quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A inutilidade da austeridade

Segundo o INE - Instituto Nacional de Estatística - a riqueza nacional decresceu 0,09% no segundo trimestre deste ano, relativamente ao mesmo período de 2010. O que significa que Portugal está a perder 4,2 milhões de euros por dia.
Tudo porque as tão salvíficas medidas de austeridade tiveram consequências negativas no comportamento dos mercados e nos consumidores. É o que se deduz dos números oficiais que, se pecarem por alguma coisa, não será por excesso.
Para alguns economistas, entre os quais me incluo, a segunda metade do ano vai ser pior ainda, visto que o mais provável é que o consumo público se contraia ainda mais e as exportações não descolem.
O Ministro Gaspar, muito pragmático, espera que a recessão faça recuar o PIB de 2,3%.
Este é o quadro numa altura em que só se mexe na receita. Os resultados estão à vista e não são animadores. Para quando, então, as mexidas na despesa, senhor Ministro? Talvez essas nos levem a algum lugar...

HSC

22 comentários:

Anónimo disse...

Drª Helena vamos aguardar para o final de agosto a comunicação do corte nas despesas (como anunciou o sr. ministro.

Paulo de Abreu e Lima disse...

Cara HSC,

A Helena sabe, eu sei, quase todos sabemos, que as "mexidas" na Despesa têm de ser estruturais ao invés de conjunturais. As medidas já traçadas, e ainda por traçar, no lado da Receita são, essas sim, conjunturais (uma delas só para este ano) e apenas servem, muito pragmaticamente, para cumprir números orçamentais relativamente às metas fixadas pela troika. A Helena não quererá, eu não quero e quase todos não quererão cortes irracionais na Despesa. Nomeadamente na Despesa Primária, em que 70% representa salários para os médicos, os professores e os polícias (entre outros de superior interesse nacional). Não queira assim que este recém empossado Governo resolva em três meses o que o outro agravou em seis anos.

Cordialmente,

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Paulo
Porque é que as mais valias das operações financeiras ficaram de fora das receitas extraordinárias? E os lucros das instituições de crédito?
Acha que o aumento da taxa máxima do IVA para a electricidade e gás, foi uma medida pensada? A taxa máxima de IVA para a natação das crianças e a taxa mínima para o golfe e festivais, foram medidas pensadas?
A troika não é desculpa para tudo porque este governo já antecipou essas medidas. E é com elas que o país definha.
Sabe porque é que nas despesas é mais difícil fazer os cortes? Porque é aí que estão os boys e as girls do PS, PSD e alguns do CDS.
Não quero que em 3 meses eles desfaçam as asneiras de 6 anos. Quero que me expliquem porque é que são estas medidas e não outras, igualmente rentáveis e menos castigadoras para quem tem menos.
A taxa máxima para a electricidade e gás é uma vergonha inaceitável!

Paulo de Abreu e Lima disse...

Cara Helena,

Estou plenamente de acordo que as novas taxas de IVA de electricidade e gás sejam, digamos, chocantes (bens básicos num país mais ou menos desenvolvido), mas acredito que até aqui a medida seja conjuntural. A propósito, sabe que mesmo com este aumento o preço final para o consumidor está abaixo do real custo energético, designadamente com a subsidiação das energias renováveis...?

Quanto à taxação das mais-valias, como sabe estão sujeitas a englobamento em sede de IRS/C e quanto aos lucros dos bancos, aí a coisa pia mais fino: os bancos portugueses estão basicamente tesos (desculpe-me a expressão), todos aqueles rácios exigíveis não são atingidos por cash mas por operações contabilísticas (sei que também sabe que o grau de probabilidade de falência de alguns deles é eminente...), fazendo destas instituições verdadeiras players comisseiras. Houve tempo em que os bancos iam às empresas procurar capital, agora nem uns, nem outros, têm qualquer folga e a Helena sabe a falta que um sólido sistema bancário faz à economia real...

Ainda quanto ao corte de Despesa. Deixe-me ser naïf e acreditar que não se trata de danças de cadeiras entre boys e girls; deixe-me acreditar que estão em marcha grandes reestruturações, reorganizações, organogramas. Deixe-me acreditar que o Ministério da agricultura e pescas, por exemplo, um dos que o Estado mais sobrepovou de empregos nos últimos 30 anos irá ser tonificado, desintoxicado e racionalizado - sim, também acredito na Cristas.

Enfim, serei exagerado se tiver alguma paciência e dar o malfadado estado de graça, benevolentemente, a este governo, se um terço dos votantes voltaram a dar crédito ao anterior...? Gosto de resultados, mas sei que para serem bons necessitam serenidade e árduo estudo na decisão. A troika não justifica tudo, mas as "trikas" não podem negligenciar, de forma alguma, um desígnio nacional: 5,9%!

