Deixar de amar é um processo
íntimo e complexo onde, muitas vezes, o fim do amor não chega como uma rutura
brusca, mas como um desgaste silencioso, uma coleção de pequenos esquecimentos
e silêncios acumulados. É como se o sentimento, antes vivo e vibrante, se fosse
retraindo para um canto mais profundo, um lugar que não alcançamos ou decidimos
ignorar.
Amamos alguém, no começo, pela
forma como nos vemos refletidos naquela relação – a maneira como aquela pessoa
nos faz sentir vivos, únicos, compreendidos. Mas, à medida que o tempo passa,
as mudanças internas, pessoais e muitas vezes invisíveis ao outro, começam a
moldar o nosso sentimento dessa ligação. Passamos a olhar com mais atenção para
as lacunas, para o que antes aceitávamos ou não enxergávamos. E assim, o amor
pode começar a ceder espaço a uma frustração sutil, a uma quietude incómoda.
O amor alimenta-se de pequenas
escolhas diárias, de vulnerabilidades que se renovam, de uma curiosidade pelo
outro que não se esgota. Quando a rotina, o silêncio, ou as dores mal resolvidas
se tornam maiores do que o espaço que damos à curiosidade e ao carinho, o amor
se retrai. Não por uma decisão consciente, mas pelo cúmulo de desencontros,
pela falta de cuidado na escuta, ou pela dificuldade de partilhar aquilo que
nos inquieta.
Às vezes, deixamos de amar quando
já não nos reconhecemos ao lado daquela pessoa ou quando as versões que
construímos para nós mesmos já não encontram repouso naquele abraço. E, outras
vezes, o amor acaba porque falta coragem para reinventá-lo, para fazer
perguntas difíceis ou para ver no outro mais do que apenas a projeção dos
nossos próprios desejos e medos.
O fim do amor é um luto silencioso. Porque mesmo sem brigas, sem grandes eventos que marquem o seu fim, ele deixa um vazio, uma saudade do que foi e do que poderia ter sido. Entender por que deixamos de amar é, na verdade, uma forma de entender por que deixamos de cuidar do vínculo, de priorizar o toque e a palavra, de alimentar o olhar.
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