sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Uma débil democracia

Por múltiplas razões andava completamente alheia ao que pelo burgo se passava relativamente a declarações feitas por Isabel Jonet. 
O texto que abaixo reproduzo, é uma parte do que João Pinto Basto escreveu sobre o assunto, no blogue Estado Sentido. 
Decidi escolher apenas este parágrafo, porque ele traduz algo mais grave e vasto que o caso específico a que o texto integral se refere. E sobre o qual, repito, desconheço os contornos. Ele retrata um comportamento, hoje frequente entre nós, e que está a corroer a nossa frágil democracia.

"...o debate público em Portugal está, paulatinamente, a atingir uma preocupante dimensão de intolerância democrática. Não se dialoga, não se discute, não se aceitam pontos de vista contrários, impõem-se opiniões, instiga-se a infâmia, tudo isto a despeito de qualquer noção mínima de convivência democrática. Para piorar a situação temos a virulência que, em certos momentos, grassa inesperadamente nas redes sociais. O acusacionismo gratuito e a discussão fácil e pedestre são, por vezes, os pratos fortes nestes meios. Não se pondera, lança-se lama e estilhaçam-se reputações com uma facilidade inopinada..."

Um país minimamente civilizado não funciona, nem poderá funcionar, assim. A intolerância, seja ela de que natureza for, liquida qualquer democracia e prepara o terreno para as ditaduras do pensamento único.

HSC

16 comentários:

Anónimo disse...

De facto, acredito que Isabel Jonet tenha sido mal interpretada. Efetivamente não é por não comer bife todos os dias que uma criança está mal alimentada, ou subnutrida. Pessoalmente, até nem gosto muito de bife prefiro carnes brancas ou, de preferência peixe. Acontece que existem actualmente crianças que já não comem (NADA ou QUASE NADA) em casa. Eu trabalhei durante vários anos em contextos escolares e via crianças que, às onze horas da manhã ainda estavam em jejum. Isto já não foi agora, foi há uns três anos (mais ou menos) acredito que seja pior actualmente. É preocupante imaginar que crianças tão pequenas (ainda em idade pré-escolar) tenham como única refeição quente a do almoço (recordo ainda que cheguei a reforçar o almoço de algumas crianças, pese embora isso não fosse solução.
Do meu ponto-de-vista foi isso que causou grande indignação.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Vânia
Você tem muita razão, mas o meu post é sobre a intolerância. Não sei quase nada do que se passou nem o contexto em que se passou. Tenho admiração pelo trabalho desenvolvido por Isabel Jonet e a carta que me fizeram chegar sobre ela é insultuosa para qualquer pessoa.
Uma coisa, é a trágica situação de miséria que o país atravessa. Outra, é a total incapacidade de certas pessoas a quem pense de modo diverso. Outra ainda é o aproveitamento político que alguns vêm fazendo do insulto e da intimidação.

Anónimo disse...

tem razão de achar que hoje tudo e todos têm de estar "contra"...
contudo vi e ouvi isabel jonet que logo achei que foi muito triste tanto na forma como no conteudo do que disse!
as pessoas não se devem habituar a ser pobres - elas infelizmente são pobres, têm fome e nem pensam em comer bifes e/ou em poupar ãgua (afirmou que antes se lavava os dentes com um copo de agua e agora era de torneira aberta) - que tristeza da parte de quem tem, na realidade, tanta responsabilidade!
vale apena ouvir o que a dita senhora disse para se entender o barulho que está a gerar!
um abraço forte,
lb/zia

Anónimo disse...

Cara Drª HSC

Eu conheço as declarações mas não a carta a que faz referência, estou assim limitado na análise, pelo que escrevo sem atentar ao caso em particular.

E escrevo apenas porque não queria deixar passar em branco uma afirmação sua ("... insultuosa para qualquer pessoa") que deixa transparecer, se compreendi bem, que a tolerância será sempre em relação às pessoas e não aos seus actos.

Tal é exactamente o que preconizo. A tolerância afere-se não de uma posição de superioridade em que de um pedestal se tolera o outro, mas de uma posição de absoluta igualdade em se tolera o "próximo" sem condescender os seus erros. E tolera-se exactamente porque não se concede, porque se ama o próximo e porque este não nos é indiferente.

