza ainda mais aqueles que o ouvem.
A seleção de textos feita para um espectáculo deste tipo é excelente e o acompanhamento musical também. E, confesso, face ao preço dos bilhetes, fui agradavelmente surpreendida, com o género de gente comum que me rodeava. Felizmente a cultura começa a entrar nos nossos hábitos, mesmo que, às vezes, com sacrifício pessoal de outros bens, tão ou mais importantes.
Pareceu-me, nalguns casos, ser o caso!
Saí feliz e com uma fome danada.
E não é que me esperava uma surpresa? Nem mais. Fui cear, pasme-se, ao velho Café Império - passe-se a publicidade - que eu julgava completamente desaparecido e onde não punha pés há uns bons uns quinze anos. Nada disso. Está tranformado, mantendo o cunho de antes, numa sala agradável, com música discreta. E conservando inalterado...aquele fabuloso bife com ovo a cavalo, que eu jamais esquecera.
A noite não podia ter sido melhor, a decorrer numa ameníssima conversa e alguma risota. E relembrando o nosso saudoso e comum amigo Quim Machaz que se foi embora, mas continua sempre bem presente em todos nós, sobretudo, quando festejamos o lado bom da vida!

HSC

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Andam todos a brincar...

Depois das tremendas reacções dos mercados internacionais às lamentáveis afirmações do Comissário espanhol de serviço à Europa, a sua porta voz - o próprio nem sequer teve a coragem de dar a cara - ensaiou tirar a água do capote do patrão, dizendo que ele não fizera as declarações que lhe atribuíam e que tudo não passara de um mal entendido causado pela "comunicação social".
É mentira. Eu vi e ouvi o que disse o senhor Almunia. Disse exactamente o que se trancreveu na imprensa e que apontava para que "a Grécia, Portugal e Espanha partilhavam problemas comuns de perda constante de competitividade e de elevado defice público".
E, só depois do puxão de orelhas da Ministra da Economia de Espanha, Elena Salgado, é que a sua representante veio a público "tentar" apagar uma nódoa cujo alastramento foi inevitável e cujas consequências estamos ainda longe de poder avaliar.
Há um ditado que diz que "quem não tem competência, não se estabelece". Só gostava de ser mosca para saber "se" e "que" fez o português Durão Barroso depois deste triste incidente...

HSC

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Solidariedades...

O senhor Almunia, de nacionalidade espanhola, mas ao serviço da Europa, acaba de nos dar um belo e solidário presente. Depois de ter comunicado o apoio da Comissão Europeia ao plano de consolidação orçamental da Grécia que, indiscutivelmente, está pior do que nós, o Comissário Europeu dos Assuntos Económicos decidiu fazer declarações sobre a competitividade e o endividamento de Portugal, numa tentativa de nos pôr ao mesmo nível dos gregos.
Que nós estamos mal já todos sabemos. Mas as suas palavras tiveram efeito imediato nos mercados internacionais, que deram sinais evidentes de preocupação com as contas publicas portuguesas.
De facto, as yelds das obrigações registaram logo uma forte subida com os investidores a exigir uma mais expressiva rentabilidade para comprar dívida pública nacional, desconfiados do risco de deteriorização das finanças públicas.
Também os Credit Default Swaps (CDS) - um seguro de risco sobre obrigações - atingiram novo máximo historico, levando a bolsa a dar uma das maiores quedas de sempre. Os indicadores de risco da dívida portuguesa estão, também, a ser pressionados pela nossa emissão de bilhetes do tesouro, que inicialmente estava prevista para 500 milhões de euros e se ficou pelos 300 milhões, devido à subida do juro.
Se os investidores, no segmento accionista continuarem a dar provas de grande nervosismo, a situação prenuncia fortes complicações.
Depois disto, Portugal bem pode agradecer a solidariedade espanhola e europeia. E tirar dela algumas conclusões!

HSC

Gente comum

Durante muitos anos a inteligência era a qualidade que eu mais apreciava em alguém. Chegada aos meus trinta, juntei-lhe a coerência porque vivi um período de vida pessoal em que me rebelava contra as diferenças entre o que as pessoas diziam e a sua prática. Aos quarenta percebi que estas duas linhas de apreço faziam com que eu perdesse uma boa parcela de gente interessante. E encontrei uma nova linha de selecção na qual ainda hoje me encontro. Agora o que mais aprecio em alguém é o que se chama de boa formação moral. Gente que tem princípios e valores e se bate por eles. Enfim, gente que acredita em alguma coisa, sem grandes diletantismos intelectuais, gente comum que não está preocupada com um padrão ideológico, mas que está interessada no seu semelhante, parecido ou diferente de si.
Isto permitiu-me abrir a alma e a mente a pessoas que, noutras circunstâncias, não teriam, muito possivelmente, cruzado o meu caminho. E estou-lhes muitíssimo grata por me terem, afinal, despertado para tudo e todos os que são diferentes de mim!

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Made in...

