quarta-feira, 31 de março de 2010

A propósito de saltos...

A propósito de sapatos de salto altíssimo lembrei-me de Rachida Dati, que foi Ministra da Justiça da França no governo Sarkozy, cuja imagem de marca eram os seus elevadíssimos tacões e também as justíssimas calças de cabedal preto, com as quais ia trabalhar sem qualquer complexo, carregando a função de uma elevadíssima taxa de sensualidade.
Claro que o facto de ter motorista às ordens, a depositá-la à porta dos locais para onde se dirigia, lhe terá facilitado o uso dos ditos saltos. E também o facto de, em Paris, não haver a lindíssima calçada portuguesa, que tanto favorece os sapateiros de vão de escada e prejudica a Segurança Social, com as sinistradas que para lá envia...
Rachida, filha de um marroquino e de uma argelina analfabetos, foi a primeira mulher de ascendência árabe a ocupar um posto ministerial chave no conselho de ministros daquele país. E também terá sido a primeira mãe solteira naquelas condições.
De facto, aos 41 anos, Dati, a segunda de doze irmãos, resolveu ter uma criança e não revelar quem era o pai. O que deu origem a especulações de paternidade, que foram de Aznar ao próprio Sarkozy.
Figura polémica, de quem se diz Carla Bruni não ter grande simpatia, acabou por ser afastada em condições pouco claras e, hoje, com quarenta e quatro anos e uma filha de pouco mais de um ano, é membro do Parlamento Europeu e governa o Sétimo distrito de Paris.
Embora tenha trabalhado desde os dezasseis anos para ajudar a família, onde até há um irmão traficante de droga, com condenação judicial, a verdade é que o seu currículo profissional não foi suficiente para conservar a sua pasta, quando esta foi posta em causa.
Se houve, ou não, razões válidas para a afastar, só ela e Sarkozy saberão. E talvez, quem sabe, Carla Bruni. Mas que o facto de ser mulher não a ajudou, isso parece evidente...

HSC

terça-feira, 30 de março de 2010

Fascínio das alturas

Tinha prometido contar a "estória" destas imensas "plataformas", a que se ousa dar o nome de sapatos. Aqui vai ela, no resumo de um artigo sobre o tema, publicado na revista espanhola EPOCA, de 16 deste mês.
Sociólogos afirmam que as mulheres, por norma, têm três ou quatro vezes mais sapatos do que os homens e, nos EUA, onde o estudo foi feito, a média feminina situa-se nos vinte modelitos...
A ideia dos estudiosos desta matéria é a de que o uso deste tipo de calçado é tido como um símbolo de poder.
A obcessão pelo salto alto vem, já, de Isaias, que no Antigo Testamento, "ameaçava" as mulheres que fazim ondas no cabelo e caminhavam sobre plataformas, porque chamavam a atenção dos homens.
Curiosamente a origem deste tipo de vestuário leva-nos, contudo, ao sexo oposto. Com efeito,
os saltos altos começaram com as botas de montar a cavalo - arte eminentemente masculina - pois seguravam melhor o pé no estribo. E, foram crescendo em altura, com o passar dos anos.
Na Idade Média, o calçado com sola de varios centímetros permitia fugir à sujidade dos solos das ruas e das praças. Mas a sua moda data de Luis XIV, o rei sol, que encarregou o mestre Nicolas Lestage - criador das primeiras botas sem costura - de lhe fazer calçado que lhe compensasse a falta da estatura desejada. O resultado foi tão fascinannte que determinou a pena de morte para quem copiasse o seus modelos.
Durante o sec XVII as botas continuaram altas, mas as mulheres assenhoriaram-se das alturas, para o dia a dia. A partir daí a ideia foi exportada par o resto do mundo. Tal facto iria, aliás, ajudar a tornar conhecidos alguns criadores como Ferragamo, Dior, Chanel, Louboutin, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen e, sobretudo, Manolo Blahnick, filho de mãe espanhola e pai polaco, que elevou a sapataria à categoria de arte. Quem não se lembra de Sarah Jessica Parker e dos seus "manolos" na série o Sexo e a Cidade?
A moda actual propõe, mesmo, calçado com formas esculturais, decorações profusas, materiais inovadores e...saltos a partir de 16 cm! Os de Mc Queen, os chamados sitting shoes, têm 30,5 cm e, claro, não são para caminhar. Servem, apenas, para ir de porta a porta...
Os médicos consideram que as sabrinas, totalmente rasas, também não são adequadas. O pé está preparado para suportar 70% do peso corporal na zona do salto e 30% na zona palmar, com saltos que oscilem entre os 4 e os 5 cm. Qualquer alteração a isto, provoca o inverso, ou seja 70% na zona palmar e 30% na zona do tacão, com consequências que vão do joanete, à artrose, a problemas circulatórios e, até, à celulite.
Há, porem, uma postura que permite usá-los. É a famosa tecnica Alexander, um método que pretende corrigir padrôes de movimento e de que é fã, Vitória Beckham.
Satisfeitos? Espero que sim. Mas aqui a autora destas linhas, como não quer partir as pernas, nem ser ridícula, vai ficar pelo meio, que é onde se diz que está a virtude...

