Sempre me incomodaram as expressões “
tenho de” ou “
tenho que”, por as considerar perpétuos falsos argumentos para nada fazer. O "
hei-de"é igualmente mau!
Quando era estudante elas constituíam o intróito habitual usado pelos colegas que, não se tendo dado ao trabalho de tirar apontamentos, amaciavam a intenção de se servir daqueles que o haviam feito. Mais tarde e já na vida profissional, a expressão continuaria a ser usada para, de modo sistemático, explicar o que, devendo já ter sido realizado, por desleixo, ainda o não fora.
“Tenho de estudar”, “tenho de ir ao médico”, “tenho de parar de fumar”, “tenho de economizar”, enfim, tenho de, tenho de… Não foram poucas as vezes em que me enfureci com os meus filhos por causa desta malfadada atitude.
Quando se tem de actuar, só há uma coisa a fazer:tomar a decisão, agir, cumprir. De preferência sem pré-aviso, a fim de evitar desvios de rota. Ou então, se não se é capaz, aceitar a debilidade psicológica e ter a probidade de não prometer, de não dizer "hei-de". Apenas existem estes dois caminhos. Tudo o resto é fantasia.
Um familiar meu costuma afirmar, convicto, “tenho de me doutorar”. Há pelo menos dez anos que o oiço dizer isto, sem qualquer rebuço. Ora se ninguém lhe pergunta nada sobre o assunto, para que serve tal afirmação, que jamais foi cumprida? Quanto a mim, apenas para calar a má consciência. Até que alguém, nomeadamente eu, tenha a coragem de lhe dizer que… “
porque não te calas?”!
HSC