“Se não fosse o NHS — o sistema de saúde do Reino Unido, onde
nasceram, muito prematuramente, as minhas filhas — elas não teriam sobrevivido.
Elas devem a vida ao NHS. E eu devo-lhe o amor e a alegria de conhecer a Sara e
a Tristana, para não falar no meu neto, António, igualmente devedor, mais as
netas e netos que aí vêm. Se não fosse o SNS (Serviço Nacional de Saúde) eu
teria morrido em 2005, com uma hepatite alcoólica causada unicamente por culpa
minha. Seria também coxo, quando me deram uma prótese para anca. E, sobretudo,
teria morrido, se o SNS não me tivesse dado o antibiótico caríssimo (Linozelid)
que me salvou do MRSA assassino que me infectou durante a operação.
Se não fosse o SNS, a Maria João, o meu amor, estaria morta.
Se não fossem o IPO e o
Hospital de Santa Maria, pagos pelo SNS, ela não estaria viva por duas vezes.
Sem a NHS e o SNS, eu seria um morto, sem mulher, filhas ou netos. Estaríamos todos mortos ou condenados à inexistência.
Não é difícil chegar à conclusão, atingida desde os meus dezanove anos, de que as melhores ideias de todas são a social democracia e o Estado-providência: não tanto no sentido ideológico como na prática.
A nossa família e as nossas famílias só existem e podem existir se não tiverem morrido. Damos graças aos serviços nacionais de saúde — a esse empenho ideológico e caríssimo — que nos tratam como se fizéssemos parte deles.
Devemos as nossas vidas a decisões políticas tomadas por outros.”
in Jornal Público 23/03/2013
Tenho, do tempo do velho Independente, três amigos do peito. Não os vejo tanto como gostaria, mas estão no meu coração sempre da mesma forma. Falo do Miguel Esteves Cardoso, do Carlos Quevedo e do Pedro Rolo Duarte. E sei que eles gostam de mim. Ao grupo inicial haveria de juntar-se a Carla Hilário, que se casou com o segundo e que é a verdadeira bomba inteligente. Faço esta menção porque sigo, atenta, tudo o que se passa com eles.
O texto que acima reproduzo é do MEC e aborda o Serviço Nacional de Saúde que é um tema muito importante. Eu própria já tive de ir, às tantas da madrugada, a uma urgência de oftalmologia a S. José, onde fui muito bem medicada. Não só pela médica de serviço, como pela enfermeira e pelo pessoal de triagem. Mas, sobretudo, fui tratada com carinho que, esse, não está sujeito a taxa moderadora.
O mesmo poderia dizer do Centro Clínico da Rua de S.Ciro, onde, numa emergência, me salvaram um dedo que podia ter desaparecido e me dispensaram todos os cuidados.
Em ambos os casos tive competência e afecto. Que não esqueço.
Como não esqueço o IPO, Instituto Português de Oncologia de Lisboa, onde o meu filho mais velho foi operado e cuidado de forma exemplar do ponto de vista clínico e afectivo.
Por tudo isto, julgo que vale a pena ler o texto do Miguel com toda a atenção. Os portugueses podem perder muita coisa secundária. Não podem perder o seu SNS, que é de todos, mesmo que isso custe muito aos que dele nem sequer se servem.
HSC
15 comentários:
Gosto imenso de ler os textos do MEC, mas, acima de tudo, tem-me apaixonado o verdeiro AMOR que sente pela mulher...
Quanto ao SNS é lamentável as políticas que têm sido seguidas.
Isabel BP
Nós só podemos dar valor verdadeiramente ao que perdemos, sobre o que temos até nos podemos dar ao luxo de produzir discursos um bocado tolos.
É o que muita gente anda a fazer sobre o SNS (a Função Pública, etc,) apenas por razões ideológicas.
Sobre o SNS espero que as contingências do país não impeçam o ministro P. Macedo de continuar a praticar a boa gestão, que sabe fazer, guiada pelo bom senso que sabe ter.
Boa, Helena. Grande texto este seu.
