sábado, 1 de novembro de 2025

OS IMPROVISADORES

Há quem precise de roteiro para viver. E há quem se lance no vazio do momento, confiando que o chão vai aparecer — ou que, se não aparecer, ao menos o tombo, possa render boas gargalhadas. Os Improvisadores pertencem a esse segundo grupo: artistas do instante, trapezistas sem rede, poetas do agora.

Sobem ao palco com o mesmo desassombro de quem entra num sonho, sem saber o final. O público lança palavras, ideias, desafios absurdos — e eles transformam tudo em cenário. Um amor impossível entre uma torradeira e um astronauta? Uma tragédia no supermercado? Um rumba sobre a reforma tributária? Eles aceitam. E fazem.

Improvisar é brincar de ser deus e criatura, ao mesmo tempo. Inventar o mundo e habitá-lo. É uma arte que nasce e morre diante dos olhos, sem reprise, sem edição, sem chance de “depois nós melhoramos”. Cada erro vira escada, cada tropeço vira piada.

Há um tipo de magia nisto: o riso cúmplice de quem assiste e percebe que, por um instante, todos estão a criar juntos — artistas e plateia respirando o mesmo susto, o mesmo encanto.

Quando as luzes se apagam, nada fica gravado. Só o eco de algo que foi único, efémero e vivo. Porque improvisar, no fundo, é isso: provar que o instante basta!