HSC

segunda-feira, 29 de março de 2010

A nova solidariedade

Os líderes europeus concordaram, na semana que passou, com um mecanismo de empréstimos bilaterais à Grécia. Para testar o valor deste balão de oxigénio, o governo do Senhor Papandreou vai fazer uma nova emissão de dívida pública, através da qual espera encaixar 5 mil milhões dos 15 mil milhões de euros de que necessita até final de Maio. O que representa quase o mesmo valor da dívida vendida no primeiro trimestre de 2010.
As incertezas sobre este mecanismo - o pacote de ajuda da União Europeia - são, ainda, grandes, pelo que, só após se verem os resultados desta nova emissão helénica, se poderá saber qual a reacção dos mercados.
Na última sexta feira a Europa, com o apoio do Banco Central Europeu, concordou no prolongamento das medidas de emergência para a Grécia, permitindo-lhe que obrigações soberanas de rating até BBB- funcionem como garantia junto do Banco Central.
Eu, pessoalmente, senti um calafrio. Porque me perguntei como irá funcionar a nova solidariedade europeia, quando chegar a vez de Espanha e Portugal...

HSC

domingo, 28 de março de 2010

Ele há ideias boas...

Hoje, depois de uma aprazível ausência dos noticiários nacionais, fui ao cinema e às mercas. Precisava de sapatos - recuso-me a usar estas coisas a que chamam "plataformas" e que demonstram a debilidade da alma feminina - e decidi ir, com uma amiga, às Amoreiras deambular pelas sapatarias, almoçar e ver cinema.
Pois bem, depois de ser olhada de soslaio - que pena deviam ter de mim as moçoilas que me mostravam umas "trancas" nas quais me queriam encavalitar e que eu recusava, perguntando-lhes se me viam em cima aqueles protótipos... - eis que consegui duas soluções. Caras, mas mesmo assim soluções.
O drama é que foram dois pares. Um, misto de sapato e sandália com grossas solas de borracha. O outro, que mais parece o do casamento da minha avó materna, é uma mistura de sapato e de botim. Enfim, fiquei contente e profundamente abalada de finanças. Mas, de facto, pezinho é um suporte corporal que deve ser bem tratado... O nó górdio da questão é que o preço de um deles vai ter de sair de alguma compressão financeira nestes próximos dois meses...
Em seguida fui ver a Sandra Bullock no filme que lhe fez ganhar o Oscar e perder o marido. Chama-se The Blind Side e nem sequer sei o título em português, porque não gostei da tradução.
Pois não é que volto, no espaço de duas semanas, a ficar sentada ao lado da minha amiga Teresa Cotinelli Telmo, que não via há anos? Novo ataque de riso, como não podia deixar de ser. Como é que duas pessoas que se estimam passam anos sem se ver e, em quinze dias, ficam sentadas, por duas vezes, ao lado uma da outra no cinema?!
O filme é bastante côr de rosa a retratar o lado bom da raça branca americana. A Sandrinha vai bem, mas para Oscar...
Enfim, cheguei fresca a casa, sem grandes filosofias mentais ou dramas existenciais. Logo, pensei eu, em condições de voltar a pegar na Golda Meïr, a tal saia justa do post de ontem.
Mas cansei-me de tanta política, fechei-a e vim para aqui!

HSC


Ele há ideias más...

