quarta-feira, 20 de março de 2013

Os três estigmas

Há muito que defendo que no currículo escolar três disciplinas - a língua mãe, a matemática e a história - são essenciais, seja qual for a profissão que venha a escolher-se.
As duas primeiras, sabe-se lá porquê, são até maioritariamente consideradas exclusivas, chegando a defender-se que quem vai para Humanidades não necessita de ter grandes conhecimentos numéricos e que quem vai para Ciências não carece de escrever bem.
Quanto à história muitos pensam que não se seguindo a respectiva carreira, a sua importância é reduzida.
Creio que admitir estas posições é um erro fatal. O raciocínio matemático é, como o bom português, indispensável a quem pensa e a quem se expressa. A história ensina-nos quem fomos, quem somos e quem poderemos vir a ser.
Um economista, como eu sou, que não possua conhecimentos razoáveis nestas matérias, caminha para o desastre. O mesmo se aplica, por igual, a médicos, advogados, artistas ou engenheiros.
Todos os dias, no trabalho ou fora dele, usamos estas três ferramentas quase sem sequer nos darmos conta. O problema tem residido naquilo que delas se ministra, ou seja, no facto de não se ter sabido adequar os programas às futuras necessidades de cada ramo de ensino. E, por causa disso, quem segue ciências não sabe expressar-se e quem segue as clássicas letras não sabe o que é uma equação nem aquilo para que ela serve.
É pena, porque qualquer destas matérias, quando bem ensinadas, tem o esplendoroso condão de nos permitir raciocinar muito melhor!

HSC

11 comentários:

Anónimo disse...

Confesso que prefiro o Português e a História à Matemática.
Mas serei professora e todas essas disciplinas serão as minhas ferramentas de trabalho. E depois... é tão bom ensinar que vale a pena o esforço para nos entendermos com as expressões numéricas; o esforço de socializarmos com a realeza e conhecermos intimamente as linhagens das dinastias e enfim, escrever uns belos textos (tipo empresa cor-de-rosa, não tenho nada contra) com base nas ligações familiares da família real portuguesa... uma forma didática e lúdica de se conciliar duas disciplinas essenciais.

Anónimo disse...

Cara Helena,

Gostei de ver aí a história, mas fiz essa licenciatura porque detestava matemática :))

Isabel BP

Dalma disse...

Orgulho- me de ter tomado muito a peito o português dos meus filhos. Como a escola não estava a ensinar- lhes o que eu considerava essencial: saber passar ao papel as suas ideias, ser capaz de comentar as dos outros, adquirir capacidade de análise e de síntese etc,etc arranjei quem lho ensinasse e esse alguém fê - lo magistralmente pois todos eles, sendo da área das tecnologias, escrevem muito bem! Claro que eles foram uns priveligiados e que devia ser a escola a fazê- lo mas também sei, como professora que fui quão difícil é às vezes chegar a todos!

zia disse...

Tem toda a razão, foi por esse motivo que a tive como professora no IES aí em 1967/68, como tudo mudou! (para pior, em muitos casos, principalmente no "ENSINO")...
Um grande abraço,
lb/zia

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo!
P.Rufino

Teresa Peralta disse...


Essa também é a minha convicção. No entanto, estive quase a arrepender-me de ter convencido uma das minhas filhas a escolher Matemática A (Português já era obrigatório e História da Arte não tinha problema) até ao final do secundário, porque, imagine só, que ao chegar a hora de admissão à faculdade, tinha uma nota alta na única especifica exigida (Geometria Descritiva) mas, estava na eminência de reprovar o ano ou, ter que ficar a tentar melhoria de notas, pois, precisava de subir a classificação de Matemática A.
Foi uma altura bastante aborrecida, na medida em que, convicções desta natureza não se podem sobrepor ao enorme peso que as médias exigem e que implicam o atraso do progresso escolar. Felizmente, tudo acabou em bem... No entanto, se fosse hoje, talvez procurasse um bom explicador, que a direccionasse numa aprendizagem, extra programa curricular, pois, para alguém que não está directamente motivado nessas matérias, o nível exigido encontrava-se para além do razoável...
A desgraça seguinte, fica para depois, é, sem dúvida, o Processo de Bolonha...
Boa noite com um grande abraço.

Maria disse...

Minha querida Helena,
Concordo na íntegra com tudo o que escreveu. Estou nas escolas, há muitos anos (sou psicóloga) e constato que o nível cultural, linguístico e de raciocínio lógico abstracto dos alunos, em geral, está cada vez menos desenvolvido, reflectindo-se pela negativa, em todas as áreas, que os mesmos escolham. Fico muito feliz por ter sido muito exigente na Língua Portuguesa, na Matemática e na História com o meu filho de 13 anos, o qual consegue ter já um raciocínio crítico quanto à História da Democracia, que teve o seu "berço" na Grécia. Para ele,apesar de ter consciência que foi aí que nasceu a Democracia, esta era já, à época, muito injusta, o que nos conduziria a uma longa reflexão....
Minha querida, que bom pensar como eu. Há tanta coisa que tem que mudar na educação... Tanta... Mas não é na subtracção dos vencimentos... E... Fiquemos por aqui....
Um beijo grande, desta sua seguidora e admiradora,intermitente...
Maria

Maria disse...

Minha querida Helena,concordo na íntegra consigo.
Beijo grande.
Maria

Anónimo disse...

Dra. Helena,
Concordo consigo, embora também tenha "fugido" à matemática. Só acrescentava uma outra disciplina a Filosofia, que nos ensina a pensar, a questionar, a ter pensamento critico.
Beijinhos Ana

Anónimo disse...

George Steiner, pensador contemporâneo, prof na Univ. de Cambridge, considera que 'a SEPARAÇÃO ENTRE AS HUMANIDADES E AS CIÊNCIAS é a questão mais preocupante e prejudicial da situação académica, mas é muito mais do que académica. ESTA SEPARAÇÃO TORNOU-SE CATASTRÓFICA'.

Para George Steiner vivemos num dos períodos mais selvagens da História, em que a criança é mais escravizada e torturada do que nunca, as indústrias mais produtivas são a droga e a pornografia, etc.

www.presseurop.eu/pt/content/article/1320871-george-steiner-um-certo-conceito-de-conhecimento

Anónimo disse...

Frquentei o colégio alemão do Porto até ao 12ºano e, mesmo tendo escolhido Humanidades (na altura, área D) no 10º ano, continuei a ter Matemática, História, Geografia (e mesmo Biologia) até ao 12º. A Matemática era mais simplificada do que a leccionada aos alunos de ciências, mas cobríamos as mesmas matérias: análise, álgebra, geometria analítica, etc. Ainda bem que assim foi, porque só comecei a gostar imenso de estudar a disciplina a partir do 10º ano. Penso que dois factores contribuíram para isso: o meu amadurecimento e o excelente professor que tive nessa altura. Mesmo a querer seguir Letras (o que fiz), dava comigo a fruir imenso os trabalhos de casa e as sessões de estudo desta disciplina... e nunca tive tanta agilidade mental como naquela altura! Nunca percebi como é que os meus amigos do ensino oficial podiam deixar de ter disciplinas tão fundamentais como a Matemática, a História ou até mesmo a Geografia só porque estavam na área x ou y... Olhando para trás, acho que toda essa preparação me tem sido muito útil, quanto mais não seja para resolver uma regra de 3 simples... :)
Marta