Há quem precise de roteiro para viver. E há quem se lance no
vazio do momento, confiando que o chão vai aparecer — ou que, se não aparecer,
ao menos o tombo, possa render boas gargalhadas. Os Improvisadores pertencem a
esse segundo grupo: artistas do instante, trapezistas sem rede, poetas do
agora.
Sobem ao palco com o mesmo desassombro de quem entra num
sonho, sem saber o final. O público lança palavras, ideias, desafios absurdos —
e eles transformam tudo em cenário. Um amor impossível entre uma torradeira e
um astronauta? Uma tragédia no supermercado? Um rumba sobre a reforma
tributária? Eles aceitam. E fazem.
Improvisar é brincar de ser deus e criatura, ao mesmo tempo.
Inventar o mundo e habitá-lo. É uma arte que nasce e morre diante dos olhos,
sem reprise, sem edição, sem chance de “depois nós melhoramos”. Cada erro vira
escada, cada tropeço vira piada.
Há um tipo de magia nisto: o riso cúmplice de quem assiste e
percebe que, por um instante, todos estão a criar juntos — artistas e plateia
respirando o mesmo susto, o mesmo encanto.
Quando as luzes se apagam, nada fica gravado. Só o eco de
algo que foi único, efémero e vivo. Porque improvisar, no fundo, é isso: provar
que o instante basta!
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