segunda-feira, 10 de outubro de 2011

É difícil de compreender


Leio hoje no Correio da Manhã uma pequena entrevista feita ao bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva que, confesso, me deixou um pouco surpreendida.
Diz ele que em Portugal, no futuro, vai haver desemprego na área da medicina. A confirmar esta tese, um estudo da Universidade de Coimbra conclui que, no final desta década, haverá seis mil médicos a mais no país.
Confesso que a minha perplexidade proveio de não ter compreendido bem a explicação dada. É que em 2012, sairão para o mercado de trabalho 1800 licenciados que não terão vaga para iniciar a formação na especialidade. E isto porque, face à falta de recursos financeiros, haverá uma concentração de serviços no SNS, o que levará à redução e fecho de unidades e, portanto, a que nem todos os licenciados tenham vagas. O que significará que alguns ficarão desempregados.
Entre nós, doze anos, é o tempo de formação de um médico. Portanto, nas decisões que se tomem quanto a números clausus de medicina, terão que ter em consideração este importante factor.
A minha dúvida reside numa equação difícil. É que por um lado "importamos" médicos, mas por outro, "exportamos" alunos de medicina. Qual é a lógica do processo?!

HSC

11 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Helena,

Partilho da sua perplexidade. Parece-me que esta aritmética, quando polvilhada com uma pitada de corporativismo, fica virada do avesso.


PS: Quer ir dar uma espreitadela ao meu canto, nos comentários do aniversário do Ginjal, para ver uma coisa que eu escrevi sobre a sua bela prestação na Troika (não sabia bem onde ficava mais lógico escrever aquilo...)?

Anónimo disse...

Cara Helena,

Logo no ínicio do post também já estava a pensar na sua questão final. É incompreensível o país “exportar” bons alunos de medicina para as universidades espanholas ou checas e, em simultâneo, “importar” médicos de países de Leste quando muitos não exercem a profissão há vários anos.

O discurso do bastonário da Ordem dos Médicos pode ser muito realista, mas numa época de crise defender que o cargo de bastonário deve ser remunerado... não me parece muito razoável!

Será que exercer um cargo tem, obrigatoriamente, que estar associado a “tacho”? E o amor à camisola e ao próximo?!!!

Isabel BP

stiletto disse...

É mesmo caso para ficar perplexa. E pensar que há tantas pessoas sem médico de família.

Um Jeito Manso disse...

Helena,

Não me expliquei bem, acho eu. Onde eu escrevi uma coisita sobre a sua Troika foi aqui:

http://umjeitomanso.blogspot.com/2011/10/o-meu-ginjal-e-lisboa-love-affair-faz.html

Ou seja, dentro do Um Jeito Manso (e não no Ginjal, como,, se calhar parecia. Sorry)

E não precisa de publicar esta adenda que, às tantas, o Senhor Bastonário fica sem perceber o que é que eu ando para aqui a fazer, a desarrumar-lhe a sua protegida Ordem...

Anónimo disse...

Os anos passam e vocês continuam a entender o mesmo !
Por isso os anos passam e a perplexidade não !

O problema não é os médicos ou os alunos irem para o estrangeiro!! O problema é o negócio das Universidades! O bastonário defende o clube dele, como é obvio!
Ele quiz dizer que as vagas dos médicos pendurados no Estado( Hospitais, centros de saude , Universidades etc) , vão diminuir , mas isso não significa que haverá médicos a mais!

A maior parte dos actos médicos passarão para a esfera privada e desde que haja pacientes , também há falta de médicos !!!

Os médicos estão é mal habituados! Ficam nos Hospitais a ganhar experiência e formação e ao mesmo tempo exercem em consultórios privados, num ambiente promiscuo de interesses que acaba sempre com elevadissimas despesas para o Estado !

Relativamente ao excesso de médicos, não conheço os numeros, mas por exemplo no caso dos dentistas , os Brasileiros invadiram Portugal e hoje representam 30-40% dos dentistas.
Se houvesse médicos a mais eles não tinham tanto espaço no mercado para trabalharem, não acham ?

DL disse...

Cara HSC,

O bastonário fala pelos médicos que já o são, e o papel dele é (também) proteger os interesses dessa poderosa classe. Ora havendo falta de médicos no país e falta de dinheiro, existe uma solução óbvia, que é reduzir os salários. Isso permitiria a entrada de mais médicos no sistema, trazendo melhores condições a centenas de milhares de portugueses. Evidente que a classe não quer que isso aconteça, agindo por antecipação. Dizendo que no futuro poderá haver médicos no desemprego (bem-vindos ao mundo real, em que o desemprego toca ou tocará a todos durante algum período das nossas vidas), a Ordem tem conseguido contrariar a abertura de mais vagas em Medicina. Claro que não nos faltam bons alunos que não conseguem entrar nas faculdades de medicina graças a este corporativismo.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das 10:52
Ainda bem que existem pessoas que nos mostram como os anos passam e alguns - neste caso eu -, continuamos sem compreender. Obrigada pela sua clara explicação.

Helena Sacadura Cabral disse...

Jeitinho Manso, entendi sim, até porque, por norma, visito os dois!

rosaamarela disse...

"Economista de Bancada", e não é por este comentário, mas sim por outros que ele tem andado a dar para os jornais...

Só Sedas disse...

Nenhuma Helena, nenhuma. Já há 8 anos quando comeceu o meu curso se via que isto iria acabar assim. Segui de perto todo este proceso de exames de admisão, aumento de vagas nas universidades, fecho de vagas de especialidade em centros de saude e hospitais, contratação de médicos extrangeiros... A minha perplexidade é sempre a mesma, se nós, pessoas comuns que não temos formação politica nem estamos por dentro do assunto, vemos que estas coisas acabariam por acontecer um dia, como é que não o viram o Ministério de Ensino Superior, o da Saúde...

Penso que o problema é sempre o mesmo, governarem para agradar a opinião pública. Abriram mais vagas nas faculdades porque todos se queixavam de que a nota era muito alta e a entrada impossível entrar pelo que os nossos alunos tinham de ir para fora. Depois fecham unidades hospitalares para cumprir estatísticas mas nunca se fazem cálculos sobre médicos que se reformam por ano, médicos que são necessários por zonas, nada. Não estudamos os números e depois somos atropelados por eles.

nelson disse...

a entrevista que este senhor deu a tsf em que falou sobre o tabaco foi no minimo hilariante, acredito que as declarações tenham sido ditas com ironia..
até lhe dediquei um post.
http://dadoslancados.blogspot.com/2011/10/fumar-ajuda-o-pais.html