quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Mulher de Berlusconi

A família Berlusconi é, na verdade, muito especial. Agora é a vez de Veronica Lario, mulher do Primeiro Ministro italiano, vir à liça criticar publicamente o marido pelo convite feito a jovens actrizes e modelos para integrarem a lista do seu partido às Eleições Europeias. A senhora considera o facto como "uma imundice sem vergonha", cujo unico fito será o de "divertir o imperador".
Além disto, entende que o propósito revela "uma total falta de critério no exercício do poder e ofende a credibilidade de todas as mulheres".
Por seu turno, Berlusconi defende que a inclusão de jovens bonitas naquelas listas visa "renovar a classe política com gente cultivada e bem preparada", em vez dos "mal cheirosos e mal vestidos que representam certos partidos no Parlamento".
Ignoro se a senhora Lario é, ou não, a pessoa mais indicada para censurar a opção marital. Diz-se que raramente o acompanha, faz férias sem ele e tem casa própria em Milão. O que julgo saber é que, se lhe convém continuar casada com ele, a praça pública não é local para misturar assuntos de família com os do foro profissional do PM.
Quanto à resposta de Berlusconi, ela insere-se na "qualidade discursiva" que é seu apanágio.
Com exemplos destes, ainda há quem se admire da falta de adesão dos melhores à política?!

H.S.C

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Outra de Itália!

"O putativo herdeiro do trono de Itália, Emanuel Filiberto, vai a votos nas europeias pela UDC - Union di Centro - sucessora da poderosa Democracia Cristã.
É notável como após vencer um reality show tipo "Dança Comigo", o princípe subiu do seu movimento Valori e Futuro, só com milhares de votos nas legislativas, a um partido histórico"
(in Correio da Manhã, hoje, Radar de João Vaz)

Se alguma observação esta notícia - que presumo verdadeira - merece é a de que, felizmente, se trata dum candidato putativo. Nada tenho contra monarquias constitucionais, mas causa-me alguma perplexidade, um suposto rei casado com uma actriz e a bailar para o seu povo. Acredito que possivelmente o problema seja meu, que ainda vejo o lugar com uma certa auréola...
Agora, talvez se compreenda melhor o PM que eles têm, e a imensa criatividade dos seus políticos.
Salve-se o nosso D. Duarte Pio a quem nunca vi nestas andanças...

H.S.C

terça-feira, 28 de abril de 2009

Humor ou falta de senso?

O chefe do governo italiano Sílvio Berlusconi já nos habituou às suas "boutades". Infelizmente. Porque vêm em crescendo de tolice.
Quando do violentíssimo terramoto de Abruzzos, teve o desplante de aconselhar as vítimas que se acoitavam - e ainda acoitam - num campo de refugiados preparado para o efeito, a que considerassem o seu acomodamento como "um fim de semana de campismo".
Posteriormente, em nova tirada infeliz, sugeriu mudar a sede da próxima cimeira do G8 da Ilha da Madalena para a sacrificada zona de L' Aquilla.
Pois bem, a sucessão de disparates tem agora um novo pico. Com efeito, e segundo noticia a comunicação social, Berlusconi teve o desplante de sugerir às centenas de sinistrados que ainda vivem em tendas, "que comprem móveis no Ikea", pois aí podem encontrar todo o mobiliário para a casa por pouco dinheiro.
Não haverá ninguem, em Itália, que exija deste homem contenção verbal? Ou, mesmo, um pouco de bom senso? Agradecia-se...
H.S.C

domingo, 26 de abril de 2009

Nuno de Santa Maria

Foram anos e anos para a Igreja o levar para o altar. Nascido em Cernache de Bonjardim, na Sertã, em 1360, morreria já no século seguinte, em 1431, com setenta e um anos.
Considerado, no seu tempo, um dos homens mais ricos de Portugal, foi Condestável de D. João I, o Mestre de Avis, ao qual daria o que de melhor tinha como militar.
Depois de ter desempenhado um papel fundamental na crise de 1383 / 1385, onde a independência de Portugal esteve em jogo, a história consagrá-lo-á na batalha de Aljubarrota onde um pequeno exército vence Castela, que lutava com o quintuplo dos nossos homens.
Casado com Leonor Alvim aos dezassete anos, terá três filhos dos quais apenas uma filha, Beatriz, lhe dará descendência. Com ela irá nascer, também, a Casa de Bragança.
Após a morte de sua mulher, abdica de toda a sua riqueza e faz-se carmelita, na Ordem que cria em 1423. Tomará o nome de Irmão Nuno de Santa Maria e desempenhará no convento os trabalhos mais humildes.
Foi beatificado em 1918, pelo Papa Bento XV, depois de um longo período de espera. Contudo, desde a data da sua morte que o povo já o elegera como Santo. Será finalmente canonizado por Bento XVI, às nove e meia da manhã do dia 26 de Abril de 2009.
Pode esta cerimónia não ter, para muitos, qualquer significado. Não é o meu caso. Além de gostar de heróis, sinto-me orgulhosa se e quando, além de o serem, a sua vida for exemplo de santidade.
H.S.C

