domingo, 20 de agosto de 2017

Uma tardia homenagem


Há dias li uma inteligente entrevista dessa grande actriz que se chama Carmen Dolores. Conhecia-a como espectadora e também como mulher do Eng. Vitor Carneiro Veres, que foi meu Director Geral na então Aeronáutica Civil, nalgumas poucas viagens em que o pôde acompanhar.
Várias vezes me perguntei, ao longo dos anos, qual teria sido o seu caminho após a reforma, dado que era uma das pessoas mais cultas que conheci. Na verdade, possuía aquela cultura que não se alarda, mas que se reconhece de imediato nos comentários feitos a propósito do mundo que nos cerca.
Percebi, infelizmente, que já não pertencia ao número dos vivos e fiquei imensamente triste de não ter sabido da sua morte a tempo de estar presente nas cerimónias para lhe agradecer o que com ele aprendi. E não só foi muito, como bastante importante.
Na sua companhia conheci meio mundo. E em cada parte desse meio mundo a que a vida profissional nos levou, havia sempre alguma coisa que ele me ensinava, fosse da arte, da literatura ou da gastronomia. Era um cavalheiro no sentido mais profundo que esta palavra pode conter e alguém que gostava de partilhar o que sabia.
Durante muitos anos e já a viajar pelo Banco de Portugal, quando me deslocava a cidades como Paris, Mont-Real ou New York o que eu via era, ainda, aquilo que o Engenheiro Veres me ensinara a "ver" e não a "olhar".
Há pessoas que passam na nossa vida e nunca saberão o bem que nos fizeram. Gostava muito de lho ter dito pessoalmente. O acaso não quis. Só espero que alguém que me leia e conheça a viúva ou o filho, lhes possa transmitir todo o apreço que por ele nutri e o muito que lhe devo, pela confiança que em mim depositou!

HSC

4 comentários:

Silenciosamente ouvindo... disse...

Infelizmente não o cocnheci, mas pessoas dessa

qualidade partem em silêncio e não são notícia...

Fica em si aquilo que compartilhou agora connosco.

E era um homem muito bonito.

Os meus cumprimentos.

Irene Alves

Maria Eugénia disse...

Enquanto algumas pessoas fazem tudo tudo para serem marcantes, outras com naturalidade marcam-nos eternamente.
Também tive pessoas assim ao longo da vida a quem ficarei eternamente grata.
Bonita a sua homenagem a este senhor.
Bjs da Maria do Porto

Anónimo disse...

🌷

Anónimo disse...

Na minha infância conheci, na minha aldeia Azere um personagem maravilhoso.
Era o Chico doido. Afinal doido de alegria, pois adorava festas, música e crianças.
Vivia junto ao rio, em casa do barqueiro e todos os dias subia até à aldeia, onde mendigava a sopita, pois a solidariedade dos aldeões nunca lhe recusava uma malga de caldo. Sentava-se, frequentemente num muro frente à escola para ver a saída das crianças
Quando de alguma festa corria atrás das canas dos foguetes.
Conta-se que um dia foi a Coimbra a pé, propositadamente comprar uma gaita de beiços.
E, se falo, agora dele é só para lembrar que nunca, mas nunca constou que tivesse ateado algum incêndio.Esta foi a minha homenagem a um homem que se cruzou no meu caminho