O título desta crónica é muito português. O "ele há" é uma expressão que uso com tanta frequência quanto os brasileiros usam o "saia justa". E têm, até, de certo modo, significados semelhantes.
Pois eu meti-me numa saia justíssima, quando decidi incluir nas biografias que estou a escrever, uma mulher da política do sec XX.
Na altura tive dúvidas - devia, aliás, ter ficado com elas - e pedi conselho aos especialistas da família, na esperança, vã, de que eles sabendo da minha ignorância e pouco apreço pela matéria, me ajudassem na escolha ou me dissuadissem da ideia.
Entre Indira Gandi e Golda Meïr, a opção foi por esta última, "cuja vida dava (e deu) um filme", diziam os sabedores. Pois bem, fiquei a saber que nunca se deve pedir conselhos a especialistas...
Foi um berbicacho dos grandes aquele em que me meti. A vida pessoal desta mulher esvai-se na sua vida pública. E esta não era a que me interessava mais.
Mas tive um benefício. Fiquei a perceber melhor um conflito que se arrasta há anos e de que, afinal, eu conhecia menos do que pensava. Mas que "ele há ideias más", lá isso há. Foi o caso!

HSC

quarta-feira, 24 de março de 2010

Nuestros hermanos

Eu sei que com o mal dos outros todos nós podemos bem. Com o nosso, é que é difícil podermos alguma coisa.
Em vésperas de votação do PEC na Assembleia da Republica, uma das agências de rating mais importantes elevou o risco de Portugal, baixando a nossa posição para AA-, o que nos vai complicar a vida externamente e, em consequência, também cá dentro. Porque, quando o país paga mais caro o dinheiro emprestado lá fora, o que os portugueses pedem na terrinha, fica também mais dispendioso.
A nossa comunicação social não deu grande relevo a outra notícia igualmente importante. É que a Standard & Poors - S&P -, dias antes, havia baixado a notação financeira espanhola, situando-a ao nível de Portugal. Esta agência, que utiliza uma escala de 1 a 10 - de maior a menor fortaleza económica - considera que a rápida expansão do crédito e a sua concentração no imobiliário, coloca, agora, o país vizinho no grupo 3, onde também situa o Reino Unido, a Àustria, Portugal, os EUA, o Cuile e a Arábia Saudita.
Ou seja, devagarinho, vai-se definindo a linha dos grandes - França (grupo 1) e Alemanha (grupo 2) - e o conceito de "solidariedade", depois do que aconteceu à Irlanda e à Grécia, adquire na UE contornos bem diferentes daqueles que, antes, se lhe atribuía.
E como o que acontece aos nuestros hermanos não nos é indiferente - são um dos nossos principais mercados -, a baixa da notação espanhola acaba, também, por prejudicar Portugal!

HSC

terça-feira, 23 de março de 2010

Parece cá...

No jornal El Mundo de 16 de Março, Luis Maria Anson, na sua crónica - Canela Fina - tece uma série de considerações sobre a classe política do seu país.
Basicamente refere que "as grandes inteligências espanholas estão na Universidade, nas empresas, no jornalismo, na investigação científica, nos gabinetes dos advogados, nos hospitais, nas profissões liberais... não na política. As pessoas de valor ficam no seu próprio meio. A res publica não lhes interessa, mesmo que por vezes digam o contrário. À política, salvo excepções, dedicam-se as segundas e terceiras filas da vida espanhola. Aqui não se verifica o mesmo que na Inglaterra ou nos Estados Unidos onde as famílias se esforçam por encaminhar para a res publica os indivíduos mais capazes".
E conta, ainda, que um gande jornalista lhe terá dito que não quereria ter, nem como auxiliares de redação, a maioria dos actuais ministros de Zapatero...
Quando li este excerto pensei que estavam a fazer um retrato de Portugal. A mediocridade pessoal de uma boa parte dos políticos nacionais é, de facto, insondável. Os que não têm profissão nem lucros, quando saem da actividade pública não têm onde cair mortos.
Talvez esta seja uma explicação para uma parte da corrupção de que, entre nós, tanto se fala. É que para compreender um fenómeno é sempre necessário descobrir-lhe as suas causas...
HSC


domingo, 21 de março de 2010

Odores...

Sou extremamente sensível aos odores. Atraem-me ou repelem-me. Mas alguns trazem-me lembranças. Ainda agora, de vez em quando, ao olhar uma estrela ou uma nuvem, sinto o "cheiro da minha mãe". É que os meus pais me prometeram que, quando morressem, me viriam visitar. E que, quando isso acontecesse, ao olhar o céu, eu os reconheceria. Como, perguntava eu? Pelo odor, respondiam eles.
Volta não volta, sinto que estão a bater-me à porta. O cheiro a lavanda de meu Pai e o de flores da minha Mãe, jamais me faltaram e nunca me enganaram!
Quando os meus filhos eram pequenos, agarravam na minha almofada e diziam igualmente, aos pulos, "cheila a mã". E eu ria-me de gosto, com eles a saltar na cama.
Hoje fui sair com um amigo. Metemo-nos no carro, sem destino. Uma hora de caminho feito, parámos frente ao mar. De repente, senti cheiro a flores. Olhei o céu azul onde só havia uma pequeníssima nuvem e disse ao meu amigo que ela era a minha mãe. Sorriu e abraçou-me.

