Viver a vida inteira sentindo-se a
parte esquecida de uma história familiar — aquela que segurou as pontas, que
chorou sozinha, que renunciou a si para proteger os filhos — pode ser
devastador. Quando, além disso, os filhos demonstram mais carinho, lealdade ou
compreensão ao pai que causou a rutura, o que resta à mãe?
Resta ser fiel a si.
Ser mãe, nesse caso, é um ato de
resistência silenciosa. É escolher continuar a amar sem aplauso, cuidar sem
reconhecimento, e manter-se íntegra mesmo quando a vida foi injusta. Isto não é
passividade — é uma força quase sagrada. E essa força precisa ser cuidada,
alimentada, honrada.
A dor não deve ser engolida sozinha. É essencial falar, buscar apoio,
terapia, ou simplesmente ter com quem dividir essa ferida. Porque o que dói de
verdade não é só o amor negado, mas o silêncio que o envolve.
Também é importante entender que os
filhos, muitas vezes, não veem as coisas como os pais veem. Eles lidam
com as suas próprias faltas, projeções e idealizações. Às vezes preferem o pai
ausente ou irresponsável porque não os cobra, porque representa uma figura mais
leve ou livre. Mas isso não significa que a mãe foi menos importante —
significa apenas que eles ainda não compreenderam tudo.
O tempo pode não consertar tudo, mas
amadurece os olhares.
Muitos filhos só enxergam a dimensão do que a mãe fez, quando se tornam pais.
Às vezes, nem aí. E mesmo assim, é possível encontrar paz. Não na expectativa
do retorno, mas na dignidade do que foi feito.
A mãe que vive essa injustiça
precisa, acima de tudo, resgatar a sua própria história além da maternidade.
Voltar-se para si: seus desejos, seus projetos, sua identidade, além do
cuidado. Porque, embora os filhos sejam parte fundamental da vida, eles não
devem ser o único espelho da nossa realização.
Não é justo, não é leve, e talvez
nunca seja retribuído. Mas o amor verdadeiro não depende de o outro entender. Ele basta-se por
ser inteiro, mesmo quando o outro não enxerga.
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