Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de
organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o
engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos
que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela |
inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo
interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada- se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali |
com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.”
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora” (1867)
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Análise séria e acutilante, humorada ou entristecida, do Portugal dos nossos dias, da cidadania nacional e do modo como somos governados e conduzidos. Mas também, um local onde se faz o retrato do mundo em que vivemos e que muitos bem gostariam que fosse melhor!
quarta-feira, 20 de março de 2013
Eça II
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2 comentários:
" Guerra Junqueiro - Pátria - 1896"
"Então não há remédio "...os homens que há muito dirigem os destinos da Nação, ..., quase sempre democratas vazios aos vinte anos,e cínicos redondos aos quarenta, são incapazes de um plano de governo, gerado numa filosofia superior, amoldado a uma razão prática luminosa e traduzida em factos, por uma vontade inabalável e contínua. Que eles, francamente, visam apenas salvar o seu interesse, o seu egoísmo e as suas lantejoulas de medíocres."
Silvério
É admirável a visão que Eça tinha dos políticos em Portugal e que continua,inexoravelmente,na mesma!
É muito triste, ter a percepção de que não houve evolução nenhuma, muito triste.
Continuamos a ver os medíocres e os que não sabem o que é trabalhar,na política e em cargos políticos, a dirigir os destinos deste pobre país!
Temos nas escolas, algo que o sistema criou, onde se pode observar tudo o que Eça diz neste texto: O Conselho Geral, orgão que elege o (a) Diretor (a) das Escolas, onde estão todos os elementos relacionados com um dos candidatos,que já sabe, à partida, que será muito difícil, não ser eleito (a) por este orgão. É isto Democracia? Democracia, é a eleição directa,como era no passado, e onde o voto é que mandava! até nas escolas, se observa jogos políticos... Uma vergonha!
Ah! Eça, Eça!...
Maria, a seguidora intermitente.
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