terça-feira, 13 de novembro de 2012

Francisco Louçã

Francisco Louçã deixou a liderança do BE, mas não deixou a política. Ainda bem. Explico porquê.
Durante longos meses, no Fio de prumo, coluna semanal que,  por alguns anos, mantive no Diário de Notícias, era frequente ocupar-me do "inefável Louçã". O meu filho Miguel sempre respeitou este meu enjeite de estimação e apenas um dia, de raspão, a rir, sussurrou que eu escrevia e ele, à segunda feira, ouvia...
Não era tanto o conteúdo do que Louçã afirmava. Era a forma como o afirmava. Havia um qualquer rasto de seminarista naquele seu jeito de se expressar que em mim devia desafinar alguma corda.
Porém, devo ter sido das pessoas que mais e melhor acompanhou a sua carreira porque, de algum modo, era também acompanhar o meu infante.
Nas aulas e porque os seus livros são bons, muitas vezes os seus discursos foram tema de conversa e os textos leitura obrigatória. Confesso que o fiz só por ter uma noção muito apurada de que os meus gostos pessoais nada tinham a ver com o que eu entendia que devia ensinar.
Depois fui-me habituando, embora continuasse discordando. É um tribuno de um certo género que eu conheço bem. E julgo que essa espécie de inflexibilidade do seu discurso terá feito com que muita gente mais velha se tenha afastado de o escutar.
A doença do meu filho Miguel fez-me olhar o BE com outro respeito. E, nesse campo, Francisco Louçã soube conquistar o meu coração. Discordavam muitas vezes, zangavam-se outras tantas mas, sei-o hoje, eram, de facto, amigos. Descobri, afinal, em Louçã uma humanidade escondida que, julgo, cativou a minha estima. Como também acabei por descobrir naquele grupo, mais três outros seres especiais: a Mariza Matias, o João Semedo e a Paulette.
A política portuguesa precisa de oposição lúcida. E não se pode dar ao luxo de dispensar quem sabe pensar. Mesmo que eu não concorde com ele, entendo que pode e deve continuar a ser ouvido.
É por essa herança que Louçã deixa, que eu não posso deixar de desejar ao meu estimado João Semedo, sucesso na metade da bicefalia directiva que lhe vai competir.

HSC

9 comentários:

Brown Eyes disse...

Excelente texto, de uma sensibilidade que me emocionou.

Um beijinho para si

BE

Dalma disse...

Mas será que ele acredita que as suas soluções nos salvariam? Ou o que ele diz é meramente "coreografia política"?

Fatyly disse...

Para além da politica existe sempre o ser humano...e pena é que a maioria só conheça esse lado (não falo da vida privada) depois de saírem e ou partirem!

Gostei do que li!

Um abraço

Manuela Silva Mergulhão disse...

Tenho um grande apreço por Louça, sempre o escuto,Tal como o fazia por o seu filho Miguel.
Beij Manuela

Maria Filomena disse...

Cara senhora,
tenho um pé atrás com pessoas que passam uma imagem de fanatismo!!!!
Corro léguas.....
E como a imagem que nos é passada é a do político irredutível, que algumas vezes dá "bom dia à cavalo" e "pisa na bola", de forma feia,
mantenho a minha opinião a respeito dele: quero distância!

Anónimo disse...

obrigada pelas suas tão lúcidas análises.
o seu miguel e o louçã faziam um dupla que se completava.
espero que o joão semedo e a sua camarada de direcção saibam manter vivo o espírito que herdaram, mas ...
um abraço e continue que nos ensina a pensar (pelo menos a mim),
lb/zia

Isabel Mouzinho disse...

Compreendo o que quer dizer, mas não consigo concordar, a não ser com duas frases:"A política portuguesa precisa de oposição lúcida" e "Havia um qualquer jeito de seminarista no seu jeito de se expressar que em mim devia desafinar alguma corda". Só que eu conjugo os verbos no presente, porque continuo a não apreciar aquele estilo.
Percebo, no entanto, que motivos afectivos a tenham feito vê-lo com outros olhos.
Beijinho
Isabel Mouzinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Todos nós temos dos políticos uma "imagem". A que eles nos dão e a que nós fazemos. Esta última é o resultado da simpatia, da antipatia ou da indiferença que a primeira nos provoca.
Todavia, por detrás da imagem existe uma "pessoa" que nós não conhecemos. Por isso, imagem e pessoa confundem-se numa só.
A oportunidade que eu tive foi de conhecer Louçã pessoa. E foi dele que falei.
Quanto ao político com quem não concordo, prefiro pensar no que ele diz, a ouvir certos políticos que por aí andam a autoproclamar-se...

Isabel Mouzinho disse...

Tem toda a razão, Helena!
O que eu conheço é o Louçã político e desse não gosto, definitivamente.É só desse que falo, subjectivamente, como é natural.
Beijinho :)