Concordo totalmente. Por conceitos abstractos mas, também, por várias experiências bem reais, corroboro na íntegra o que diz.
Tomara que assim se mantenham, públicos, decentes, humanizados.
E fico contente que o tenha escrito desta forma tão veemente e tão sentida.
Cara Dra. Helena,
Sou, tambem, uma das pessoas que deve muito ao SNS.
O fazer constar publicamente a qualidade do serviço efectuado, por vezes em condições bem dificeis, deveria ser obrigatorio.
Nas tres vezes que fui internada e submetida a intervenções cirurgicas, tive todo o apoio e carinho do pessoal de S.Francisco Xavier. O seguimento de que ainda necessito continua a ser feito com todo o carinho e simpatia.
Tenho apenas um pequeno reparo a fazer a nivel de gestão, que creio seria benefico.
A minha filha recorreu ao HSFX para um parto que se adivinhava dificil, embora tendo um seguro de saude que lhe permitiria uma cesariana num privado onde lhe cobrariam dois ou tres milhares de euros.
Tendo tudo corrido bem e já com o filhote nos braços quiz pagar. Responderam-lhe que não tinha de pagar nada, pois tem todo o direito ao SNS. Insistiu alegando o seguro de saude que paga a uma companhia que apresenta todos os anos milhoes de lucro. Nem assim.
Pouco percebo de gestão e muito menos destas economias modernas, mas gostaria de saber o que obsta a que um hospital publico beneficie, pelo menos em parte de um seguro que não foi usado.
Um Beijinho
Gostei muito de ler este post. As palavras do MEC e as suas.
Emocionei-me até. Como pode alguém pensar em acabar com um dos melhores serviços que nós temos? Sim, dos melhores! O melhor! E não sou funcionária nem nada. Sou apenas uma utente. E sou justa.
Obrigada
Teresa
Querida Helena, um grande beijo dos dois e muitas saudades!
Com que intuito?
Apetece-me imenso dizer a esses alarves que comam sandes de dinheiro.
Concordo plenamente!
O meu pai infelizmente faleceu em Sta. Marta onde foi acolhido já em fase terminal e tratado com carinho e respeito como merecem e deviam ter todos os seres humanos. Não sendo rico, nem tendo nenhum seguro de saúde, foi no SNS que encontrou (encontrámos) o apoio e tratamento nessa fase tão difícil, onde também não foi negligenciada a família sempre com informação e apoio do corpo clínico e assistente social.
Quando o meu pai faleceu fiz questão de endereçar à assistente social um e-mail manifestando o meu agradecimento que ela fez chegar ao conselho de administração.
Vivemos uma época de destruição de vidas e suportes familiares, perdem-se os empregos, perdem-se subsídios, perde-se qualidade de vida, perde-se a esperança!
Chega, de facto chega!!
Neste momento tira-se tudo aos portugueses mas o SNS não nos podem tirar isso aí já ultrapassa todo e qualquer limite.
Um beijinho
FL
Cara Helena
Quem dera que todos tivessem uma resposta atempada e eficaz no Serviço Nacional de Saúde.
Queira Deus que os "cortes" não comprometam tudo.
Quanto ao nosso MEC e à Maria João, é absolutamente surpreendente a dimensão deste amor.
Mais surpreendente ainda porque
quando há muitos anos atrás se falou deste envolvimento, quem os conhecia(melhor ou pior) não acreditava lá muito que esta paixão fosse duradoura. E não era por mal. Pareciam pessoas tão diferentes, na idade, nos gostos, na aparência, nos percursos, enfim...
Quando vertemos uma lágrima na leitura de crónicas do Miguel comungamos da sua tristeza mas também (pelo menos eu) concluímos que, afinal, quem somos nós humanos para avaliar se um casal dá certo ou não...
Que ousadia a nossa, meu Deus.
Quantas vezes, tudo aparenta muito certinho, naquela onda "do parece que foram feitos um para o outro" e pouco tempo depois, o puzzle se revela desconjuntado, faltam ou sobram peças...e já nada dá com nada.
