terça-feira, 7 de maio de 2024

AS SOMBRAS SÃO HABITÁVEIS

Nas entrelinhas da realidade, onde a luz não se alcança completamente, as sombras desempenham o seu próprio papel. Contrariando a noção convencional de lugares obscuros e inabitáveis, há um mundo subtil e intrigante dentro desses espaços sombrios. De fato as sombras são habitáveis.

Imagine-se caminhando por uma rua pouco iluminada à noite. As sombras dançam em seu redor, criando um cenário misterioso e fascinante. É nesses recantos sombrios que a imaginação floresce, onde as histórias ganham vida e os sentidos se aguçam. Os detalhes dissolvem-se na penumbra, deixando espaço para a mente preencher os vazios com as suas próprias interpretações.

As sombras não são apenas ausência de luz, mas sim uma zona de dimensão própria, repleta de potencial e mistério. Nos cantos escuros dos quartos, nos becos estreitos das cidades, nas profundezas das florestas noturnas, há uma atmosfera peculiar que convida à exploração. É como se cada sombra guardasse segredos, esperando para serem desvendados por aqueles suficientemente corajosos para o fazer.

Num sentido metafórico, as sombras representam os aspetos ocultos da psique humana. São os recantos mais profundos da mente, onde residem os medos, as dúvidas e os desejos reprimidos. Encarar essas sombras internas é um processo de autoconhecimento rumo à compreensão plena de si mesmo.

Além disso, as sombras desempenham um papel vital na ecologia de muitos ambientes naturais. Sob as copas das árvores na floresta, as sombras oferecem refúgio para uma miríade de criaturas noturnas, desde pequenos insetos até mamíferos maiores. Esses espaços sombrios são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas, proporcionando abrigo e proteção contra os rigores do sol escaldante. Portanto, ao invés de temê-las ou evitá-las, deveríamos abraçar as sombras como parte integrante do tecido da existência. Elas convidam a explorar o desconhecido, a enfrentar os nossos próprios demónios internos e a apreciar a beleza subtil que só pode ser encontrada na penumbra. Afinal, as sombras são habitáveis - não apenas fisicamente, mas também emocional e espiritualmente.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Ainda que possa ser assustador enfrentá-las, é absolutamente necessário.
Primeiro o susto, depois a paz.

Marques Aarão disse...

Fez-me lembrar aquela piada que diz: Até um anão cresce na sombra quando o sol vai rasteiro. Ler os seus postais Minha Senhora é como se uma aragem de luz e frescura nos entra pela janela.