Fui educada numa família numerosa onde não me faltou nada. Mas onde, igualmente, se não toleravam desperdícios. E quando algum do netos manifestava vontade de ter alguma coisa especial, a filosofia familiar era a de permitir e satisfazer, desde que fosse em benefício da educação ou da cultura. Assim, quando eu, vaidosa, fazia alguma birra por querer algo que não respeitasse estes valores, a resposta era, sempre, "aprenda a ser frugal", porque é disso que o país precisa e a menina também.
Alguns suaves castigos marcaram a minha aprendizagem dessa frugalidade, da qual a minha avó Joana jamais abdicou. Mas aprendi. A vida viria a confirmar-me que só com uma rigorosa selecção das escolhas e dos gastos, estes são reprodutivos. Mais tarde, a opção profissional que fiz deu a este valor o enquadramento indispensável.
Gosto, como todo o mundo, de coisas bonitas. Possuo algumas. Mas quando olho para elas, tenho a noção precisa do quanto elas me custaram. Em dinheiro e em privação do que não fiz, para delas poder usufruir. Em particular no que ao vício da pintura se refere...
Na minha sala tenho um Dourdil de que gosto particularmente. Quantas vezes, ao olhá-lo, não sorrio a pensar na série de inutilidades que deixei de comprar para o ter? Podia citar imensos exemplos destes.
Hoje, no dia do Pai, que infelizmente já não tenho, lembrei-me da frugalidade com que ele viveu a sua vida. Convencido que estava de nos ter preparado, a todos, para uma práctica que, afinal, aos poucos vai, forçosamente, voltar a ser a nossa. Felizmente, creio!
H.S.C
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