Hoje em dia, cada vez mais assim penso, não é só o bom senso o bem mais mal distribuído à face do planeta.


Nuno 361111


Hélia Cruz disse...

Cara Helena,

Eu vi a entrevista com a Isabel Jonet e penso que houve aproveitamento político. Para se ser saudável não é necessário comer bifes todos os dias. Acresce dizer que há obesidade infantil, devido à fast food ingerida por alguns adolescentes que quando são confrontados em algumas Escolas Públicas com refeições saudáveis, não comem porque não gostam. Há Escolas Públicas em que esses jovens são sinalizados e são dadas refeições, estando abertas, inclusive, no período de férias. Posso ainda mencionar que há famílias que discretamente recebem alimentos. Há que preservar a dignidade humana e infelizmente nos tempos actuais há muitas pessoas empobrecidas.
Sempre com amizade.

Anónimo disse...

Claro que sim, querida Drª Helena.
As pessoas estão saturadas deste clima de insegurança e miséria e disparam em várias direcções. Pelo que vejo nas notícias e comunicação social, em geral, porque a situação política actual tem também grande destaque nos programas ditos de entretenimento as pessoas já não sabem a quem atribuir culpas, a verdade é que não podíamos continuar com o "porreirismo social" (desculpe a expressão mas foi utilizada por um professor de história e achei-a bastante interessante e elucidativa acerca do modo como vivíamos) há, efetivamente que fazer contenção e esta atitude tem de começar nos agragados familiares. Mas nem todos pensam assim e depois, lançam-lhe pedras e viram-lhe as costas. Eu confesso que ouvi qualquer coisa, enquanto me preparava para sair de casa... mas não sei ao certo, mais tarde li um artigo sobre. Subscrevo a mensagem da presidente do banco alimentar porque, julgando eu, utilizando uma expressão metafórica (ou pelo menos simbólica) foi interpretada à letra e acredito que foi isso que fez espoletar todas estas críticas às quais Isabel Jonet tem estado sujeita.

rosaamarela disse...


Helena,

Sabe que a admiro e não tome esta resposta como uma ofensa, aliás estou de acordo com o seu post, mas há mt mais para ler na blogosfera :

http://www.ionline.pt/opiniao/perigosas-omissoes-isabel-jonet

AEfetivamente disse...

Concordo,Helena. Excelente post.

rmg disse...


Debatemo-nos com o défice financeiro mas , e talvez mais ainda , com o défice cívico .
E eles estão muito mais ligados do que muita gente que pouco pensa possa pensar .
Por isso não gostamos que nos ponham um espelho na frente ...

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Como sempre, os seus posts são muito oportunos. A intolerância é gravíssima. É pior (?) do que a ignorância de que nos falava Sócrates-o-Ateniense. E está espalhada por todo o lado aqui em Portugal. Alguma dela ousa chamar-se democrática, com umas desculpas quaisquer. Um horror! É preciso alertar. Obrigado, Helena.

Raúl.

margarida disse...

Ainda bem que pegou no tema, porque a sua opinião importa e o que escreve é considerado.
O que se ouve a Isabel Jonet (há vídeos por aí, nos sites dos jornais e no YT) é normalíssimo em qualquer pessoa que lide com aquilo com que ela lida há tantos anos.
E também o é em pessoas sensatas e equilibradas, que poupam todos os recursos, independentemente do berço e da situação presente.
Os 'protestadores' são de uma falta de razoabilidade atroz...
Estamos uma nação de coléricos.
Com e sem sentido.
Isto não vai acabar bem...

