quarta-feira, 18 de junho de 2025

A saudade como ponte e não como prisão

Saudade é palavra que dói e afaga. Carrega no peito o eco de uma ausência, mas também o calor do que foi real. Durante muito tempo, acreditei que sentir saudade era estar presa, acorrentada a um tempo que não volta, a um rosto que não retorna, a um riso que o vento levou. Hoje, vejo diferente.

A saudade, quando bem acolhida, não nos prende. Ela constrói pontes. Ela é a travessia entre o que fomos e o que somos. Entre o que vivemos e o que ainda carregamos, no silêncio da memória. A saudade, quando escutada com o coração calmo, convida-nos a passar por ela, não a morar dentro dela. Ela leva-nos de volta a momentos bons, para que possamos reencontrar pedaços de nós, que até, talvez, tenhamos esquecido.

Não se trata de negar a dor da ausência. Ela existe, e às vezes lateja. Mas ao invés do muro, que nos separa e nos isola, ela pode ser ponte. A ponte que nos permita caminhar de volta ao que foi bonito, mesmo que, apenas  por instantes, e trazer algo que ainda nos seja útil: uma lição, um afeto, um abraço guardado em lembrança.

A saudade só aprisiona quando resistimos a ela, quando lutamos para não a sentir. Mas quando aceitamos a sua presença, como quem aceita a visita de um velho amigo, ela senta-se connosco, conta histórias, e depois vai embora, deixando o nosso coração um pouco mais inteiro.

 

1 comentário:

Anónimo disse...

🌻