A rotina era sempre a mesma. Saía de casa mal amanhado e ia para o jardim do Principe Real. Agora nem isso, aquilo estava transformado num pandemónio, nem o seu banco lhe deixaram, tão atafulhado aquilo estava. Nem sei porque é que para aqui venho pensava enquanto apertava a banda do casaco, que a manhã estava fria. Era a Lisete que o levava ali. A Lisete quando era viva, pois fora naquele banco de jardim que a conhecera. Ela tinha-lhe sorrido e foi esse sorriso que os havia de juntar. Tanto amor. E o José era a prova, não se lembrava de quando é que o vira, mas sabia que ele estava bem, porque senão alguém havia de lhe dizer que ele estava mal.
A tosse, esta maldita tosse, que viera com o fim do tabaco, mas ao preço a que ele estava, como não deixar de fumar? Fora isso que o médico do Centro de Saúde lhe tinha dito, que não havia dinheiro para vícios.
Lá estava o banco cheio de embrulhos, paciência, ia-se sentar no da frente. A Lisete havia de gostar de saber que ele continuava a ir ao jardim dela. Mas este banco apanhava sol e ele queria mesmo era sombra. Sombra? Sombra que bastasse tinha ele lá no quartito onde vivia. Apesar disso, não se mexeu.
Para quê mexer se daqui a bocado o sol vira sombra, era o que lhe diria a Lisete que já explicara isso ao filho. Será que o Zé também terá explicado o mesmo ao filho dele? Como é que o miúdo se chamava? Parece que era Bernardo, mas que nome mais esquisito. Mas ele não conhecia o garoto, por isso não tinha que o chamar. Se a Lisete fosse viva havia de saber chamá-lo, mas talvez esteja enganado. Hei-de perguntar à Lisete, amanhã...
HSC
6 comentários:
Não sei o que se passa hoje, só leio coisas que me tocam, porque estou a ver este " filme" vezes demais.
Lindo!!! O que eu conheço é igual.
Abraços grandes
Maria Isabel
Uma triste realidade - em muitas pessoas.
Os meus cumprimentos, drª. Helena.
Irene Alves
Helena
Dessa doença ninguém está livre, gostei mas é triste.
Já viu na National Geographic a série Genius?
Hoje dá o 3ª episodio às 23 horas , a vida de Einstein além da mente , muito bom.
Abraço
Carla
Deprimente. Estou desolada. O João Paulo Sartre tinha razão...
Bancos de jardim... de existencial falência! E não há Banco Central que me/nos assista! Vou consultar o Jardim Gonçalves...
LISETE
Helena
Estas palavras dizem muito do Papa Francisco, simpatizo com ele.
Sou um pecador entre pecadores
Papa Francisco
Abraço Forte bem apertadinho
Carla
Solidão ( não desejada?) é MUITO triste em qualquer idade, mas na velhice é dolorosa. O abandono pelos filhos agrava a situação e infelizmente cada vez mais frequente...
Bjs da Maria do Porto
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