Eu sei que o tema não é esse Helena, mas este dramático amor do Miguel e da Maria João(a maravilhosa João) é uma lição de vida surpreendente.Até parece que o amor faz mesmo milagres.
Afinal,temos tantas ideias feitas e sabemos tão pouco...
Até porque se pagamos (muitos) impostos, temos todo o direito a um SNS decente. Sou acérrimo defensor do SNS (como da Educação Pública), mas quanto às prestações sociais não contributivas, tenho critérios, e não são os vigentes.
Agradeço ao HSM por tudo o que me tem feito e que nenhum privado teve competência para o fazer. Vou para um hospital para ser tratado, não para ser hospedado numa suite com televisão privativa.
Muito bem, Helena. Também gostei muito, muito deste texto do MEC. "O Independente"? Como calcula, muitas vezes não gostei deles, houve campanhas "ad hominem" - ou "ad mulierem" - que me chocaram : mas fizeram algo por criar uma direita inteligente, democrática e moderna. Está-me a perguntar onde está ela agora, essa direita? Ah, desculpe, ouvi mal...
a) Amigo Fritz
Amigo Fritz
Um grande amigo dizia-me, um dia, que eu pertencia a uma "geração de passado prometedor..."!
Era verdade. Foram poucos os que tiveram presente e menos ainda os que tiveram futuro.
Respondendo-lhe, alguma dessa direita inteligente amezendou-se, contentinha da vida. Outra, foi para uma certa esquerda. Outra faz pela vida. E a restante, ainda acredita que tem um lugar na política... estou a rir!
Já tinha lido este texto de MEC porque não os perco. Também lhe digo que o único jornal que lia na época era o Independente que infelizmente acabou.
Não tenho nenhuma queixa do SNS e mesmo que tenha que esperar 7/10 /12 horas para ser atendida (com marcação prévia) pela minha médica de família que está sempre cerca de uma hora ou hora e meia com cada doente, merece a pena. Ela há anos que abraçou totalmente o público e com um empenho fantástico.
Claro que havia muita coisa errada no SNS nomeadamente burocraticamente falando, ou roubo de material, ou ausência de médicos que primeiro atendiam nos seus consultórios e só depois é que se lembravam do público, mas no contexto geral todo o pessoal quer do Centro de Saúde, quer do Hospital Amadora Sintra são 5*****
Mas querem reduzir ou destruir tudo com "cortes cegos" pois claro em primeiro lugar o negócio das ou com as Seguradoras e como tal...a ver vamos que não iremos perder algo que nos pertence e até a quem nos (des)governa que podem ir ao privado XPTO mas se algo corre mal...vão para o público.
Enfim, melhores dias virão!
Mais uma vez estou em total consonância, o SNS que até ao FDS passado só tinha conhecimento do que temos no Algarve ( por vezes muito mal "tratado" pelos veraneantes, que por aqui passam ou passavam o verão)o HD de Faro, sempre com excelentes, tratamentos tanto ao nível medico como restantes colaboradores, pois agora posso dizer que no H Garcia da Horta em Almada o atendimento de urgência foi excelente a todos os níveis, bem hajam médicos do meu país, que tratam assim os seus doentes.
Aqui no H de Faro o serviço de oncologia é de uma humanidade sem limites, infelizmente vi partir o meu pai no ano passado, onde o respeito pelo doente e seus familiares foi de uma dignidade que nunca mais esquecerei.
Obrigada por me dar a hipótese de o expressar.
Sou dadora de sangue, e defensora do SNS.
Um beijo
AC
É uma ternura ler o MEC e também os relatos de amor e ternura que sente pela mulher,os quais considero, serem verdadeiras e atuais cartas de amor. Quanto ao SNS, deverá ser de todos, é de todos e seria uma pena perdermos esse "legado" tão importante, mas do seu texto (com o qual me identifico mais uma vez...) retive, julgo que o principal: ..."para o carinho e ternura, não há ainda taxa "moderadora". Deus nos valha, ainda!!! Um abraço, com ternura também, PAULA FERRINHO
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