HSC

sexta-feira, 19 de março de 2010

Comentadores e frente a frente

As televisões foram ultimamente invadidas pelos "frente a frente" como se continuassemos em campanhas eleitorais. Naturalmente continuamos e só eu penso que não...
Quando os comentadores não são representantes de partidos gosto de os ouvir porque nos obrigam a pensar ou até mesmo a repensar aspectos importantes das nossas próprias opiniões.
Mas quando de trata de pôr face a face representantes de partidos, para discutirem o que "eles" entendem que preocupa os portugueses é, por norma, um desastre. Ou se irritam e quase se descompõem, ou se limitam a debitar a cassette encomendada e o desastre é igual.
Ontem ouvi Aguiar Branco e Francisco Assis. Dizem-me que são ambos inteligentes. Serão.
Mas Francisco Assis, que mais parece um tribuno dos velhos tempos na retórica e na voz, não deixa espaço para ninguém falar e desliza, com facilidade, para o impropério. Não se trata de palavras impróprias. São as chamadas "meras suspeições" que desviam o debate do que é essencial e atiram para o ataque pessoal, sem qualquer interesse.
Julgo que a televisão não ganha nada com debates entre dirigentes partidários. E que, ao contrário, ganharia muito mais em não meter militâncias neste tipo de programas. Há por aí muito boa gente, sem filiação, que nos faria análises bem mais inteligentes e oportunas sobre os assuntos que nos preocupam. É uma pena que assim não seja. Ontem não aprendi nada!
HSC
Em tempo: agora estão o João Soares e o Diogo Feio. Não os oiço, só os vou olhando, porque estou a escrever. Mas ao menos não estão a gritar. Antes assim...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Alguém me explica?

A quando da revolução dos cravos a onda de nacionalizações foi um processo que nem sequer se discutiu. Era uma caminhada para o socialismo e para uma comunidade mais igualitária. Assisti a tudo isto a trabalhar numa respeitável instituição. E acreditei que a democracia imporia sacrifícios que deveriam ser aceites. Para que os que mais tinham pudessem contribuir para o bem estar dos menos afortunados.
Entendi que a revolução também fora feita para acabar com a guerra no Ultramar e devolver a esses países a liberdade de escolher como queriam viver.
Na família tive quem perdesse tudo e recomeçasse do zero. Não foi isso que nos afastou do país nem da intervenção cívica que entendi ser nossa obrigação. Criei a descendência a acreditar e lutar por esses princípios. Sem jamais impor modelos e entendendo as diferenças como mais valias que deveríamos respeitar.
Agora, estupefacta, e sob um regime de cariz socialista, assisto exactamente ao contrário. Aos netos que acreditam em mim, não sei que dizer, sentindo que é o futuro deles que está a ser comprometido. Sem vergonha.
Nacionaliza-se o que não se deveria, como foi o caso do BPN e privatiza-se aquilo que, antes, sob a mesma ideologia, se havia nacionalizado. Vendem-se os anéis, sem saber para que servem os dedos. Antes tínhamos ouro, agora temos dívidas. As desigualdades sociais são, hoje, mais gritantes. E os portugueses acabam por retornar aos países donde sairam. Só que agora a sua arma não são as mãos, mas sim a sua massa cinzenta, privando Portugal daquilo que ele mais precisa.
E, para finalizar com a cereja no cimo do bolo, é à classe média que se vai pedir, uma vez mais, que pague a crise. Não aos ricos ou à banca, como diziam os slogans que ainda cobrem paredes. Alguém me explica se é isto o socialismo? O tal de "rosto humano"? Onde estão Jorge Sampaio e António Guterres?

HSC

terça-feira, 16 de março de 2010

Antes que saia...