sábado, 25 de abril de 2009

Seal


Hoje não ouvi noticiários. Dei-me ao descanso. Nem o Condestável me levou a ligar a TV.
Levantei-me tarde - o que raramente acontece - gozando os privilégios de um feriado revolucionário e de uma noite passada num fabuloso jantar entre amigos. Que terminou, como sempre acontece, pelas quatro da madrugada...

Gosto imenso de Seal. Imenso é, talvez, pouco. Conhecedora desta minha penca, alma caridosa resolveu contribuir para a minha felicidade e oferecer-me o seu último disco. Viciosa, levei a tarde inteira a ouvi-lo. E a ler, num terraço do qual avisto o Tejo em todo o seu esplendor.
Haverá maior deleite? Fechar os olhos e ouvi-lo dizer "I' m still in love with you"?
Sorte a da Heidi Klum, que goza deste outro bocado de colorido mau caminho...

H.S.C

Tudo sob controle...


É preciso ser-se santo para se conseguir sobreviver a certas afirmações. Eu não sou. E o Ministro das Finanças que eu saiba também não. Mas é urgente que se lhe aconselhe ir rapidamente... ao oculista.
Com efeito, diz-nos, cheio de segurança e tranquilidade, que a execução orçamental está inteiramente controlada. Exactamente. Inteiramente controlada.
E di-lo apesar de, no campo das receitas, no último trimestre, a do IRC ter caído 150 milhões de euros, a do Iva ter despencado em 700 milhões, a do imposto automóvel ter descido 25% e a do imposto sobre o combustível ter sofrido um golpe de 14%.
Estranho? Claro que não, porque segundo Teixeira dos Santos, " a receita fiscal está controlada".
Por outro lado, também a despesa vive incólume, como se deduz, é evidente, do aumento de 14% registado nestes três últimos meses, porque o ministro afirma "que a despesa está perfeitamente contolada e o governo está a gastar onde planeou gastar".
Alguem me esclarece se sou eu que estou a precisar de ir ao oculista?


H.S.C


quinta-feira, 23 de abril de 2009

O futuro

Depois das estatísticas do Banco de Portugal terem revelado previsões preocupantes, vem agora o Fundo Monetário Internacional corrigir para baixo aqueles números, que são os mais negros de todos os que até agora foram divulgados.Com efeito, a economia irá retrair-se à volta dos 4%, o que significa que a palavra recessão será uma realidade com a qual teremos de conviver.
Daí que o pior cálculo para o desemprego - 8,8% para este ano e 9% para o ano que vem - feito pela Comissão Europeia, esteja já muito provavelmente desfazado, acreditando-se que possa, mesmo, vir a rondar os 11%.
Esta percentagem não seria dramática - a Espanha já teve uma taxa superior - se outros factores de desenvolvimento não fossem também eles muito inquietantes. De facto, só para citar alguns, o crédito mal parado não para de crescer, o investimento não arranca e as exportações, com a crise internacional, perderam quota de mercado.
Só muito recentemente o governo aceitou esta realidade que levou meses a esconder, qualificando com epítetos desagradáveis aqueles que se atreviam a falar da situação económica do país. Em particular, claro, os economistas, vistos como aves de mau agoiro. Sei do que falo!
Vamos ter dois anos dificílimos. Que exigem medidas excepcionalmente corajosas. Mas, como tomá-las num ano de três eleições e quando o PS vê ameaçada a maioria absoluta?

H.S.C

terça-feira, 21 de abril de 2009

Holocausto

Hoje, 21 de Abril, o calendário judaico marca a memória do Holocausto que enlutou o século XX.
Em 1940, quando o mundo soçobrava face à ofensiva nazi, o consul de Portugal em Bordeus, Aristides Sousa Mendes, quebrando a disciplina a que o cargo o obrigava e contrariando o governo de Portugal, decidiu, na mais absoluta solidão, tomar nas suas mãos, a salvação de milhares de refugiados, emitindo vistos sem atender a condição, classe ou credo.
Os portugueses podem e devem sentir orgulho por este homem ser um dos seus!

