Saudade é palavra que dói e afaga. Carrega no peito o eco de
uma ausência, mas também o calor do que foi real. Durante muito tempo,
acreditei que sentir saudade era estar presa, acorrentada a um tempo que não
volta, a um rosto que não retorna, a um riso que o vento levou. Hoje, vejo
diferente.
A saudade, quando bem acolhida, não nos prende. Ela constrói
pontes. Ela é a travessia entre o que fomos e o que somos. Entre o que vivemos
e o que ainda carregamos, no silêncio da memória. A saudade, quando escutada
com o coração calmo, convida-nos a passar por ela, não a morar dentro dela. Ela
leva-nos de volta a momentos bons, para que possamos reencontrar pedaços de nós,
que até, talvez, tenhamos esquecido.
Não se trata de negar a dor da ausência. Ela existe, e às
vezes lateja. Mas ao invés do muro, que nos separa e nos isola, ela pode ser
ponte. A ponte que nos permita caminhar de volta ao que foi bonito, mesmo que,
apenas por instantes, e trazer algo que
ainda nos seja útil: uma lição, um afeto, um abraço guardado em lembrança.
A saudade só aprisiona quando resistimos a ela, quando
lutamos para não a sentir. Mas quando aceitamos a sua presença, como quem
aceita a visita de um velho amigo, ela senta-se connosco, conta histórias, e
depois vai embora, deixando o nosso coração um pouco mais inteiro.
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🌻
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