Perdi neste princípio de semana alguém que muito estimava. Não por doença ou idade avançada. Por desastre.
Um dos meus infantes, sabendo a minha tristesa, jantou comigo e arrastou-me - é esta a verdadeira expressão - para um cinema ver um belíssimo filme. No original cham-se "An education" e cá, foi, uma vez mais, mal convertido em "Uma outra educação". Percebe-se a intenção depois de o ver mas, mesmo assim, preferiria que se tivesse mantido a tradução literal. Porque é de educar que se trata. De educar-mo-nos e de educarem-nos. O tema dava para um livro de múltiplos capítulos...
Mas o que mais me impressionou na história foi o conceito e o modo como ele é vivido por cada um dos seus intervenientes. Trata-se da minha geração e por isso, talvez, eu o tenha visto com o olhar de quem tem conhecimento de causa.
Na educação - de agora ou na de antes - há uma parte, importantíssima, que respeita a cada um de nós, e que resulta não só do meio em que vivemos - família, escola, amigos - mas do carácter que temos. Por isso "uma mesma educação" pode ter resultados muito diferentes consoante os educandos. A fita prova-o à saciedade.
Se não viu, veja, antes que saia. Porque, de certo, virá mais enriquecido. No meu caso fiquei menos triste!
HSC

segunda-feira, 15 de março de 2010

Respeitar a diferença

Por norma não falo, aqui, dos comentários que faço na SIC todas as segundas feiras. Trata-se de um espaço que não é só meu e, mesmo que o fosse, sou bastante parca a explanar-me sobre temas que podem ser encarados como de autopromoção. A qual, em si, não tem mal algum - todos os autores tentam promover o que publicam - mas que, em mim, é uma espécie de espartilho que provoca um comportamento atávico. Algo semelhante ao que acontece quando me pedem para "posar" com a família... O que, claro, só conseguem, se for à má fila e eu não dê conta. Enfim, idiotices, que, talvez, um dia, saiba ultrapassar.
Mas hoje abro uma excepção. No programa falou-se de "filhos diferentes". A diferença está habitualmente ligada a uma deficiência e eu tentei explicar que era também importante que a discussão se não cingisse às questões de natureza física. E dei o exemplo de Heidi Klum, modelo, branca e casada com Seal, cantor negro. Heidi tinha já um outro filho duma relação anterior, loiro e de olhos azuis, como a mãe. Os três que teve com o actual marido são café com leite. Mais ou menos escuros. Que terão que conviver, felizes, com essa particularidade.
Aqui está, portanto, um caso em que todas os irmãos devem ser educados para perceber a diferença. Perceber, aceitar e defender.
Infelizmente em Portugal somos educados para tudo... menos para a diferença!
HSC

domingo, 14 de março de 2010

Inesperadamente...no cinema!

O inesperado anda a tomar conta de mim. Explico-me. De vez em quando, almoço com um grupo de embaixadores que, por um motivo ou por outro, atravessaram a minha vida. São sempre repastos agradáveis.
Desta vez foi no Madeirense onde já cheguei mesmo em cima da hora porque o meu vôo, para variar, veio atrasado. Mas fui muito bem recebida, o que compensou uma irritação nascente. Fico sempre satisfeita quando regresso a casa, embora, ultimamente, fique ainda mais satisfeita quando saio...
Depois do almoço fui com um grupo mais restrito ver um filme levezinho, sem história, com a multifacetada actriz Merryl Streep, chamado "Amar... é complicado!".
E é justamente aqui que surge o inesperado. Na cadeira ao meu lado estava a Teresa Cottinelli Telmo, minha colega de liceu, viúva de Daciano Costa, esse homem a quem a arte moderna tanto deve e que eu adorava. Não a via, seguramente, há 25 anos. Caímos nos braços uma da outra, numa risada que lembrava os velhos tempos, perante o olhar atónito dos que nos acompanhavam.
O prazer do reencontro foi imenso e a conversa fluiu com se tivessemos jantado na véspera. Pouco vimos ou percebemos do filme, porque este nos ia lembrando situações idênticas de amigos comuns.
Enfim, cada vez gosto mais dos multiplos inesperados que, na minha vida, sempre vão acontecendo... Sorte minha!

HSC

sexta-feira, 12 de março de 2010

Coisas que sei...ou julgo saber

Na minha vida, como creio que acontece com muita gente, o inesperado tem um papel bastante importante. Explico porque falo disto.
Comecei a escrever regularmente este Fio de Prumo, no dia 7 de Janeiro de 2009. No princípio deste ano, inesperadamente, a minha antiga editora, a Oficina do Livro, hoje integrada no grupo Leya, fez-me um convite. Pretendia transportar para o papel os textos que aqui fui postando. Hesitei. Porque, de facto, o que pretendi quando o iniciei, foi continuar, na blogosfera, um tipo de escrita que, durante anos, fora o da minha coluna no Diário de Notícias. Essa circuntância determinou, até, que mantivesse o mesmo nome.
Mas a editora insistiu e eu cedi. Por razões várias, mas, sobretudo, porque deste modo poderei chegar a todos aqueles que não têm computador e portanto não andam pelo mundo da net. Fiz, por isso, alguns arranjos na escrita e arrumei-a por assuntos e não pela ordem cronológica. Mas o essencial do que escrevi está todo lá.
Assim, em Maio e para a Feira do Livro, lá teremos a obra, que se chamará "COISAS QUE SEI... OU JULGO SABER". Os que o lerem irão perceber a razão deste título!