H.S.C

Da liberdade

Vamos, nos próximos dois dias, falar de liberdade. Melhor, falar do 25 de Abril. O que, entre nós, significa o mesmo.
Ninguem nega, julgo, a importância que teve, para Portugal, o movimento que acabaria por nos abrir as portas ao sonho de sermos um país diferente. Mas creio que começa a ser necessário aprofundar o que representaram estes trinta e cinco anos. E o que significa ser livre. Para que possamos entender o que nos aconteceu e porque nos aconteceu.
As palavras revolucionárias são pertença de um tempo próprio. Por isso já não são suficientes. É preciso muito mais para se celebrar a liberdade.
H.S.C

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Da amizade

Estou, neste fim de tempo pascal, em mood de partilha. Ontém foi Pitingo. Hoje é Sandor Marai, de quem julgo conhecer quase tudo. Mas de que aprecio particularmente "As velas ardem até ao fim", talvez o melhor romance que li sobre a amizade.
Foi a minha querida amiga Rita Ferro quem nos apresentou, naquela sua imensa capacidade de dividir com os outros tudo o que de bom lhe acontece.
Uma manhã recebi um mail seu a mandar-me comprar o livro. Já! dizia ela. Obediente, fui.
Comecei e não mais parei. Quando o acabei senti uma imensa necessidade de saber mais sobre o autor. Cuja história de vida é, no mínimo, surpreendente. E que termina com o seu suicídio numa idade já bem avançada.
Em seguida fui ver o que por cá havia. Depois, o que não existindo cá, havia lá fora. O resultado foi, como disse atrás, conhecer toda a obra. Aconselho. Vale, mesmo, a pena!

H.S.C

Sinais ou Recados?

As relações entre o Primeiro Ministro e o Presidente da República já conheceram melhores dias. Num outro tempo, também Cavaco Silva e Mario Soares experimentaram estas formas de tensão. Que servem, aliás, para pouco, quando não esteja em vista uma demissão governamental. Ou antes, servem, sim, para alimentar meios de comunicação.
Numa outra época Sampaio usou-a para demitir um governo. Nessa e nesta altura, por coincidência, também o Presidente e o Primeiro Ministro, vinham de famílias políticas diferentes. O que os politólogos costumam achar positivo. Até agora não descortinei muito bem porquê. Diz-se que, assim, o governo fica mais fiscalizado. Por mim, julgo que serve, sobretudo, para dificultar a vida a um e a outro...
Na última semana o PR fez um dos seus mais violentos discursos. Que foi entendido como uma forma de mandar recados sérios ao PM e à equipe que ele chefia. Apesar de nenhum nome ter sido nomeado.
De seguida Socrates, sem igualmente referir nomes, responde que aquilo que Portugal menos necessita é de recados ou remoques de pessimismo, de bota baixismo, enfim, de crítica fácil.
Conheço pessoalmente Cavaco Silva, porque fui sua colega no Banco de Portugal. Não conheço José Socrates. Por isso, só posso falar do primeiro. O qual, goste-se ou não do seu estilo, goza da fama e do respeito de ser considerado um economista muito competente. Que é, sem qualquer sombra de dúvida.
Por isto - e apenas por isto -, que releva da sua autoridade profissional, julgo que valeria a pena ouvir as suas palavras. Porque aquilo de que menos o país precisa, é de surdos!

H.S.C

Pitingo


Gosto de flamengo. Deve ser da minha costela ibérica. Reparem que não digo espanhola. ..
E gosto de música soul. Hoje fiquei a conhecer uma voz que junta estes dois estilos de música. Trata-se de António Manuel Álvarez Vélez, mais conhecido pelo nome artístico de Pitinga.
Neto de La Pitinga, fez de tudo na vida para sobreviver e ser finalmente reconhecido. Lança o seu primeiro disco " Pitinga con Habichuelas", em 2006 e, dois anos depois, dá a conhecer o invulgar "Souleria", onde a mistura de soul e flamengo produz um efeito surpreendente. Especialmente em canções como Let it be, Yesterday ou Killing me softly with this song.
Recomendo vivamente aos que apreciem este género, que procurem ouvi-lo no You tube. Vale mesmo a pena!

