É com imensa comoção que escrevo estas linhas sobre Maria Velho da Costa - na vida real, Fatima Bivar - uma pessoa a quem me liga metade da minha vida e dos meus filhos.
De facto, ela é madrinha do Miguel e, na sala de partos, assistiu ao nascimento do Paulo de quem gostava muito. Este dois factos dão-vos, certamente, a natureza dos elos que nos ligavam e, portanto, a medida da minha dor. Apesar de no fim das nossas vidas, só esporadicamente estarmos juntas, cada vez que nos falávamos, esse simples telefonema, era em si mesmo, uma alegria.
Já partiu outra nossa comum amiga, a Isabel Barreno, que juntamente com ela e a Teresa Horta - que não conheço - havia de escrever um livro que provocou um abanão sério na sociedade portuguesa.
Teve uma vida profissional preenchida e, acredito que, a seu modo, terá tido através dela, momentos de grande felicidade. Foi casada com um outro grande amigo meu, o Prof. Adérito Sedas Nunes - que, para muitos foi o pai da Sociologia em Portugal - de quem tem um filho - que segue as pezadas profissionais do progenitor.
De uma enorme cultura, com um sentido apuradíssimo do humor, ela foi uma parte importante da parte mais desinteressante da minha vida. Talvez por isso, os momentos que, nesse período, passámos juntas - e foram muitos - são absolutamente inesquecíveis!
Adeus Fátima, com o meu abraço ao teu filho João.
HSC
11 comentários:
Lamentavelmente a cultura portuguesa está mais pobre. Partiu mais uma grande figura da nossa literatura. Maria Velho da Costa como ficou conhecida. Li alguns dos seus textos. E também do Professor Adérito Sedas, este, por força da minha formação académica. Sendo a minha licenciatura em sociologia do ISCTE era ponto assente ler as suas teoria. Sendo-nos sempre recomendado como uma grande figura da sociologia em Portugal.
Tanto um como outro não conheci pessoalmente, no entanto, são nomes marcantes e que a minha geração, de algum modo acompanhou. Ambos deixaram um legado à cultura e ao mundo académico.
Maria
As três Marias só não foram presas pelas suas Novas Cartas Portuguesas (1972) por causa do 25 de Abril de 1974, mas foram interrogadas, foram a tribunal e foram maltratadas (Maria Teresa Horta, relatou ter sido até perseguida e agredida na rua por desconhecidos).
Todo o seu processo, com repercussão internacional, foi para mim o mais valente abanão sobre a realidade portuguesa, sobre a dimensão da repressão e censura do Estado Novo, sobre a condição repressiva da mulher.
Não podemos esquecer.
Conheço melhor a obra de Maria Teresa Horta, li As Luzes de Leonor, e a sua poesia erótica. Nasci nos anos 70, mais tarde tomei conhecimento da polémica das Novas Cartas Portuguesas, escritas em conjunto pelas chamadas Três Marias (Maria Velho da Costa, Isabel Barreno, Maria Teresa Horta) e se não soubesse o que então se passou (não sei se chegaram a ser presas, mas o caso esteve feio) nunca me passaria pela cabeça que fosse possível.
M Teresa Horta escreveu este poema, ontem, para Maria Velho da Costa
«Não sei Fátima /explicar/ sequer aquilo que sinto/ este nada atordoado/ esta queda/ este vazio/ Esta saudade assustada/uma rosa magoada/ A falta do nosso riso».
Que sorte a sua te.la tidopor amiga. Era alguém muito especial!
Damásio
Partiu alguém que deu muito à literatura portuguesa.
Sentidos pêsames.
Lamento muito a sua morte e respeito o
que está sentido.
Paz à sua alma.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves
Embora esse não tenha sido o objetivo das suas três autoras, as Novas Cartas Portuguesas foram considerados um dos mais relevantes manifestos do feminismo internacional. Mas a sua obra é muito mais do que um manifesto. As autoras nunca revelaram as partes que cada uma escreveu. É igualmente muito interessante que a obra tenha sido escrita a seis mãos.
Nascemos no mesmo dia 26 de Junho, mas com cerca de trinta anos de diferença.
Maria VC também escreveu argumentos para cinema, entre outros, trabalhou com a realizadora Margarida Gil- Rosa Negra, etc.
Obrigado pelo epitáfio, Helena. E pelo abraço. Só hoje - 20 de junho - tive oportunidade de ler. Desses tempos remotos, de antanho, terei menos memórias, e bem mais difusas, mas não deixa de ser verdade que (nos) evocamos através das histórias e recortes emocionais que outros contam.
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