domingo, 8 de fevereiro de 2015

Certezas


Diria que até entrar na categoria dos "enta", sempre terei tido mais dúvidas do que certezas. Com o passar dos anos, o processo de maturação pessoal foi-se alterando e, hoje, creio estar numa situação diferente. Não tenho mais certezas mas tenho menos dúvidas. Explico-me.
Em criança vivi o período da guerra. Não entrámos nela, mas sofremos as consequências que ela nos trouxe: senhas de racionamento na alimentação, simulacros de ataques aéreos, disciplina de gastos. Tudo nessa altura era, para mim, incerto, à excepção do amor familiar. Era ele que compensava o que eu não sabia.
Depois cresci, estudei e o futuro, quando tinha vinte anos, dependia de algo que classificávamos, então, como "o fim da ditadura". Foi sob ela que arranjei trabalho, me baptizei e constituí família. E foi, também, contra esse jugo que, com muitos amigos, me indignei. 
Entretanto, as minhas incertezas continuavam a existir. Todavia diferentes, porque agora não era só de mim que se tratava, mas também de dois filhos que decidira pôr no mundo. Veio o divórcio e com ele, por estranho que pareça, comecei a ter certezas "daquilo que não queria". Foi a grande mudança na minha vida e a oportunidade de saber quem realmente era.
Quando chegou o fim da ditadura, o meu quadro de referências tinha mudado muito. Saber o que não queria permitiu-me, afinal, hierarquizar uma série de valores, estabelecer um mínimo de certezas e, enfim, reconstruir-me. Hoje, posso dizer que as certezas que tenho serão poucas, mas bastante fortes. E, em simultâneo, as dúvidas que persistem são, também elas, bastante escassas. E menos importantes. 
Assim, com este espartilho - mínimo - consigo aceitar, com razoável alegria, o dia a dia sem fazer grandes projectos. E, com esta bela idade, ser ainda surpreendida pela vida!

HSC

5 comentários:

TERESA PERALTA disse...

Helena:
O meu desejo é que com essa "bela idade" seja sempre surpreendida por gestos ou acções muito boas, e que as decepções, a partir de agora, sejam banidas do seu mundo.
Beijinho :)

bea disse...

É uma cartilha pessoal de por onde viver.

Fatyly disse...

Muito reconfortante e que Deus a mantenha assim e o futuro a Ele pertence!

Eu aproveito ao máximo o novo dia que me é dado, tirando sempre algo positivo e perante a convulsão actual neste mundo "onde vale tudo". Inseridos numa UE que se desfaz tal tabuleiro de xadrez que leva um piparote, ainda continuo a acreditar que "a vida dos mais novos" irá melhorar, porque tudo passa...até nós passamos.

Boa semana e obrigado por mais esta pérola.

Beijos

Anónimo disse...


Bom dia Helena!
Tenho dúvidas, algumas certezas, muitas questões.
As certezas, já consigo por em prática algumas, mas resta-me a coragem de por em prática outras, as questões são demais.
Aos 43 anos, ainda vivo na incerteza de muitas, o tempo ditará, me ensinará o melhor percurso.

Carla

Anónimo disse...

Desejo-lhe com toda a certeza um bom almoço.
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