HSC

quinta-feira, 11 de março de 2010

Já alguém se admira?!

"Inesperadamente a economia portuguesa voltou a mergulhar em terreno negativo, na recta final de 2009, tendo fechado o ano com uma contracção em cadeia no quarto trimestre de 0,2%. O risco de uma nova recessão voltou a estar à espreita".

Esta é a transcrição de uma notícia do Jornal Económico de hoje. Mas os dados em que a mesma se baseia são do Instituto Nacional de Estatística, INE, e traduzem uma revisão em baixa dos que foram avançados, há um mês, pela mesma instituição, que previam uma estabilização - crescimento zero - entre os dois últimos trimestre de 2009. Temos, assim, a primeira quebra em cadeia, depois duma pequena expansão nos dois anteriores.
Em consequência calcula-se, agora, que o Produto Interno Bruto, o PIB, se tenha contraído, pelo menos 1%.
Ora a "recuperação portuguesa", expressão tão do agrado dos nossos governantes, em época eleitoral, assentava em dois grandes pilares. A saber, os gastos públicos de apoio à crise e a exportação. Ora os primeiros vão ter de ser fortemente reduzidos, por causa do combate ao defice orçamental e as segundas, que tinham na Espanha um dos seus principais mercados, serão bastante penalizadas pela recessão que se vive neste país.
Para piorar a situação, a Zona Euro está de regresso ao perigo, e foi por um triz que, na recta final do ano passado, não entrou no vermelho e lá conseguiu uma expansão mínima de 0,1%.
Desgraçadamente, vamos olhando todas estas correcções e já nem sequer reagimos. E, por seu lado, o Primeiro Ministro também não sente qualquer necessidade de se explicar, ciente que está que nada disto tem outra explicação que não seja a das falsas verdades...

HSC

quarta-feira, 10 de março de 2010

Se todos fizerem o mesmo...

Mais de um terço da população portuguesa vai, nos próximos anos, perder poder de compra, pagar mais impostos e ver as suas deduções fiscais drasticamente reduzidas. É o que configura o Plano de Estabilidade e Crescimento, mas que nenhum membro do governo deste país tem a honradez de dizer. Pelo contário, mentem-nos todos os dias um bocadinho mais, para tapar a grande e lamentável mentira pré eleitoral.
Em resumo, só as famílias que ganham até 7250 euros - cerca de 1500 contos - é que não têm agravamentos directos. Os 900.000 que recebem até 17979 euros, vão dispender mais 100. Dois milhões, ou seja o núcleo duro, cujo rendimento de trabalho varia entre os 18 mil e os 41 mil euros vão pagar mais 180 euros e finalmente a classe média alta, ou seja cerca de 400 mil contribuintes, vão liquidar a mais importâncias que se situarão entre os 390 e os 700 euros.
Isto, porque as deduções relativas às despesas de saúde, educação, habitação, seguros e Planos Poupança Reforma, os PPR, passarão a ter limites que castigam não só os mais doentes, como as famílias mais numerosas, com filhos a estudar. À fúria fiscal nem pensionistas nem reformados escapam!
Hoje, no restaurante, um grupo defendia que iria passar a trabalhar apenas três dias na semana. Porque tinha feito as contas e essa era a forma de pagar menos imposto ficando com quase o mesmo dinheiro para gastos.
Alguém já se lembrou que as medidas cegas acabam sempre por ter consequências perversas? Fiquei a pensar no que ouvi.
Só quero ver o que se passa no país se a tal classe média que é sempre castigada decidir trabalhar menos, gastar menos e tirar os filhos das escolas...
Por mim vou fazer contas e, se não deixar de trabalhar, passo a fazê-lo ao meu ritmo e gratuitamente ou, quem sabe, viver entre Paris e Bruxelas. Não falto aos meus deveres, mas dou a quem quero o que ganho. Não a quem me esbulha...
HSC

terça-feira, 9 de março de 2010

Como acreditar?!

