"Faz hoje dez dias, um troço de cerca de 100 metros de uma estrada confiada à guarda das entidades públicas - neste caso, a Câmara Municipal de Borba, sob a vistoria e supervisão da Direcção-Geral de Energia e Geologia e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes - abateu tragicamente, sobre uma ravina de cerca de 80 metros que tinha sido cavada, junto a ambas as bermas, por empresas extractoras de mármore. O acidente - se é que podemos chamar-lhe assim - provocou a morte de cinco pessoas. Por mera sorte, não se registaram mais vítimas mortais: o abatimento ocorreu ainda sob luz solar e num momento de trânsito reduzido nesta via que ligava Borba a Vila Viçosa e onde costumavam circular autocarros escolares, entre muitos outros veículos. Até o cortejo da volta a Portugal em bicicleta ali passara dois meses antes.
Repito: decorreram dez dias. E, uma vez mais, ninguém se demitiu: todos continuam firmes nos seus postos. Apesar de haver sucessivos alertas, que remontam a 2002, de especialistas pertencentes a entidades como o Instituto Superior Técnico ou a Universidade de Évora a alertarem para os graves danos ali gerados por eventuais deslizamentos de terras, potenciados em situações de chuva contínua. Já em 2006 o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação classificara o local como zona de "alto risco".
Tal como em Pedrógão, quando só outra devastadora série de fogos florestais, quatro meses depois, conseguiu desalojar a ministra Constança. Tal como em Tancos, onde o ministro Azeredo demorou mais de um ano a extrair consequências políticas do furto ali ocorrido e que ainda permanece por esclarecer na totalidade. É um padrão na nossa administração pública: a ética da responsabilidade rumou a parte incerta..."
Excerto de um texto de Pedro Correia in Delito de Opinião
Protelei muito um post sobre este assunto, porque ainda me parece incrível acreditar na série de "acontecimentos", que vêm ocorrendo, de forma sistemática, no nosso país. Começámos o ano passado em Tancos e, de então para cá, não há mês em que não se verifique um "expectável" acidente, tantos os avisos que, tendo sido feitos, foram completamente ignorados.
Não sei como dormirão as pessoas cuja responsabilidade nestas situações foi totalmente alijada. Possivelmente, muito bem.
E os portugueses que sofrem as consequências das irregularidades cometidas, como é que se sentirão? Mal e abandonados, com certeza.
Passou mais de um ano sobre Pedrogão Grande e muito tempo sobre Tancos, para só falar dos mais emblemáticos. O que sabemos deles? O que aconteceu na realidade? Quais os resultados dos inquéritos? Quais os responsáveis? Quem se demitiu por iniciativa própria?
Passaram dez dias sobre o desastre entre Borba e Vila Viçosa. O que sabemos? Que morreram cinco pessoas...
HSC