Anónimo disse...

Aqui está uma boa notícia! talvez seja este o corte a que o governo se refere: "O Governo assegurou o pagamento da dívida de 200 milhões de euros do Metro do Porto ao BNP Paribas" (daqui: http://porto24.pt/porto/17082011/a-metro-pode-respirar-de-alivio-governo-assegura-pagamento-de-divida-de-200-milhoes/)
Revoltante.

Anónimo disse...

parece que o corte das das despesas já passaram para outubro!!!

Anónimo disse...

Bom dia Helena,
Regressada de férias, já espreitei os textos do seu blog que me faltavam ler e respectivos comentários.
É isto que me agrada aqui: sempre atenta e perspicaz e para mim, que não sou da área económica, os seus pontos de vista são de perfeita compreensão.
Continue.
Um abraço
Benedita

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Permita-me que junte um curto apontamento aos comentários. Christine Lagarde chegou, viu e não sei se venceu, mas disse que "em vez de só se lutar contra as dívidas, há que fomentar o crescimento". Expressif, hein!?

Raúl.

Anónimo disse...

Eu vivo no ALgarve e os restaurante estão cheios, sobretudo os mais caros !!!

Esquesito ? Não é esquesito !

Esquesito é que sejam os portugueses os melhores clientes !

Os Espanhois e Ingleses comem nas tascas e os Portugueses nos restaurantes finos e caros !

Alguém que percebe destes fenómenos "tugas" sabe dar-me uma explicação ?

Aguardo pacientemente !

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das 17:10
Para mim há várias explicações.
A primeira é a de que há muito dinheiro concentrado em poucas pessoas. Essas só raramente irão para o Algarve. Vão para os iates ou
para paragens paradisíacas.
A segunda é a de que o tuga tende sempre a "armar ao pingarelho", a mostrar que tem mais do que pode. Neste comportamento, o cartão de crédito distribuído sem critério foi e é um crime.
A terceira é a de que se tornou vulgar não pagar. E quando o exemplo vem do próprio Estado, que tem dívidas, a coisa vai mal.
Finalmente as pessoas ainda acreditam em milagres e não interiorizaram a crise. Talvez para o ano seja diferente!

Gaivota Maria disse...

O Estado está a apostar nas subidas de impostos copiando os tugas que usam e abusam do cartão de crédito: é fácil, não é caro e dá milhões momentaneamente. Esquecem-se é que depois têm de pagar. O nosso estado está a receber o "nosso" porque é prático. Quando a mexer nas despesas isso logo se verá...Deve estar à espera que a gente se distraia e não veja o que anda a fazer. se até já ressuscitaram a probabilidade TGV...

Anónimo disse...

Cara Helena,

Acho que está a ver mal o filme!

Eu vejo os restaurantes de requinte cheios ( >50€/cabeça) e as tascas estão vazias ( 15€/cabeça).
Nas tascas baratas vão os Espanhois e Emigrantes tugas e os turistas Ingleses nos outros vão a classe Alta Portuguesa ( Funcionalismo Publico bem remunerado , médicos, advogados etc).

Essa dos Iates é mais fumo que outra coisa !

Há uma geração atrás a classe alta portuguesa incluia médios empresários, agora só os funcionários do sistema !

Esse filme da crise é uma realidade mas só se nota nas coisas mundanas da vida! Nas coisas de luxuria e prazer não se vê crise nenhuma 1

Anónimo disse...

Como o Vinho do Porto, este Blogue é ainda melhor, ou mais interessante, com o passar do tempo. Não é por acaso que tem o número de os seguidores que tem e mais de 600 desses, fiéis.
Este Post é do maior interesse, actual e pertinente, tal como o anterior, “Devagarinho Eles Avançam” e outros antes. A reflectir. Assim como os comentários aqui tecidos pela ilustre autora do Blogue. Uma conclusão a retirar de tudo isto é que não é preciso ser de esquerda para se apontar feridas e injustiças sociais. É tão só ser-se lúcido e possuir um sentido de justiça. Sempre me repugnou que alguém, ou um qualquer Partido, se sentisse “repositório da verdade” no respeitante a estas questões de injustiça social. Se o Mundo fosse governado por pessoas com estas qualidades, aqui expressas nos Post e Blogue, estaria bem mais justo, ou seja, bem melhor. Sem ter de ser de Esquerda (ou de Direita).
P.Rufino

Luís Filipe Pereira disse...

Não acredito que o Governo consiga cortar muito na despesa. Só agora é que os partidos que estavam na oposição e são agora Governo, têm a percepção do tamanho "colossal" do Estado. Para cortar é preciso compreender, ter pensadores na Administração Pública em vez de acessores.

Paulo Abreu e Lima disse...