H.S.C

Domingo


O Domingo não é dia que aprecie. Não sei explicar porquê. Se trabalho fico irritada, se descanso acho que perco tempo. Logo, dilema insolúvel. O que quer que faça, tem sempre um lado menos satisfatório.

Fui almoçar coisas de que gosto e me fazem mal. Depois fui ao cinema. Escolha idiota porque feita ao sabor de um naipe de actores fora de série e de um realizador mentecapto. Fiquei mais irritada do que o costume.

Salvou-me um jantar em casa de um casal de quem muito gosto. Mais uma vez, a qualidade dos meus amigos compensou um dia de custo/benefício muito alto.

Recuperei, pois, a boa disposição!

H.S.C

sábado, 18 de abril de 2009

S.Carlos

Terminou a Semana da Voz. Se volto a ela é para partilhar uma reação curiosa que tive no espectáculo de fado dado no S. Carlos. As vozes eram magníficas, distribuídas no feminino por Ana Moura, Carminho, Katia Guerreiro, Maria Ana Bobone e no masculino por Camané, Gonçalo Salgueiro , João Braga. E também Eunice Muñoz e Margarida Pinto Correia em leituras de textos de Helena Rodrigues.
Gosto muito de música e vou ao S. Carlos sempre que posso. Ouvir peças mais eruditas. Pois bem, a reacção curiosa de que falo acima foi a de ter gostado muito de ver a canção nacional cantada naquele palco.
Às vezes desconstruir é preciso. Foi o que aconteceu ali. Participar dessa desconstrução foi muito agradável .
Mais uma vez o meu querido Mario Andrea teve razão na escolha feita. Agora, só nos falta assistir naquele teatro, a uma boa exibição de jazz, que ambos apreciamos!

H.S.C

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A mediocridade

Os medíocres atraem-se. É mais facil aderir à mediocridade do que contrariá-la. Por isso eles se multiplicam.
Por uma qualquer razão o nível de exigência pessoal é baixo no nosso país. Parece, até, que os indivíduos que tentam sair dela, são marginalizados. Não falo, claro está, das elites. Falo das pessoas comuns que pretendem tornar-se melhores, mais competentes ou mais qualificadas. Nada em Portugal estimula a excelência. Acabaram-se os quadros de honra, os alunos não são obrigados a ter média positiva em todas as disciplinas para passarem de ano, a cultura aprende-se, agora, na ignorância das novelas e programas de entretenimento televisivos, os pais demitem-se do exercício de autoridade que acompanha a missão de educar e os filhos não sabem nem como nem quem respeitar.
Esta geração, quando chega à Universidade, tem evidentes dificuldades. Não está lá por vocação. Está lá a cumprir uma obrigação. Para, um dia, ter um emprego. Não uma profissão.
O quadro para a mediocridade proliferar não pode ser melhor. E aqueles que não querem viver neste caldo improdutivo acabam por sair. E, em grande parte dos casos, não voltar.
Portugal tornou-se, assim, um exportador de massa cinzenta. E, mau grado nosso, um importador de braços e de...revigorantes da nossa envelhecida pirâmede etária!
Se os responsáveis que nos governam não estiverem à altura de perceber estas realidades, dificilmente nos livraremos da nossa pequena mediocridade.

H.S.C

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ser especial

“Ninguém nasce especial. Tornar-se especial é a nossa obrigação"
(Provérbio antigo)

A afirmação não pode ser mais verdadeira. De facto, que objectivo maior terá cada um de nós? Não sonhamos todos ser especiais ou, pelo menos, sermos vistos como tal por todos aqueles de quem gostamos?
Em contrapartida, quantas vezes não esquecemos que esse deveria ser o eixo orientador da nossa vida?

H.S.C

A economia solidária



Um dia, na Universidade, quando dava uma aula de Economia, perguntei a cada um dos meus alunos, para que é que eles achavam que servia tal matéria. Deram-me as respostas mais diversas, algumas das quais até arrepiantes.
Mas uma aluna foi clara. Respondeu-me que “servia para as pessoas serem melhores e mais atentas e ficarem mais conscientes da necessidade de distribuir o que cada um tivesse a mais por todos aqueles que tivessem a menos”.
Ora bem, o que esta jovem queria, de facto, dizer era que estava a aprender a ser solidária. Essa é, devia ser, uma das finalidades maiores da disciplina.
No lado oposto ficou a resposta dada por um seu colega que afirmou que a economia “servia para ele aprender a ser rico”.
Soltei uma gargalhada e disse-lhe que se tinha enganado no curso escolhido. Mas, sobretudo, na professora!

