A vaidade, tantas vezes condenada como um vício moral, talvez
mereça uma reconsideração mais justa. Sob o olhar atento da razão e da
história, percebe-se que ela não é apenas um espelho do ego, mas também um
motor silencioso do progresso humano. É a vaidade que desperta no indivíduo o
desejo de se distinguir, de se aprimorar, de alcançar a excelência que o olhar
do outro confirma.
Longe de ser mera frivolidade, a vaidade é uma forma de auto-perceção
que se pode transformar em consciência estética e ética. O cuidado com a
aparência, quando não se reduz à superficialidade, revela também o respeito por
si e pelos outros. O homem ou a mulher vaidosa, no melhor sentido, não buscam
apenas admiração, mas harmonia — entre o interior e o exterior, entre o que são
e o que mostram ser.
Na arte, na ciência, na política, a vaidade tem sido impulso
e combustível. O desejo de reconhecimento, moveu pintores a criar obras
imortais, cientistas a desafiar o impossível, estadistas a sonhar com glórias
nacionais. Ainda que o aplauso seja efémero, ele serve como medida simbólica do
esforço e do valor.
O perigo da vaidade não está na sua existência, mas no seu
excesso — quando o espelho se torna prisão, e o olhar do outro, tirano. Porém,
extirpá-la completamente, seria apagar uma das forças que mais profundamente
moldaram a cultura humana.
Elogiar a vaidade, portanto, é reconhecer o poder ambíguo que
habita em nós: o desejo de ser visto, lembrado e admirado. É admitir que, entre
o orgulho e a humildade, há um território legítimo, onde a vaidade, com sua luz
e sua sombra, nos ensina a ser mais humanos.
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