A história que se conta a seguir, corre na net. Mas eu vou tentar dar-lhe um toque mais pessoal.
"... Duarte dormiu mal. O despertador (japonês), despoticamente, tinha-o acordado às 7h em ponto. A cama, nova, comprada no Ikea (finlandesa) não tinha, ainda, o colchão (espanhol) devidamente adequado .
Tomou um duche usando o seu gel favorito (francês) e secou o cabelo com o secador (de Taiwan). Vestiu o seu belo fato (italiano) e dirigiu-se à cozinha para preparar uns cereais (americanos). Comeu-os e ligou a máquina de café (espanhola) onde colocou capsulas (colombianas).
Recomposto, passou ao escritório, ligou o PC (americano) e viu os mercados. Ligou o rádio (chinês), ouviu as mensagens no telemóvel (finlandês), pôs o relógio (suiço) no pulso e meteu-se no carro (sueco) que o levou para o trabalho (numa empresa multinacional).
A meio da tarde, a secretária trouxe-lhe os jornais estrangeiros e um sumo de laranja (israelita). Finalizado o dia voltou para casa. Subiu no elevador (alemão) e sentou-se no seu maple preferido (dinamarquês). Ligou a tv (americana) e bebeu um copo de um bom vinho (chileno). Finalmente, despiu-se, calçou umas sandálias (brasileiras) e vestiu o roupão (argentino).
Sentou-se, de novo, para ouvir as más notícias. Já na cama, ajeitou a almofada (egípcia) e ficou a pensar porque seria que Portugal tinha tantos problemas..."!
O Ministério da Economia de Espanha calcula que se cada espanhol consumisse 150€ de produtos nacionais por mês, a situação do país melhorava e o desemprego diminuia...
Duvido da veracidade desta afirmação. Mas que há aqui matéria para pensar, lá isso há!

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A net tem destes coisas...

Só há um ano é que ando na blogosfera. Hoje, antes mesmo de ler os jornais, visito dois ou três blogues de eleição. Mas sigo outros, que visito com menos regularidade.
Entre os primeiros, destaco um, que fez agora o seu primeiro aniversário. Trata-se do blogue do nosso Embaixador em França. Devo-lhe quase tanto como aos jornais estrangeiros que leio diariamente. Por prazer e por gosto. A tentar entender quem não pensa como eu.
Ser representado por um diplomata com a craveira pessoal e profissional do Dr. Seixas da Costa é motivo de honra e de orgulho para Portugal. Acompanhar o que ele escreve, diariamente, no seu duas ou tres coisas é um privilégio!

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Rosa Lobato Faria

Morreu Rosa Lobato Faria. Tinha 77 anos. Conhecíamo-nos mas não convivíamos. Um dos seus filhos, o Nuno, era o meu realizador de eleição quando trabalhei em publicidade.
Sei que a sua vida não foi fácil. Talvez porque foi mulher muito bonita, levou mais tempo a ser aceite. Escrevia com uma fluência enorme e há cerca de um ano tive o gosto de dar continuação a um conto seu para um livro escrito a várias mãos.
Apesar de fazer poesia desde cedo, o seu primeiro romance só foi para os escaparates quando tinha 63 anos mostrando, afinal, que nunca é tarde para se começar. Foi locutora, actriz de cinema e de televisão e letrista de muitas canções que ficaram conhecidas.
Enfim, como diz o nosso comum amigo, Mário Zambujal, morreu uma mulher de muitos e grandes talentos!

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Direito à indignação

Os portugueses andam descontentes. Da vida que o país leva e, também, da sua própria. Que acaba, quer queiramos quer não, por ser influenciada pela primeira. Hoje, tudo está partidarizado. Ninguém pergunta ou inquere competências. Apenas se deseja saber a coloração ideológica. E, de preferência, oficializada na militância partidária. Na que se considera conveniente, claro. Não é possível, por muito mais tempo, na era da globalização, continuar a ter o país dividido em células políticas que se digladiam e acabam amputando-se umas às outras. Sem que os melhores entre nós queiram participar desse teatro!
Quem governa deveria, à partida, saber que a autoridade é sempre contestada. E só aceitar governar, se souber ouvir quem contesta. Ouvir "os outros", aqueles que não pensam do mesmo modo. Mas que existem. E que têm todo o direito a expressar-se.
Não foi o Dr. Mário Soares, pai e expoente do socialismo português actual, que reclamou para si "o direito à indignação"? Então porque é que os seus pares lhe não seguem o exemplo? Porque é que este governo, que já não tem maioria absoluta, não reconhece aos outros esse direito tão seu? Porquê?!

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Mario Crespo

De entre os cronistas que escrevem no site do Instituto Francisco Sá Carneiro, um deles é Mario Crespo. Na última crónica, intitulada " Fim da Linha" ele conta:

"Terça feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro Ministro José Socrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro dos Assuntos Parlamentares Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel de Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil ( um "louco") a necessitar de (ir para um manicómio). Fui descrito como um "profissional impreparado"..."
"...Definiram-me como um "problema" que teria de "ter solução". Houve no restaurante quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo...!"

Esta é apenas uma parte do texto que se pode ler na íntegra no:
Socrates não convive bem com a crítica. É pena, porque ela faz parte integrante da democracia. Já conseguiu que fossem silenciadas outras vozes jornalísticas.
Pretende o quê? Que pensemos todos o mesmo?

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