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Pelo que, entretanto, vi e esforçando-me por perceber concluo que Isabel Jonet - que tem dificuldade em comunicar - foi, na actual crise, infeliz nas palavras que usou.
Mas tem, atrás de si uma obra que muitos daqueles que hoje exigem a sua demissão não têm. Acresce que:
1. Já cansa que se identifique a direita com um catolicismo caduco. A Igreja Católica é constituída por gente de direita e de esquerda, tem bons e maus elementos, como acontece em todo o lado.
Mas tem no seu currículo uma obra assistencial que não deve ser esquecida.
2. Não é só a esquerda que tem razão e que pratica o bem. O que interessa são as pessoas e os seus actos. Não são as ideologias.
3. É inteiramente verdade que a situação que vivemos tem responsáveis individuais e institucionais. Não há culpas só de um lado. E Isabel Jonet falou só da culpa individual. Esqueceu a outra. Mas não a branqueou.
4. Nunca falei, logo não conheço, a presidente do Banco Alimentar. Não sei se é rica ou pobre, se é católica ou ateia. Nem me interessa saber. Sei que tem obra realizada e que eu não seria, possivelmente, capaz de a fazer.
5. Numa sociedade democrática temos de aprender a "conviver" e não apenas a viver, julgando que a razão está sempre do nosso lado.
6. A sociedade portuguesa está a tornar-se cada vez menos democrática e mais intolerante, porque onde não há pão ninguém tem razão.
7. Para se discordar não é necessário achincalhar.
8. É por isso pouco democrático o aproveitamento político deste caso. Como hoje Louçã não resistiu a fazer quando identificou Isabel Jonet com o Movimento Nacional Feminino. Não há paciência!

rmg disse...


Não há de todo paciência !
E muito menos quando são certas correntes políticas e/ou de pensamento que dizem ter combatido o anterior regime que utilizam na sua prática diária o lema desses tempos , o de "quem não é por nós é contra nós" sob a forma do "quem não pensa como nós ...".

P.S. - Assim como não me lembro de muitos dos que tanto falam terem alguma vez feito algo para ajudar o vizinho excepto "parole ,parole".
Pelos vistos 1 ou 2 "likes" diários no FB substituem a tal boa acção diária que o civismo (e não a religião) nos deviam impôr .

Manuel Tomaz disse...

Não vou comentar o seu post, mas sim o seu comentário (10.Novem.2012-15.13). MGNÍFICO! Dra. Helena.

Anónimo disse...

Querida amiga Helena,
Sou contribuinte, há muitos anos, do Banco Alimentar, quer nas campanhas de recolha de alimentos nos supermercados quer em donativos. Não vi as declarações da Isabel Jonet na SIC Notícias, transcritas à exaustão nos jornais. Tenho a melhor das impressões dela e do seu trabalho, fundadora em Portugal do BACF.
Penso que não terá sido muito feliz nas declarações feitas, quanto à forma e na qualidade de dirigente daquela instituição tão meritória.
Vejo nos relatos que os dois outros participantes, mais habituados a lides políticas, ficaram atrapalhados, sem saber o que dizer . Há momentos em que é preciso medir bem o modo como se fala e a audiência que se vai atingir, mesmo quando se é sincero.
Mas, como tudo na vida, o que lá vai lá vai e as palavras uma vez proferidas não podem voltar para trás. Não foi por dizer o que disse que Isabel Jonet vai deixar de fazer o bem, como tem feito há mais de 20 anos!
Os que acreditamos no mérito da instituição e da sua dirigente temos de pensar, em consciência, que nada, nestas circunstâncias, nos deve levar a proceder de modo diferente.
Por isso, se Deus quiser, lá estarei no dia 1 ou no dia 2 de Dezembro, para que o meu “carrinho de compras” não tenha falta.
Se a Isabel Jonet não foi feliz no que disse, paciência, tenho a obrigação de continuar a contribuir para que alguém se sinta mais feliz no Natal que se aproxima.
O que não posso é concordar com quem diz que nem mais um pacote de arroz irá oferecer ao Banco Alimentar. Como se esse Banco "precisasse" de alimentos.
Há que pensar que por trás das instituições e das decisões que tomamos estão pessoas, seres humanos.
Quantas vezes criticamos os políticos, e bem, por não respeitarem esse princípio tão óbvio. Será que também desejamos ser como eles?
José Honorato Ferreira

Helena Sacadura Cabral disse...

Não meu querido José Honorato, não queremos. Ou, pelo menos, grande parte de nós não quer.
Queremos ser solidários, porque essa é a nossa obrigação. E felizmente, para muitos, também a sua vocação.
Abraço