segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Voltamos à troca directa


Lembram-se de ter ouvido falar do sistema de troca directa? Ou seja dum sistema em que eu preciso de algo que X tem e X precisa de algo que eu tenho. Logo trocamos entre os dois e não gastamos dinheiro. Ou, quando muito, gastaremos muito menos!
Ora em Portugal, já há uma empresa responsável por gerir este comércio recíproco multilateral. Chama-se Rede Barter.
Criada em 2010, esta Rede cria, promove e gere a realização de transacções entre empresas através de permutas. Para isso, foi criada uma moeda virtual, em que um euro corresponde a um crédito. Ao contrário do comércio recíproco, em que as trocas são apenas directas, aqui são multilaterais, o que significa que uma empresa não tem de trocar directamente o bem ou serviço que tem por aquele de que necessita. Em vez disso, cada empresa tem uma conta individual e disponibiliza aquilo que quer "vender" em rede. "Este sistema não pretende substituir o sistema monetário, dado que se não podem pagar salários, impostos, água, luz ou gás com permutas. Mas há outras coisas podem se-lo. E ao usar créditos para fazer isso, é mais dinheiro que fica na conta bancária e que pode ser usado para mais facilmente pagar o que tem de ser pago em dinheiro".
Uma das principais funcionalidades do sistema de comércio recíproco multilateral é optimizar capacidades ."Desiludi-me ao perceber que o dinheiro, que nasceu para facilitar negócios, acabava muitas vezes por os barrar", conta Nuno Ladeiras, um dos sócios. Começou a pesquisar na Internet sistemas alternativos ao sistema monetário e desembocou no comércio recíproco multilateral.
Viajou para os Estados Unidos, França e Suíça, para ver o que já tinha sido feito e no início de 2010, com a ajuda dos três sócios, abria a Rede Barter, no Chiado, em Lisboa.


Em Portugal a expectativa é vir a crescer a um ritmo de 1000 novos membros por ano.

A vontade de crescer faz com que, neste momento, a empresa tenha decidido não cobrar comissões fixas sobre as transacções. "Vamos adaptando a cada empresa, pelo que a comissão pode variar entre 1% e 7,5%", explica Nuno Ladeiras. O mesmo se passa com o custo de se tornar cliente da Rede Barter. A empresa definiu vários níveis de entrada na rede, que vão de zero euros a 500 euros anuais. Os serviços variam consoante o nível. Neste momento, a empresa está a implementar o cartão da rede, que funcionará a débito e a crédito e permite aos clientes entrarem num estabelecimento aderente e pagarem com o que têm para trocar. Paralelamente, a Rede Barter está a testar os primeiros sites de membros que vão aceitar pagamentos com créditos de permuta, prevendo que comecem a funcionar em breve. "É uma inovação mundial", garante Nuno Ladeiras. E, no caso desta empresa, a crise pode dar um empurrão ao negócio. "Hoje em dia, nada parece seguro e o comércio recíproco multilateral faz depender parte dos negócios não da capacidade de as empresas pagarem, mas da sua capacidade de produção. E isso nenhum banco nos pode retirar", conclui.
De facto não há como as crises para aguçarem o engenho. E, nisso, nós somos muito bons!

HSC

4 comentários:

patricio branco disse...

a permuta devia se usar muito em épocas passadas, em que a moeda era escassa. Deve haver formas inteligentes de a usar, trocando coisas que temos e não necessitamos por outra que necessitamos. é um mercado no entanto complicado, qual a cotação das coisas e as necessidades de cada um. produzo maçãs e vou ao talho trocá las por carne para o almoço ou, mais elaboradamente, troco uma casa na praia por uma na cidade, etc.
um exemplo moderno, recente, mas que falhou e deu em riso foi a tentativa de hugo chavez introduzir oficialmente na venezuela o "trueque" explicando na televisão e dando exemplos das permutas mais incriveis que as pessoas podiam fazer. Deve haver vários videos no you tube com isso.
Mas sem duvida que em certos casos a troca ou permuta funcionará e poderá complementar compras comerciais.

Raúl Mesquita disse...

Não percebo de economia nem de finanças, mas tenho o discernimento suficiente para perceber que a introdução de um terceiro elemento para além da troca causou agiotismo, ganância, injustiça, infelicidade, "bref", tudo o que vemos em grande plano hoje em dia.

Em nota de rodapé, um àparte: Respira-se uma liberdade no seu Blog que o mesmo mereceria o nome de Jornal de Opinião no sentido estrito. Parabéns, mais uma vez, Cara Helena!

Raúl Mesquita.

josa disse...

Gostava de dialogar com o entrevistado. Descrevi detalhes deste tipo do trocas em recente coluna no VisãoOnline
http://aeiou.visao.pt:80/o-que-e-transporte=f641799

e no livro PORTUGAL RURAL,

http://economico.sapo.pt/noticias/portugal-tem-um-potencial-gigantesco-para-poder-sair-da-crise_133811.html

Agradeço contacto,
Jack Soifer
c

Anónimo disse...

Existe uma rede na América Latina ( a partir do Brasil que se chama Solidarius e opera dessa forma convertendo um financiamento inicial (pequeno) no crédito solidárius.
http://www.solidarius.com.br/
M.Martins