Leio os jornais de hoje e assalta-me uma tremenda perplexidade. Aliás, ando com ela desde a aprovação do Orçamento de Estado e das razões que levaram que tal acontecesse...
É que, cada vez que vamos sabendo alguma coisa do Plano de Estabilidade e Crescimento, o famoso PEC, o coração dos portugueses sofre sobressaltos. Revolta-se. Fica à beira do enfarte.
Não sei bem o que chamará hoje o Eng. Sócrates àqueles que, ao longo dos meses, foram alertando para as duras medidas que aí vinham. Até agora, eram sistematicamente chamados de praticantes do "bota baixismo". O que serão, nesta altura, face ao que o PEC e o PM pedem a todos nós?
Pura e simplesmente fomos enganados, de modo inadmissível, por quem exerce o poder.
Em período pré eleitoral tudo estava controlado, os investimentos públicos nos grandes projectos eram indispensáveis e não haveria subida de impostos. Tudo mentira. O PEC vai aumentar os impostos, vai abandonar os investimentos públicos e o endividamento vai ser pago pela classe média trabalhadora. É uma vergonha que sejamos penalizados de modo cego, sem ter a mínima preocupação de equidade. E ainda por cima, e sem qualquer explicação pública, foi decidido vender as nossas melhores empresas, as nossas "jóias da coroa", justamente na pior altura possível!
Ah! E ainda será necessário poupar 27 milhões de euros por dia, para chegar em 2013, a um defice que nos coloque abaixo dos 3%.
Alguém se terá já lembrado que "estabilidade" é tudo o que este Plano não garante?!

HSC

segunda-feira, 8 de março de 2010

Da Mulher

Que me desculpem as minha congéneres, mas nunca me senti identificada com o que se decidiu chamar de "Dia da Mulher". Talvez porque não há um "Dia do Homem". Ou, porque mais do que o direito à igualdade de géneros, eu defendo o direito à diferença. Que existe e ninguém nega. Não para se dizer que um é melhor do que o outro. Apenas para dizer que não têm as mesmas caracteristicas.
Gosto muito de ser mulher e nunca me passou pela cabeça como seria se fosse homem. O que sempre pretendi foi a "igualdade de oportunidades" que, essa sim, permite que uns e outras se completem e se não confundam.
A sociedade é maioritariamente feminina e somos nós que detemos a melhor arma de transformação do mundo em que vivemos. Ou seja, a educação. Não são as quotas, não são as leis, não são as comemorações, que mudam as comunidades. Somos nós, homens e mulheres, educados para papeis distintos, que o faremos. E quando falo de papéis distintos quero dizer que homens e mulheres continuam a ser diversos e a ter direito a sê-lo. O que não significa ter direitos menores. Felizmente!

HSC


Excelência

Digamos que o tempo não ajuda à boa disposição. Pessoalmente, começa a fazer-me falta o sol. Mas a metereologia tem certas vantagens, também. Permite trabalhar e ficar contente com isso...
Pois bem, este sábado revi 300 páginas das segundas provas de um livro que deve sair daqui a um mês. Tive uma insónia daquelas que só se curam quando nos levantamos. Foi o que fiz. E, das seis da manhã até à uma da tarde, fiz todas as alterações necessárias. Depois, ouvi música, li jornais e revistas e jantei com amigos.
Hoje, Domingo, fui ao cinema ver um filme notável de Tom Ford. Chama-se "A Single Man" - traduzido, entre nós, mal, como Um Homem Especial... - e é a primeira obra de um realizador que, até agora, só era conhecido como estilista.
O actor principal, Colin Firth, que eu considero um dos grandes da nova geração, tem aqui um papel dificílimo e desempenha-o de modo admirável. O tema das opções sexuais ou, se quisermos, da dificuldade dessas opções quando elas não são "branco ou preto", é tratado de uma forma irrepreensível e com imagens de uma beleza fora do comum. A fotografia, a sépia, e os enquadramentos dão à obra uma dimensão de intimidade como muito poucas vezes tenho visto em cinema. Não há um único deslize, e sai-se da sala com o sentimento de ter aprendido mais alguma coisa sobre o nosso semelhante, afinal tão diferente e tão próximo de nós!
HSC

