sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Jorge Sampaio


Há pessoas cuja personalidade é tão complexa, que se torna difícil sabermos quem realmente são, ou se são aquilo que pretendem parecer ser. Sobretudo, quando a sua existência é longa e muito diversificada. Se a politica interfere, essa perceção é, ainda mais, difícil.

Conheci Jorge Sampaio, advogado, nos já perturbados fins dos anos sessenta. Por razões de natureza familiar, acompanhei uma boa parte do seu percurso. Não foi, no meu caso, um caminho fácil, porque ele foi uma das pessoas que mais me magoou na minha vida. Levei quase cinco décadas a tentar conciliar-me com essa mágoa. 

Hoje todos o elogiarão o seu caráter, a sua carreira e a sua importância na construção do Portugal que temos. Para para mim, termina, enfim, uma dor que, por ser única, me impediu de o olhar como a maioria dos portugueses. Está sanada a tristeza que, ao longo de tantos anos, ainda continuava a aflorar à minha mente. Que descanse em paz é o que, agora, lhe desejo!

HSC

8 comentários:

Ana maria disse...

Compartilho o último parágrafo do seu texto. Que descanse em paz.

Anónimo disse...

Gostei de ver agora o Cardeal Patriarca de Lisboa,na fila para o velório. Apesar de não ser celebrada missa amanhã.

Anónimo disse...

Era ele a pessoa a que se referia no post abaixo intitulado "Memórias"?

Helena Sacadura Cabral disse...


Não. Não era. à pessoa a que me referi no ultimo parágrafo, perdoei porque o saldo entre o bom e menos bom, mesmo assim, era positivo. Com o perdão, pude relembrar muita coisa boa partilhada.
No caso presente, a mágoa, não daria azo a perdão. Apenas acabou, porque um de nós morreu.

Helena Sacadura Cabral disse...


Maria Pires da Rocha.

Não deve ter entendido bem o meu comentário. Por vezes o que magoa mais nem é o gesto. É o que está por detrás desse gesto. No primeiro caso, é sempre possível acertarem-se contas. No segundo, o rombo é tão forte que jamais o permitiria. Por isso é que se deixa passar o tempo, que é o grande obreiro dos nossos atos e da nossa consciência.

Anónimo disse...

Tem razão! Há coisas que não se perdoam nem na hora da morte.

Anónimo disse...

Lembra-se de não ter gostado que muitas pessoas se tivessem manifestado tão friamente quando morreu António Borges? O senhor que tinha tomado atitudes e posições influentes que prejudicavam muitos portugueses.
Mas tinha morrido, tinha família a chorar por ele.

Pois agora lembrei-me disso e apesar de a compreender, penso que também não era preciso vir agora escrever isto sobre Jorge Sampaio. Até porque deixou suposições no ar, dúvidas sobre a sua pessoa, e não havia 'necessidade'.
Mas o blog é seu, escreve nele o que quiser, só achei curioso.

Pedro

Helena Sacadura Cabral disse...


Caro Pedro
Não deixei no ar quaisquer suposições. Essa será leitura sua, Fui muito clara quando limitei as minhas considerações, a algo pessoal, que me magoou profundamente e que, se está perdoado, não está esquecido.
Ser advogado tem este senão: é, muitas vezes, a defesa do indefensável, com vista a defender o cliente. E, em algumas ocasiões, esse tipo de defesa marca o "outro" lado para toda a vida. No meu caso marcou, apesar de ter ganho o processo. E não se esperasse de mim, na altura da sua morte. que eu lhe rendesse homenagem ou ficasse calada. Calada fiquei cinco décadas!