quarta-feira, 17 de março de 2010

Alguém me explica?

A quando da revolução dos cravos a onda de nacionalizações foi um processo que nem sequer se discutiu. Era uma caminhada para o socialismo e para uma comunidade mais igualitária. Assisti a tudo isto a trabalhar numa respeitável instituição. E acreditei que a democracia imporia sacrifícios que deveriam ser aceites. Para que os que mais tinham pudessem contribuir para o bem estar dos menos afortunados.
Entendi que a revolução também fora feita para acabar com a guerra no Ultramar e devolver a esses países a liberdade de escolher como queriam viver.
Na família tive quem perdesse tudo e recomeçasse do zero. Não foi isso que nos afastou do país nem da intervenção cívica que entendi ser nossa obrigação. Criei a descendência a acreditar e lutar por esses princípios. Sem jamais impor modelos e entendendo as diferenças como mais valias que deveríamos respeitar.
Agora, estupefacta, e sob um regime de cariz socialista, assisto exactamente ao contrário. Aos netos que acreditam em mim, não sei que dizer, sentindo que é o futuro deles que está a ser comprometido. Sem vergonha.
Nacionaliza-se o que não se deveria, como foi o caso do BPN e privatiza-se aquilo que, antes, sob a mesma ideologia, se havia nacionalizado. Vendem-se os anéis, sem saber para que servem os dedos. Antes tínhamos ouro, agora temos dívidas. As desigualdades sociais são, hoje, mais gritantes. E os portugueses acabam por retornar aos países donde sairam. Só que agora a sua arma não são as mãos, mas sim a sua massa cinzenta, privando Portugal daquilo que ele mais precisa.
E, para finalizar com a cereja no cimo do bolo, é à classe média que se vai pedir, uma vez mais, que pague a crise. Não aos ricos ou à banca, como diziam os slogans que ainda cobrem paredes. Alguém me explica se é isto o socialismo? O tal de "rosto humano"? Onde estão Jorge Sampaio e António Guterres?

HSC

3 comentários:

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Cônscio de que que estou a escrever tarde, corro o risco de "over do it". Mas ouso. Sim, desapareceram os socialistas, como também os PSD (sociais-democratas?) - Parei para pensar -Continuo. Eu não dividiria, permita-me, o "rosto humano" dos que não falam disso, especialmente porque "rosto humano", uma expressão irritantíssima que o meu Pai usava, quer dizer pouco para mim, como também "onde está Portugal?" também não me diz nada (ou pouco).

Acredito em si, Helena, en toute simplicité, croyez-moi, je vous prie!

Bises,

Raúl.

causa vossa disse...

Parece não ter nada a ver com o post anterior. Mas tem, porque reflecte o direito de regresso do Estado que se inebriou no passado presente nos apoios aos pobres e desvalidos desempregados, e agora passada o ambiente de propaganda, retira com as duas mãos aquilo que tresleu sobre a grande obra Keynesiana.

DEVOLVE-ME O ABONO DE FAMÍLIA!
O governo do socialismo democrático de última geração, cínico e incongruente, capaz disto:

«Anuncia-se uma amnistia fiscal a empresas, e a indivíduos, que tenham valores em off-shores e voluntariamente os declarem pagando uma espécie de taxa simbólica.Da AR dizem-me que não estão abrangidos pela medida aqueles casos de fuga aos impostos que já se encontram sob investigação criminal, e que costumam ser os únicos que restam depois dos mega-processos sobre n actividades ilícitas darem em nada.Estas são as amnistias de que o meu povo gosta.Vejamos se compensa.»


Enquanto Isaltino, o primo e os outros de face oculta, exultam de satisfação por poderem finalmente gozar as mordomias em terra própria, que não alheia, o governo de última geração, é também capaz disto com os empregados-desempregados de última geração:

devolvam-me os abonos de família, porque mesmo que tenhas filhos e não tivesses ou tenhas rendimentos, és uma não pessoa, um inexistente, um desabonado da vida, porque correste riscos por ti e por Portugal e te tornaste um salafrário de um profissional independente empreendedor falhado. Dei-te, não sei porquê,talvez por uma estranha universalidade, mas agora exijo-te a devolução porque é preciso cumprir os critérios do PEC!

Helena Sacadura Cabral disse...

Causa Vossa
O que se está a fazer nesse campo como um especialista disse ao Mári Crespo não é um "perdão fiscal". É sim um "perdão criminal", porque a exportação ilegal de capitais é crime punido por lei.
É de facto lamentável que tudo isto aconteça e nada pareça afectar os senhores que nos governam!