terça-feira, 15 de agosto de 2017

Cronologia de uma desresponsabilização política


“A 19 de Junho, dois dias após o incêndio de Pedrógão Grande, a equipa do ministério da Administração Interna informou que a rede SIRESP estava “a funcionar com toda a normalidade” e que “em nenhum momento esteve inoperacional”. A 6 de Julho, quase três semanas depois e com muitas averiguações feitas aos serviços da Administração Interna, o governo assegurou que as falhas no SIRESP eram de “menor relevância”. Entretanto, a 17 de Julho, António Costa abria a porta ao reconhecimento de que o SIRESP havia deixado de funcionar num momento crítico, afirmando que “temos de ter uma rede que funcione em todas as circunstâncias – é inadmissível que não funcione, em particular as redes de comunicações de emergência”. E a 28 de Julho, a ministra da Administração Interna assume a existência de um “problema efectivo” no SIRESP, mas deixa o aviso aos seus críticos: “é uma falta de sentido de Estado estar sempre a lançar lama sobre o SIRESP e a desestabilizar”.

“…Tudo isto colocou o governo numa posição desconfortável. É que esta quarta versão dos factos, negada de início e depois forçada pela investigação dos jornais, é incómoda (expõe a incompetência governativa na articulação com o SIRESP) e particularmente problemática para o primeiro-ministro. António Costa assumiu a pasta da Administração Interna no governo de José Sócrates e, nessas funções, liderou a renegociação e a assinatura do contrato do SIRESP – ou seja, isso torna-o co-responsável político do problema que o SIRESP se tornou e pelo conteúdo no contrato desta PPP.
Não surpreende, portanto, que três dias depois, a 12 de Agosto, surja a quinta versão dos factos, desta vez pela boca do primeiro-ministro, para que fique definitiva: o SIRESP “colapsou” mesmo e a responsabilidade afinal é da PT. Vendo para além dos relatórios e dispensando as conclusões da comissão de peritos que o parlamento convocou, António Costa já apresentou a sua (nova) versão dos factos. Uma versão particularmente conveniente, diga-se. Por um lado, iliba o governo e anula as suas co-responsabilidades. Por outro lado, faz de bode expiatório uma empresa (Altice, detentora da PT) à qual declarou guerra e contra a qual tem direccionado as suas críticas – e, já agora, ameaça-a com a mudança do SIRESP para outra operadora. Situação win-win.
Faltam quatro dias para se completarem dois meses desde o incêndio de Pedrógão Grande. Sobre o que correu mal, há versões em abundância, mas certezas ainda só uma prevalece: o governo tudo fará para se descartar de responsabilidades, tanto operacionais como políticas. Sim, Marcelo vincou que há que “apurar tudo, mas mesmo tudo” sobre o que aconteceu em Pedrógão Grande. Mas os actos contam mais: se, no final, aceitar este atira-culpas político, fará também ele parte do logro.

                       Alexandre Homem Cristo in Observador

Que cada um tire as suas próprias conclusões perante a cronologia aqui apresentada. Já nem falo dos 13 milhões de euros cuja rota se continua, de forma lamentável, a desconhecer.


HSC

11 comentários:

Às margens de mim. disse...

Transformar fatos em verdade absoluta leva tempo. Excelente texto!

Unknown disse...

BRONCO É, GALINHA O PÕR...

Silenciosamente ouvindo... disse...

Subscrevo o texto de Alexandre Homem.

Aguardo pelo resultado da tal comissão independente.

Sobre os 13 milhões cobriu-se um silêncio sobre o

assunto. Estranho!!!~

Os meus cumprimentos.
Irene Alves

Anónimo disse...

e viva a credibilidade do "Observador"....

Anónimo disse...

Como não sabe?Pergunte ao seu amigo Coelho,o dinheiro doado no programa de TV,foi entregue as Misericórdias,foi noticiado na altura,portanto o responsável pela Misericórdia de Pedrógão, foi o tal que inventou os suicídios,foi tao ligeiro nisso,também devia ser a distribuir o dinheiro alheio!!E da Arvore da Madeira,não fala? Também morreram Pessoas!!!!

Anónimo disse...

Ainda há, infelizmente, quem tenha dúvidas sobre o caráter do atual primeiro-ministro.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 19:41
O tom do seu comentário é deselegante, para não utilizar outra expressão.
Primeiro. não sou amiga do sr Coelho, como lhe chama.
Segundo, no meu blog falo do que entendo que devo falar e não do que os anónimos, como o senhor, entendem que eu devo falar. O anónimo vem aqui porque quer e não porque eu o chame. Sendo assim, terá que se contentar com o que eu escrevo. Se não gosta, não venha cá.

Maria Isabel disse...

Nem mais Doutora Helena
Anónimo atrevido
Espero que continue a recuperar.
Abraços
Maria Isabel

Anónimo disse...

Esta gente sonha com o Passos Coelho! Isto só pode ser um fétiche. Distorcer a realidade ao ponto de associar Passos Coelho ao sumiço dos donativos de tantos portugueses é doentio. Doentio!
Gentinha enviesada...

Anónimo disse...

E é com o governo que estão esses 13 milhões para gerir? não, pois não?
É sempre engraçado agarrarem em tudo para culpar o governo, mesmo que não seja da sua responsabilidade. São perfeitos? não. Os outros, foram? Céus, não!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Anónimo acalme-se. Onde é que eu disse que os 13 milhões estão com o governo? O que eu procuro é onde eles estão? O Anónimo sabe? Então dê uma ajudinha, para ficarmos todos a saber, já que parece estar bem informado. O anterior governo era mau. Mas este é excelente. A dívida é que não para de subir, mas quem sabe se isso não será também excelente?!