terça-feira, 19 de março de 2013

O direito à indignação


O Parlamento cipriota rejeitou sem um único voto a favor a chantagem imposta pelo Eurogrupo. É inacreditável como uma conferência de Ministros de Finanças estrangeiros se outorga o direito de dar este tipo de ordens a um Estado membro da União. E isto com com a complacência dos parlamentos dos respectivos países. Passou-se da guerra tradicional, com a respectiva ocupação do território, à mais violenta forma de luta, que é a do jugo financeiro. 
Seja o que for que daqui resulte – e pode temer-se o pior – houve, finalmente, um Parlamento que não aceitou ser fantoche de Ministros estrangeiros reunidos em conferência telefónica. Chipre merece, nesse campo, o nosso respeito.
Esta decisão do seu Parlamento pode lançar o país na bancarrota e implicar a sua saída do euro. Mas não deixa de ser um gesto de liberdade de quem não quer ser acorrentado e constitui, goste-se ou não, um rombo no monstruoso porta aviões em que se transformou esta União Europeia. Seja o que for que venha a acontecer a verdade é que, depois disto, nada poderá ficar como dantes. 

HSC

21 comentários:

Anónimo disse...

Haja alguém com DIGNIDADE e os cipriotas mostraram que a têm, ao contrário dos nossos governantes que apenas querem agradar para se posicionarem para os "tachos" internacionais.

Isabel BP

zia disse...

Ainda bem que Chipre assim conseguiu ir contra um insana decisão dos "patrões europeus", só é pena que Portugal continue a seguir cegamente o que de lá ditam!
Um forte abraço.
lb/zia

patricio branco disse...

temos o grande exemplo da islandia que devido a não pertencer à ue ou a um grupo, decidiu com plena independencia qual o remédio para a situação financeira em que estava, inclusivamente dando uma bofetada no reino unido e seus bancos.
chipre fez bem, embora a guerra não estyeja ganha, agora devia continuar na mesma linha mesmo que tal significasse uma saida do € ou da ue. de que lhe serve estar dentro?
é falso que um país não pode sobreviver se não estiver dentro da ue ou outro grupo, a suiça, a noruega, a islandia continuam...

Carlos Fonseca disse...

Os deputados cipriotas deram uma lição de dignidade e de orgulho pátrio.

Podem acabar pobres, do ponto de vista material, mas acabam livres, não se submetendo à escravatura imposta pela troikas e quejandos, noutros países.

Que lição para os acomodados deputados (e políticos na generalidade) desses países, que não passam de seres invertebrados.

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Não vai acontecer nada aos cipriotas para além de ganharem o respeito dos outros.

O BCE já veio dizer que não há problema, que ajuda não lhes faltará.

A Gazprom já veio dizer que, se necessário for, 'banca'. Não o fará, porque não vai ser preciso mas serve para que estes totós, estes aprendizes de coisa nenhuma percebam que não se pode faltar ao respeito a uma nação.

Um abraço, Helena!

Anónimo disse...

Grande Post!
Sinceramente, numa altura destas, em que alguns poderosos na Europa (designadamente a RFA/RDA – ALE de hoje) se preparavam para, começando pelos mais fracos e mais pequenos (Chipre hoje, amanhã quem mais?), lhes sugar o tutano das economias, a decisão do Parlamento Cipriota ter optado por esta posição, é de louvar!
Convém saber, para aqueles que o desconheciam, que o nosso Ministro das Finanças (MF), Victor Gaspar, votou a favor desta decisão sobre Chipre, na reunião do “Eurogrupo”, o mesmo que entendeu ser de confiscar parte dos depositantes cipriotas!
É caso para nos perguntarmos:
e se vier a suceder com Portugal? Com este MF, Victor Gaspar, já sabemos com o que contar, visto VG ter confirmado o que já sabiamos, ou seja, que é “um colaborador entusiasta do eixo dominante europeu” (esta frase, com todo o respeito, transcrevi-o de um excelente Blogue, que abordou e muito bem esta questão).
Sinceramente, começo hoje a pensar que o tal projecto europeu, que levou ao que é hoje a UE e ao Euro, poderá ter os seus dias contados.
Não serei eu a verter uma única lágrima por este projecto que já mostrou do que é (ou não é) capaz.
Estimada HSC, continue a surpreender-nos - corajosamente - desta forma!
Seu leitor, com estima,
P.Rufino





Maria disse...

Nós é que somos uns cordeiros mansos. Até os gregos nos avisaram..... não fomos nós que elegemos estes meninos imberbes e loiros? A população cipriota, pouco mais de 1 milhão, não dorme à sombra da bananeira. Oxalá se mantenham firmes. Há 2 anos ouviram-se vozes do FMI de que a banca do chipre estava de boa saúde....agora, estão à beira de um resgate? que tipo de gente é esta que têm o destino de povos na mão?
Cptos
Carmen

Emília Pinto disse...

D. Helena
Dar-lhe os parabéns é pouco , merece tudo e muito mais.
Vi a Senhora ou hoje ou ontem na televisão, páro logo o que estou a fazer!"EU BABO" com a sua maneira de "ESTAR", e rio-me com as suas gargalhadas, graça tem muita, acerta bem, como a sua indignação ao rumo que querem impor no Chipre!Apre!Ninguém aguenta!!

