domingo, 17 de julho de 2022

Abandono ou isolamento?

No tempo que atravessamos e a que curiosamente apelidamos  de "novo normal", há algo que me impressiona profundamente. É o abandono a que muitos de nós ficámos sujeitos, sobretudo após a pandemia. Esta, se por um lado, obrigou ao corte quase total com os nossos amigos e aos hábitos que com eles mantínhamos, por outro, veio obrigar os membros de algumas famílias a um convívio permanente, debaixo do mesmo teto, para o qual não estavam preparados. O que, de certo modo, também acentuou o isolamento de que muitos careciam para suportar o dia a dia. Assim, as medidas de controle da doença, trouxeram consigo movimentos contraditórios, que só acentuaram uma forma de vida propícia ao isolamento.

É este sentimento que o Cardeal Tolentino abordou numa interessante entrevista concedida ao jornal Público e que me atrevo a referir neste texto, porque. afinal, a sua preocupação é também a nossa, de que o isolamento possa vir a conduzir, sobretudo nos jovens, a um estádio de analfabetismo nas relações.

Mais do que a solidão, o que esta situação permitiu detectar foi a vulnerabilidade da sociedade em que vivíamos, na qual não nos demos conta de que estávamos doentes e não sabíamos, como o Papa Francisco  salientou recentemente.

Com efeito, esta, de "qualquer modo, ainda se define em relação ao outro, ao desejo ou a nostalgia de uma presença". O isolamento é pior, é uma forma de solidão negativa, de desagregação própria  e consequentemente da sociedade em que estamos inseridos..

Então o que é que nos pode pedir o futuro? Ou, de outro modo, como é que podemos encarar esse futuro? Para o Cardeal o futuro pede-nos uma capacidade de ler com maior realismo o que somos e o que podemos ser. E exige seguramente uma maior consciência do limite. 

Mas para isso, cada um, cada pais, cada continente, terá que olhar sem defesas o passado, encarar sem preconceitos o presente e sonhar o futuro que desejamos para o mundo. Mas sabendo que esse objetivo só se alcançará, um dia, pela educação e pela solidariedade. Porque, como disse acima, é preciso ter consciência dos limites.

Nós sabemos muito pouco sobre nós próprios. Mesmo quando julgamos que nos conhecemos, um pequeno incidente externo a nós, pode por em causa esse conhecimento e revelar que os fios que nos ligavam a uma serie de pessoas, deixou de existir. É nessa altura que se tem consciência da necessidade de "criar um novo futuro" em que cada fio se liga aos fios dos outros de uma forma mais consistente e verdadeira. 

É possivel? Francamente, não sei. É necessário. E para os que pensam como eu, a esperança faz parte integrante da vida!

HSC


6 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Em Macau continuamos reféns.
Agora já não da pandemia mas da intransigência das autoridades que insistem na busca do impossível.
E, quase três anos depois, estamos muito piores que no início.
O Mundo pulou e avançou como dizia importa.
Macau parou.
Boa semana

Silenciosamente ouvindo... disse...

Muito complicada a vida atualmente.

Tenho 75 anos e meu marido 79, sem filhos e com

a famíliaa mais nova toda no estrangeiro. Há dias

meu marido esteve muito doente e enquanto esperávamos

pelo resultado de um exame pela minha cabeça "desfilou tudo"

e nada era bom, o que significa que do futuro não espero

nada de bom e então só pedia para ter capacidade de aceitação

e de conseguir viver com o que possa vir.

Os meus cordiais cumprimentos.

Irene Alves

Pedro Coimbra disse...

Como dizia o poeta.
Como é que apareceu aquela frase?
Esta coisa tem vontade própria?

Anónimo disse...

Senhora,há sempre uma doce presença ao nosso lado

https://youtu.be/gVLt_JxV5ds

Ambrósio

Anónimo disse...

🌷

Anónimo disse...

Estou consigo nas suas preocupações. Realmente este "novo mundo" assusta. Resta-nos a esperança que faz parte da vida. Com todas as incertezas que nos assolam todos os dias.
Abraço. Tenha uma boa noite
Maria