sexta-feira, 1 de julho de 2022

Editor versus autor


Conheci Rui Couceiro, editor, de uma forma curiosa. Um dia, recebo uma mensagem sua dizendo-me que gostaria de falar comigo. O encontro não foi imediato, mas acabou por realizar-se e eu fiquei curiosa  de saber quem era aquele jovem editor que, na altura, me pareceu uma pessoa que tratava as questões ligadas ao seu trabalho de forma um pouco fria e pragmática, mas que inspirava uma enorme confiança. Talvez , quem sabe, porque a nível profissional, eu sou das autoras que nunca falhou até hoje, um compromisso e pareço quase germânica em tudo o que a ela respeita. Foi esse, o lado essencial, que me pareceu que o Rui também possuía. 

Porém eu sou menos formal, talvez porque na idade dele, me comportava de um modo muito semelhante ao seu. A idade e o prazer de viver, foram torneando, aquecendo, enfim, desformalizando mesmo, alguns dos meus contatos. Curiosamente, apesar de nada se ter concretizado profissionalmente entre nós, eu fiquei com uma vaga pena - coisa que raramente acontece comigo - de não termos trabalhado em conjunto.

O tempo passou e eu fui estando atenta ao seu trabalho. Por isso há dias, foi com enorme surpresa que recebi uma mensagem sua a convidar-me para o lançamento de um livro seu. Primeiro achei que tinha lido mal. Depois confirmei a verdade. O editor que eu conhecera, dera um salto para o meu lado, numa altura em que, por acaso, sei muito mais do seu percurso profissional, do que à época do seu contato sabia.

Assim e porque estava fora do pais, devo confessar que tive de subverter a minha agenda, para estar em Lisboa e poder estar presente no lindíssimo salão do Casa do Alentejo, repleto, mas repleto, de gente muito conhecida, de amigos e de uma massa literária muito especial.

A apresentação foi um sucesso e devo confessar que gostei particularmente de ouvir Luis Osório que, no fundo, queria tanto como eu, saber a razão do salto dado. do que levara o Rui a dá-lo. Não pude ficar até ao fim da explicação dada pelo autor, mas do que ouvi, muito dificilmente acredito que naquele local e já no avançado da hora, ele pudesse ir muito fundo nessa questão. 

Mas será que nós sabemos, sempre, de forma clara, as razões profundas pelas quais em determinada altura do nosso percurso, fazemos o inesperado? Duvido. Habitualmente há um conjunto de razões tão complexo que apenas intuímos que umas são mais importantes do que outras.

O Rui resolveu dar um salto e continuar o seu caminho. Escolhendo um lado ou mantendo-se nos dois. Quem vai ganhar não sei, mas sei, isso sim, que o salto valeu a pena, o livro é mesmo muito bom. O futuro do Rui será o que ele quiser e o fizer mais feliz. Tem quase todos os dados na mão. 

Eu só posso sugerir, vivamente, que leiam o BAIÔA SEM DATA PARA MORRER, da Porto Editora. E  desejar-lhe que ele enverede pelo lado que maior prazer lhe dê!

HSC

10 comentários:

Anónimo disse...


Vou comprar!

Anónimo disse...

Já comprei e estou a ler. E a gostar!

Anónimo disse...

Menina Leninha

Porque não há data para morrer com este calor infernal que tal um Olá?
Qual o sabor de sua preferência?

https://youtu.be/scqSadvgLGU

Helena Sacadura Cabral disse...

De avelã, se faz favor!

Anónimo disse...


Dra Helena
Quando comecei a ler o livro, confesso que disse para comigo "isto não é para mim". Mas considero tanto a sua opinião, que insisti. Em hora boa o fiz. O livro que terminei hoje, é uma excelente escolha e um belíssimo tratado de muitas das nossas vidas.
Pareceu-me algo autobiográfico e por isso fui procurar saber quem era Rui Couceiro. Julgo ter apreendido o essencial. Resta-me uma curiosidade. Ele faz parte da vasta lista dos seus conhecidos ou pertence ao estreito grupo dos seus amigos. Aqui e ali no livro, lembrei-me algumas vezes de si que não conheço pessoalmente mas que é minha irmã espiritual!

Anónimo disse...


Um livro invulgar. Direi mesmo singular. Faltam-me umas poucas páginas para o terminar. Quem é aquele homem que voluntariamente se isolou para viver "outra vida" na casa dos seus antepassados?

Anónimo disse...


Acabei há poucos minutos de ler o BAIÔA. Ainda estou sob o efeito da sua leitura. É um livro sobre o qual valia a pena fazer um debate entre o autor e dois leitores. Um que, como eu, tivesse gostado muito e outro a quem o livro não tivesse agradado. Teria muito interesse.
Depois vi os comentários e sabe o que me surgiu na cabeça. Que a Dra Helena escrevesse com o autor um livro. Assim como, no tempo do Independente, ter feito, por brincadeira, uns contos a meias com o Pedro Paixão.
É que como refere acima um comentarista ao longo da leitura do livro, várias vezes me lembrei de si.
Sei que é uma excelente diarista e se recusa a publicar. Sei que é igualmente boa na epistemologia, mas recusou fazer mais do que a Querida Menopausa com a Rita Ferro. Porque é que tendo a dra e o dr Couceiro algo em comum não mostram como duas gerações diferentes veem uma série de temas?
Seria uma surpresa e um best seller com certeza.

Pedro


Helena Sacadura Cabral disse...


Caro Pedro
Calculo que seja alguém do tempo em que eu era diretora de Novos Projetos na Socci, pela referência que faz à brincadeira com Pedro Paixão. Espero que tenha gostado do livro, isso sim, espero mesmo.
Livros a duas mãos pressupõem vários fatores que, aqui, se não verificam. O Dr Rui Couceiro é um editor muito respeitado, que decidiu, nesta altura do seu caminho, ser também escritor. E fê-lo com uma estreia que lhe dará, possivelmente, mais uma nova perspectiva de carreira. Ganha o editor que vestiu a pele de autor e ganhamos nós, os que escrevemos, por sabermos que ele já esteve na nossa situação.
Mas, obrigada pela sugestão que, noutra época, poderia até ter alguma chance!

Anónimo disse...


Segui o seu conselho, mas não sei se concordo consigo. Não fiquei satisfeito.
Fiquei com a sensação que algo faltava ao livro embora não saiba explicar o quê. Tem que ver com a narrativa, porque o texto é francamente bem escrito. Há naquelas vidas, na vida do protagonista algo que ele procura e não encontra embora pense que sim. Não sei se me terei feito entender!

Alfredo Tornes

Anónimo disse...


Trata-se de fato de um livro singular. Mas só podia ter sido escrito por um português. Para o colocar lã fora a tradução teria que ser feita por alguém que conhecesse não so muito bem a sua escrita avulsa, como teria que o conhecer como pessoa.
O autor disse numa entrevista que este era o livro que ele gostaria de escrever. Sente-se isso!

Helena