Venho várias vezes ao seu blog ,leio com prazer , tem força e dá força(também deve ter os seus momentos mais "doWn",a vida é mesmo assim, ora dá ,ora tira.. Como a Senhora também digo "obrigada às minhas filhas", já a minha Mãe mo dizia, e eu ficava envergonhada,
Até breve e já agora também gostei do Senhor Mário Zambujal...valeu estar reformada,gosto de ouvir histórias e a Senhora, sabe como ninguém contá-las
Herminia Lopes

Teresa Diniz disse...

Geralmente, a dignidade tem um preço. Mas também gera uma mais valia, chamada respeito.
Permita-me que partilhe o seu texto.

Teresa Peralta disse...


Abriram então um precedente que não vai ficar adormecido nas relações europeias. Mas, se não fosse este, seria outro qualquer, porque os exageros pecam por não ser, durante muito tempo, tolerados. As revoltas tornam-se eminentes...
Quero crer que os nossos governantes vão tirar daqui muitas ilações que permitam reajustar políticas fracassadas, até porque a reviravolta já se sente anunciada, e trabalhem com mais afinco para o bem comum....
Outro abraço, ainda, do Dia de S. José.

rmg disse...


Totalmente de acordo com o texto .

Só não garanto que tenha sido um "gesto de liberdade" enquanto não souber quem resolve a questão de fundo que , essa , está lá inteirinha : o próprio Chipre , a UE e o FMI ou a Rússia.

RuiMG

Dalma disse...

Continuo, sem que ninguém OBJECTIVAMENTE me explique qual seria a alternativa. Seria a de Chipre? E de onde viria o dinheiro para pagar os ordenados? Provavelmente se Chipre for à bancarrota e sair do Euro terão os russos a financia- los já que são estes os grandes depositantes nos bancos de Chipre!

Fatyly disse...

Inteiramente de acordo e subscrevo!

Sérgio disse...

Eu tenho uma visão um pouco mais pessimista e maquiavélica: não acho que a decisão do Eurogrupo tenha sido "irracional", mas antes absolutamente propositada, com o objetivo de enviar uma mensagem a uma série de países. "Ou se endireitam, ou vejam o que vos pode acontecer". O Chipre é o país ideal para "servir de exemplo", afinal é um país minúsculo com um peso insignificante dentro do contexto do Euro.

Este episódio todo, incluindo as referências ao gás do Chipre feitas por muito bom responsável politica e não só, recorda-me um episódio da história europeia. Pouco depois da 1ª Guerra, a Alemanha começou a não conseguir pagar as indeminizações de guerra. A dada altura, os Franceses invadiram uma zona da Alemanha, desmilitarizada, rica em carvão, para "compensar" as falhas nos pagamentos ficando com a produção de carvão. Esta situação teve grandes impactos na população alemã, uma vez que o carvão era fundamental para aquecer as casas durante o inverno. Mas... Que se lixe a população, e paguem mas é o que devem, a bem ou a mal. E com estes episódios, um certo partido nacional-qualquer-coisa, lá foi capitalizando apoiantes na Alemanha. De facto é fácil ser-se arrogante perante os mais fracos...

Anónimo disse...

E veja-se o desplante, como alguem que manda no nosso País, achar que é uma medida certa. Só pode ter uma leitura: Preservar o emprego num futuro próximo (...).

Blondewithaphd disse...

Sim, pode ser uma viragem. Mas para quem já está acorrentado...

olinda silva disse...

Cara Helena,
Mais uma vez, obrigada pela reflexão.
Acho assustador que se abram precedentes destes.
Um beijinho
Olinda

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

O gesto de Chipre revela muita coragem e dignidade. Tudo vai mudar, diz-nos. Claro. Os poderosos não querem mais disto, atitudes tomadas sem a sua intervenção.

Raúl.

DL disse...

O porta-aviões é telecomandado a partir de Berlim, claro está.

irene alves disse...

Neste momento não sei que definitivo terá este
caso, isto porque a Presidente do
FMI disse ontem, que o Chipre tinha
que cumprir o acordado e o Presidente do Chipre disse que iria
continuar a negociar.A Igreja é que
tomou uma decisão que ainda não tinha visto qualquer outra Igreja
tomar. Que iriam vender bens para
ajudar o país a resolver os seus
problemas e não ter que se curvar
perante a Troika...Veremos a evolução desta situação. O problema
foi forte, mas não sei se o Presidente quer cumprir a decisão
do Parlamento. Ainda é cedo para
sabermos como termina isto.
Mais uma vez o nosso Ministro das
Finanças tomou uma decisão em
representação de Portugal que nos
envergonha, e depois do que o
Presidente da República disse e
para ser coerente com as suas
palavras deveria dizer ao Primeiro-
-Ministro para demitir Vitor Gaspar.
Beijinhos Dª. Helena
Irene Alves

gipsofila disse...

Há muito que acho que o nosso País tem de se opor à obediência cega. Este é um povo antigo, com garra. Tem de haver uma alternativa ao que se está a passar. É preciso dizermos basta e enfrentar os excessos de cabeça erguida. As notíciasdo Chipre deram-me um pouco de esperança...