quarta-feira, 16 de abril de 2014

Os burgueses


Durante bastante tempo a minha pouca simpatia por Francisco Louçã era conhecida. Mas eu ensinava matérias que tinham muito que ver com aquilo sobre que ele escrevia e, por isso, o seu nome era frequentemente citado e as suas posições analisadas com respeito.
Depois, a doença do meu filho Miguel, a estima que lhe manifestou e a forma com se comportou comigo, fizeram-me olhá-lo de outro modo. Em seguida, veio a sua saída da direcção do BE e a análise política televisiva que passei a seguir atentamente. Agora é uma pessoa que estimo e respeito. Não penso como ele, mas isso não me impede de o ouvir, de o ler e de lhe dar razão quando entendo que a tem.
Ontem recebi um convite para assistir ao lançamento de mais um livro seu, desta vez em co-autoria com João Teixeira Lopes - que aprecio muito - e de Jorge Costa que, confesso, conhecia mal.
Fui com muito gosto e senti-me muito bem numa plateia em que o Miguel estaria em casa. A apresentação foi feita por um membro da Igreja - D. Januário Torgal Ferreira - e pelo sociólogo Prof José M Sobral. Ambos me aguçaram ainda mais o apetite para a obra.
O livro «Os Burgueses» resulta de uma investigação iniciada para perceber as razões da crise, uma das quais tem que ver com a formação histórica da burguesia portuguesa. Os autores quiseram fazer uma investigação para explorar essa história e para a conhecer em detalhe.


Com efeito, núcleo central do poder económico da burguesia portuguesa é constituído por umas dezenas de famílias ou cerca de mil pessoas que constituem 0,01% da população. Quem são estas pessoas, como vivem e como é que um sector tão pequeno da população tem uma hegemonia tão grande do ponto de vista da liderança dos partidos, do ponto de vista da condução económica e do condicionamento dos governos, é a razão deste livro.

Este meu post vem também, confirmar o anterior sobre a "mudança" de posições de cada um de nós, ao longo dos anos. De facto, aprendi a gostar de pessoas com as quais não simpatizava e fiquei mais rica com isso. O que prova, uma vez mais, que devemos ser prudentes nos juízos que fazemos sobre os outros.


HSC

8 comentários:

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Tenho cá esse livro e o meu marido começou hoje a lê-lo. Estou curiosa. Fala de algumas pessoas, penso eu, que conheço e, portanto, estou curiosa para ver o que ali se diz. As pessoas de que ali se fala, segundo me pareceu, são pessoas de quem Louçã não gosta e muitas vezes, se calhar, também ele faz juízos precipitados. Às vezes 'são mais as vozes que as nozes' pois, de facto, os verdadeiros homens do dinheiro não são os burgueses de que julgo que ele fala mas outros (nomeadamente os chineses, angolanos,etc). Os burgueses portugueses são de facto, e na maior parte dos casos, famílias endividadas até ao tutano. Claro, vivem bem, mil vezes melhor do que o comum dos mortais, mas não faz grande sentido serem diabolizados, pelo menos alguns.

Mas porque nem sempre sabemos onde está a verdade dos factos e porque muitas vezes fazemos juízos precipitados, concordei e gostei muito do que escreveu.

Revejo-me muito no que diz. A nossa vida enriquece-se quando nos disponibilizamos para perceber melhor os outros e, tantas vezes, daí nascem emoções mais genuínas do que as adquiridas.

Um abraço, Helena. A sua abertura de espírito é, para mim, uma lição. Obrigada.

Alcipe disse...

Sentimo-nos agora mais próximos de pessoas de quem somos ideologicamente distantes e mais longe de pessoas "da nossa área".

AEfetivamente disse...

Sem dúvida, subscrevo esta parte final (sobretudo) inteiramente. É preciso tempo para conhecermos as pessoas e temos todo o direito a mudar de opinião. Boa Páscoa, Helena.

Isabel disse...

Devemos ser prudentes no juízo que fazemos dos outros, é certo! Mas por vezes, tal como nós mudamos, também eles mudam e passam a ser pessoas mais agradáveis! A mudança de uns e outros faz a diferença!

Um bom dia!

maria isabel disse...

Mal de nós se ao longo da vida não mudamos de opinião.Eu não queria pensar hoje aquilo que pensava com 20 anos. Era muito mau sinal
É verdade que aprendemos com aquilo que os outros pensam,só assim podemos formar a nossa própria opinião
Muito bom texto,obrigada

Anónimo disse...

Venho sempre ao seu blog porque sei que aqui encontrarei sempre uma reflexão sensata e motivante.
Já aqui encontrei animo para a minha vida pessoal, já me comovi com desabafos que teve a coragem de partilhar com quem a lê, já ri com partilhas engraçadas, todas as suas palavras são ensinamentos.
Este foi mais um post que adorei!
Beijinho e uma Santa Páscoa.
FL

TERESA PERALTA disse...

A prudência em julgar os outros cresce à medida que a experiência nos vem ensinando a ser mais tolerantes (como a Helena tanto evoca). Afinal, essa atitude também deve fazer parte do verdadeiro democrata: respeitar as ideias de cada um e, não reprimir os afectos, apesar das diferenças... Pensando bem, a família, que constituiu, é disso um bom exemplo.
Um abraço para si

Glória Vieira disse...



Gosto!