sábado, 6 de março de 2010

Violência

Fala-se muito ultimamente de bulling, essa forma de violência que nas escolas tem vindo a tomar proporções preocupantes. Por outro lado, e por norma nas escolas superiores, as "praxes" não são menos chocantes e revestem-se de prácticas que deixam qualquer pessoa normal perfeitamente abismada pela brutalidade de que as mesmas se revestem.
No primeiro caso ainda se acredita que, tratando-se de adolescentes, se pode ir a tempo de corrigir, pela educação, esse tipo de comportamento. Embora eu, pessoalmente, duvide muito, da eficácia dos métodos até aqui utilizados.
Mas no segundo a práctica perpetua-se entre jovens, por norma psicologicamente formados, e nada anuncia que consigam modificar-se, a menos que as ditas praxes sejam pura e simplesmente proíbidas.
Em ambas as situações, é dos futuros homens da Nação que se trata. Que precisam, urgentemente, de serem fiscalizados e punidos. Porque é desta raça que saem habitualmente os ditadores ou os violadores...

HSC

quinta-feira, 4 de março de 2010

A pequena diferença...

Após anos e anos de luta pela igualdade de género em matéria laboral, ficámos a saber que a aproximação salarial se fez a um ritmo anual de 0,23% . Concretizando, diremos que em 1985 a diferença entre os salários dos homens e das mulheres era de 27% e que duas decadas e meia depois essa diferença se situa nos 21,6%. São dados do Ministério do Trabalho.
O que significa que os homens terão ganho mais 240,8 euros por mês do que as mulheres. Em termos anuais e considerando catorze vencimentos, a "mais valia masculina" representa 3370 euros.
Apesar de saírem mais mulheres do que homens da Faculdade e destas terem não só mais formação académica como melhores classificações, o certo é que não só ganham menos, como os lugares de topo ficam nas mãos masculinas. Há ainda outra descriminação que resulta, ao que se julga, da licença de maternidade que leva à preferência pelos homens. E isto apesar da lei permitir, hoje, ao pai gozar dessa faculdade...que raramente é usada porque "diminui" aquele que faz essa opção.
De facto, tudo vai mudando. Mas para as mulheres o ritmo é de zero virgula vinte e três pontos percentuais. Ou seja... à velocidade do caracol!

HSC

quarta-feira, 3 de março de 2010

Filhos e enteados...

Duas notícias despertaram, hoje, a minha atenção. Uma refere-se à estratégia da União Europeia até 2020, apresentada esta tarde por Durão Barroso, que simplifica e limita o alcance da defunta Agenda de Lisboa 2000 e obriga Portugal - se quiser acompanhar a média europeia -, não só a retirar do limiar da pobreza cerca de 450 mil pessoas, como a duplicar o número de cidadãos com formação superior e a mais que dobrar o investimento em I&D.
Tudo metas simples e fáceis de alcançar, como se vê. Se não fosse trágico, talvez conseguisse sorrir. Como mais do que trágico é irreal, pergunto a mim própria se o Dr. Durão Barroso ainda se lembra do país onde nasceu.
A outra notícia diz respeito à economia paralela. É que, em consequência da crise, o trabalho não declarado está a crescer a olhos vistos e ninguém parece preocupar-se. Trata-se, como se depreende, de labor que sai totalmente ao controle do governo e acaba por onerar, indirectamente, aquele que é legal.
Num estudo recente da Comissão Europeia no qual se analisam os vários métodos de apuramento da dimensão da economia informal, fica visível que os esforços de Portugal nesta matéria, não terão sido suficientes.
Ou seja, entre nós, são sempre os mesmos a pagar a dita crise. Caso para dizer que, na terrinha, uns são filhos e outros enteados...

HSC


segunda-feira, 1 de março de 2010

Buracos

Não, não é do Orçamento nem do PEC que falo hoje. É de buracos. Dos reais. Dos fundos e propícios a uma condução automobilística do mais elevado risco.
Não é possível continuar a ignorar o estado lamentável em que se encontram a maior parte das ruas de Lisboa. Ou o Dr António Costa não anda na capital, ou os seus vereadores não moram cá, ou então, pura e simplesmente, não foram eleitos para tratar de nós.
A chuva e esse tormento para os pés femininos, a que se chama de "típica calçada portuguesa", estão a transformar certas zonas, nomeadamente as mais antigas, num caso de verdadeira calamidade pública.
Julgo que existe um pelouro na CML que tem por obrigação dedicar-se a esta área. Por favor, se existem, se cobram taxas municipais, se a vossa função é cuidar do estado da edilidade, acordem antes que seja tarde e haja um desastre, daqueles que se dão em cadeia, e em que só depois de morrerem alguns portugueses é que se faz alguma coisa...

HSC