domingo, 2 de novembro de 2025

O ELOGIO DA VAIDADE

A vaidade, tantas vezes condenada como um vício moral, talvez mereça uma reconsideração mais justa. Sob o olhar atento da razão e da história, percebe-se que ela não é apenas um espelho do ego, mas também um motor silencioso do progresso humano. É a vaidade que desperta no indivíduo o desejo de se distinguir, de se aprimorar, de alcançar a excelência que o olhar do outro confirma.

Longe de ser mera frivolidade, a vaidade é uma forma de auto-perceção que se pode transformar em consciência estética e ética. O cuidado com a aparência, quando não se reduz à superficialidade, revela também o respeito por si e pelos outros. O homem ou a mulher vaidosa, no melhor sentido, não buscam apenas admiração, mas harmonia — entre o interior e o exterior, entre o que são e o que mostram ser.

Na arte, na ciência, na política, a vaidade tem sido impulso e combustível. O desejo de reconhecimento, moveu pintores a criar obras imortais, cientistas a desafiar o impossível, estadistas a sonhar com glórias nacionais. Ainda que o aplauso seja efémero, ele serve como medida simbólica do esforço e do valor.

O perigo da vaidade não está na sua existência, mas no seu excesso — quando o espelho se torna prisão, e o olhar do outro, tirano. Porém, extirpá-la completamente, seria apagar uma das forças que mais profundamente moldaram a cultura humana.

Elogiar a vaidade, portanto, é reconhecer o poder ambíguo que habita em nós: o desejo de ser visto, lembrado e admirado. É admitir que, entre o orgulho e a humildade, há um território legítimo, onde a vaidade, com sua luz e sua sombra, nos ensina a ser mais humanos.

 

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