sexta-feira, 8 de maio de 2020

Tudo pode ser melhor

Se alguma vantagem esta pandemia trouxe a alguns foi uma profunda mudança na hierarquia dos seus valores. Não será em todos para melhor, mas acredito que para a maioria de nós, o saldo será bem positivo.
Sou muito independente e no principio disto tudo já me via rodeada de obrigações não assumidas mas que eram naturalmente necessárias. Durante anos o que eu mais apreciava - e aprecio - é o silêncio da minha casa. Vivo numa rua tranquila onde de manhã ainda se conseguem ouvir o cantar dos passarinhos e alguns trinados dos amoladores. Apesar de não gostar do local onde habito, marcadamente residencial, não posso deixar de concordar que, à noite e ao fim de semana , isto tem algo de provinciano. Talvez seja por isso que os meus filhos sempre se opuseram a que eu vendesse esta casa... Mas agora, quando os preços descerem, alugo uma pequenina em Campo de Ourique e vou para lá viver. Nunca me santi como pertença da Lapa, apesar de aqui ter bons amigos.
No mesmo sentido, se antes a família era o meu porto de abrigo, agora sinto-os como uma das minhas razões de querer viver. Dá-me um imenso prazer ver crescer os meus sobrinhos e ver envelhecer o meu irmão mais novo, que faz 70 anos e continua um engenheiro apreciado e requisitado porque escolheu uma área, onde bons existem muito poucos. E, como vive muito bem, tem prazer em partilhar com a familia as mordomias de que goza.
Os verdadeiros amigos, aqueles que gostam de nós nos bons e maus momentos foram tantos que eu pergunto se realmente os mereço e como os vou compensar quando isto terminar.
A espiritualidade, ao longo de 4 meses de confinamento, foi lentamente ajudando a cumpri-los da melhor maneira e a mostrar-me que em todo este período houve pessoas que estiveram muito mais abandonadas do que eu. 
Deus tornou-se maior e as nossas conversas bem mais longas, o que permitiu que o primeiro ano sem o luto da morte do meu filho Miguel, tivesse atenuado as nossas diferenças -não eram mais que ideológicas porque, no resto, eramos muito parecidos - e tornado a semana de 24 de Abril a 1 de Maio, datas da sua morte e nascimento, num gostoso relembrar de boas recordações.
Enfim, se esta pandemia nos roubou muita coisa, também pode ser um caminho novo para os dias que nos faltem viver.

HSC

5 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que consegue ver o lado bom de tudo isto e da tragédia que lhe aconteceu. Eu confesso que não consigo...

Anónimo disse...

Penso que finalmente surgirão novas regras a nível mundial, há muito necessárias, para impedir novos contágios de origem animal.
Os virologistas há muito que chamam a atenção para o risco de práticas de consumo de animais selvagens e da medicina tradicional chinesa (práticas que não são exclusivas da China).
Devido à sobre-exploração dos recursos naturais, o risco dos vírus que circulam nos animais passarem para os humanos, tornou-se uma bomba-relógio, como vemos pelas epidemias desde a segunda metade do séc.XX: Ébola, Febre de Lassa, SARS, MERS, Covid-19.

Anónimo disse...


Os bons amigos são a familia que escolhemos, diz o ditado e a vida te-me provado que sim!

Anónimo disse...

Tudo mudou fora de nós e dentro de nós. Mudam uns para melhor, mudam outros para pior, ou antes, uma parte dentro de nós pode mudar para melhor ou para pior, vamos mudando, quer queiramos, quer não. As estruturas sociais e políticas também têm de mudar, temos de nos preocupar com a prevenção de uma próxima, ou próximas pandemias.
Percebemos todos que não há planeta B, que temos de operar de forma orquestrada, e não individual e privilegiada (já não serve para nada, a longo prazo), contra a pobreza, os vírus, a poluição, o aquecimento.
Não basta a vacina tão justamente aguardada, é preciso prevenir futuras situações de catástrofe.

Anónimo disse...

🌷