Amigo P.Rufino,

Por azelhice minha, apaguei a conta do Google que sustentava o "Contrafeito", pelo que iniciei há pouquinho novo blogue, e o seu comentário aplica-se a eito a nesta minha frase.

Cordialmente,
Paulo A. Lima

Anónimo disse...

Obviamente que a austeridade não ajuda a economia no curto prazo e é por isso que se chama austeridade.

As medidas económicas não podem produzir impacto imediato como uma aspirina como aliás o Gonçalvismo mostrou. Um Estado em bancarrota como foi herdado não oferece confiança.

A fuga de capitais e a diminuição de investimento externo não começou agora. O primeiro teve um pico no terceiro mês deste ano quando era evidente o descalabro financeiro socialista.

Ganhar a confiança de investidores e empresários demora tempo: não serão 100 dias mas talvez 1000 dias.

Não se pode avaliar os resultados de uma política económica pelos resultados imediatos mas sim num prazo de 3 a 4 anos.

As exportações estão a crescer sustentadamente mas também não dependem só de nós.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das10:26
Dê uma espreitadela nas viagens de portugueses para destinos exóticos - já nem falo no Brasil no Natal - e compreenderá o que digo
E veja quem são os frequentadores dos restaurantes de requinte... que depois no fim de mês não pagam os cartões de crédito.
Portugal transformou-se na sociedade do parecer. Não do ser.
Os verdadeiramente ricos não se misturam e muito menos se mostram!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das 23:52
É evidente que 100 dias não servem de amostra. Mas isso não nos dispensa de apontarmos caminhos já experimentados até por outros países e que não deram resultado. É preciso discutir com a troika alternativas que conduzam aos mesmos resultados sem tantos sacrifícios.
O consumo diminuiu e as exportações não aumentaram. São os últimos dados do INE para o primeiro trimestre, e que a juntar aos anteriores definem a recessão técnica.

Anónimo disse...

Eu sou o anónimo Algarvio , que não vê crise nenhuma nos restaurantes de Luxo!"

Helena,eu vejo as estatisticas com os olhos e não com o pensamento!
O que os meus olhos vêem é que 2 semanas num barraco na Ilha do Farol ( Faro/Olhão) , custa 1500- 2000€, na epoca alta e uma semana na Isla Margarita ou acapulco no México , num hotel de 5 estrelas com passagens incluidas custa 1000€. Vocês vê portugueses por todo o lado, mas quem são os mais pelintras??? Será que ir ao Egipto de férias, por 500€ , transmite a ideia de riqueza , quando essa verba não dá para pagar um jantar a uma familia nos restuarantes de luxo no Algarve!


Quando falo de Restaurantes, para ter uma Ideia, O GIGI , está sempre cheio e a reserva tem que ser feita com minimo 2 semanas de antecipação. Só são feitas excepções para figuras muito graudas!!! Minimo por pessoa 120€ e é preciso não se esticar muito. A clientela é 80 % portuga!!!

O Pine Cliff , organizou um concerto/jantar com o Joe Coker, nem sei se já aconteceu! Minimo por pessoa mesmo com o subsideo estatal do program ALLGARVE , 385 € !!!

Isto é só para ilustrar as minhas estatisticas na base da observação directa!!!
Também conheço pessoas, sobretudo algarvios que vão para o Brasil e outro lugares, como Moçambique etc , mas não são férias de caracter familiar . Têm outros interesses !

Agora estatisticas, é como o outro que diz !! Cada um vê as que quer!!!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo das 17:57
Olhe que o país não é só o Algarve. E quanto às verbas de que fala, insisto é o cartão de crédito que avança. E ao contrário do que diz não vejo portugueses por todo o lado.
Se é como diz, tão barato ir para Acapulco ou Margaritas porque é que não vão para o Minho e ficam a "martirizar-se" no Algarve.
Por mim nem férias fiz, porque preciso de trabalhar quando os outros descansam. Sou como a formiga que olha para as cigarras...

Lura do Grilo disse...

Sobre o Turismo eu acho que o Português é um pouquinho simplório. Praia, Praia, Praia e mais nada.

Tanto que o país tem para ver de lés a lés, tanto que a Madeira e os Açores têm para dar, tanto recanto encantador para pernoitar, tanto monumento, tanta história, tanta lenda, tanta paisagem, tanta romaria.

O Português estabelece as férias pelas prioridades do bom tempo permanente e temperatura da água do Mar bem elevada e deixa por conhecer o seu país.

Anónimo disse...

Lura de Grilo, a sua analise está correcta, só que uma coisa é fazer férias, outra é passear !!

O portugues gosta muito de fazer férias mas não gosta de passear!

Fazer férias onde estiveram fulano e beltrano é uma coisa , passear e conhecer é outra !
Eu também gosto de passear e conhecer , mas vejo muita gente que só gosta estar e ser ! E isso faz muita diferença !!!