O fim de semana foi recheado de dois happenings políticos: o Congresso do CDS e o discurso de Sócrates a preparar o do PS. O primeiro tentou trazer alguma renovação. Se a consegue ou não, só futuro com os seus resultados eleitorais, o dirá. No último tivemos a novidade do discurso ser não o do PM, a que estamos habituados, mas o do "candidato a". É uma espécie de dupla personalidade. Uns dias o engenheiro fala como chefe de governo, outros como futuro secretário geral. Os psicanalistas, melhor do que eu, saberão classificar a patologia.
Agora vamos aos factos, à realidade comezinha que consome os nossos dias. Em dois meses já cá canta um "orçamento suplementar". Tenhamos de convir que, chamar de suplemento, à global correção de um que foi acabadinho de aprovar, tem algo de insólito.
Mas mais insólito ainda é o seu conteúdo, se atentarmos nos dados estatísticos previstos para Portugal, pelas instituições internacionais. Os quais são bem mais gravosos do que os já bem graves, aprovados pelo governo e considerados como reais.
A título de mero exemplo, o suplementar aponta para um deficite público que irá ficar pelos 3,9 quando a Comissão Europeia já o situa nos 4,6.
Enfim, pode dizer-se que esta equipa administra não a terra em que vivemos, mas o Portugal das Maravilhas e, como tal, todos os coelhos são permitidos. O problema é que nem todos nós nos chamamos Alices!
Helena Sacadura Cabral
1 comentário:
Talvez seja esse um dos grandes e principais problemas da ascensão ao poder...ser difícil, parecendo por vezes até doloroso, de abandonar. A classe política deveria servir o país e não servir-se do país. Deveria combater a corrupção e não ser corruptível. Deveria combater o abuso de poder e não apoderar-se do que é público, como se o simples facto de serem governantes lhes conferisse o direito de fazê-lo.
Sou de uma geração pós 25 de Abril e a verdade é que noto que hoje em dia poucos são os jovens que se interessam pela política. Aqueles que se interessam mais afincadamente não o fazem sem que as suas intenções não sejam a maior parte das vezes dúbias. Criou-se a ideia de que, aliadas à política, as oportunidades são mais fáceis e mais rápidas de atingir, o que não é de todo mentira.
O "nosso" PM e digo "nosso" porque acho que ele é de quem votou nele, e como tal, meu não é com certeza, não quer, como é evidente, abandonar o trono. Este é um ano de eleições e convém ir preparando o terreno disfarçado de PM. Enquanto isso, o coelho do Portugal das Maravilhas continua a dizer: "Vou chegar tarde, vou chegar tarde!" e quando acordarmos do sonho não vamos concerteza ser Alices porque chegámos demasiado tarde para reparar os erros que deixámos que outros cometessem.
Ana Rita Alves
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