H.S.C

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Helena Almeida

Na próxima sexta feira, Helena Almeida, um dos valores mais seguros na arte contemporanea nacional, irá inaugurar uma exposição no MEIAC - Museu Extremeño de Arte Contemporáneo - em Badajoz, promovida pela Consejeria de Cultura y Turismo da Junta de Extremadura.
Conheço a Helena há muitos anos. Somos da mesma geração e uma boa parte dos nossos amigos são comuns. Acompanho de há muito os seus sucessos.
Filha de mestre escultor Leopoldo de Almeida, tirou o curso de Pintura na ESBAL, a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e tem uma obra muito diversificada. Com efeito, pinta, esculpe, desenha, grava e faz instalações. Todos estes caminhos têm, contudo, um denominador comum que é a fotografia.
Tendo feito a primeira exposição individual em 1967, não pára mais. O seu trabalho usa com muita frequência o auto retrato a preto e branco - cor que descobre em 1980 - salpicado com manchas de cor muito pontuais. As principais temáticas são o espaço e a sua ocupação pelo corpo, mas também todos os rituais associados a ela associados.
Vale a pena uma viagem à raia fronteiriça para deleitar os olhos com a sua obra magnífica!

H.S.C

terça-feira, 14 de abril de 2009

O risco de deflação

Pela primeira vez nas últimas quatro decadas a taxa de inflação homóloga em Portugal fixou-se num valor negativo. Segundo os dados do INE em menos 0,4%. Para leigos, isto significa que entre Março do ano passado e Março deste ano, os preços sofreram uma quebra.
O cenário de uma descida generalizada de preços é um dos grandes receios de quem se ocupa de gerir estas matérias.
Com efeito, os que têm pouco tendem a consumir cada vez menos. E os que têm mais e podem consumir, postergam os seus consumos na expectativa de aproveitar, ainda, de uma maior descida.
Logo, as empresas, face às quebras de consumo, vêem-se obrigadas a reduzir a produção e a descer mais os seus preços. Depois, numa tentativa de sobrevivência, ou despedem ou não aumentam os salários.
Mas sem aumentos salariais e com maior taxa de desemprego, a propensão será para novos cortes no consumo. O que nos faz voltar ao início.
Está, assim, criada a espiral que prepara o abrandamento económico e a eventual deflação que é como quem diz, uma descida persistente dos preços.
Entre nós há preços que continuam a subir. Ia, com algum maquiavelismo, dizer felizmente...
Como se calcula, é a variação descendente do preço do petróleo a maior responsável desta desaceleração.
Contudo, entre o que desce e o que sobe, a inflação média anual - que serve de base às negociações salariais - situou-se o mês passado nos 1,9%, admitindo-se que possa vir a atingir 1,2% ou até mesmo menos. Sendo assim, os trabalhadores cujo aumento foi fixado em 2,9%, poderiam ganhar o diferencial. Digo poderiam porque, em economia, um só indicador tem pouco significado.
Se a espiral persistir por mais uns trimestres, o futuro complica-se. Mas em Portugal, a norma é a navegação à vista. Com os resultados que conhecemos.
Contudo os maus da fita hão-de ser sempre os economistas...
H.S.C

Beleza

O que é a beleza? Alguém se lembra da mulher a que esta imagem dá corpo? Mais fácil. Alguém se recorda de Bonnie and Clyde? Pois ela é Faye Dunnaway, a protagonista do filme. Só que hoje o seu aspecto não é este. E ela pretende desesperadamente mantê-lo. Para quê?

H.S.C

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Juventude...

" Leva-se muito tempo a ficar jovem"
( Frase atribuída a Jean Cocteau")
Eu sei que existe, nos nossos dias, uma escravatura. Tolerada. Praticada. Diria, mesmo, preocupante. Antes, eram apenas as mulheres. Hoje, o género conta pouco. Também os homens aderiram ao sacrifício.
Para quê? Uns dirão que vivem da imagem. Outros, que se querem manter saudáveis. Outros, ainda, que é uma tendência natural. Como se vê, nada responde à questão posta.
Para mim o facto explica-se...por falta de amor próprio. Estranho? Nem tanto.
Quem se estima, aceita a progressão do tempo. Inexorável no desgaste físico. Mas, por norma, bondoso no refinamento que, noutros campos, também provoca.
Perguntaram-me, uma vez, se não queria voltar aos 30 anos. Respondi, sinceramente, que não. É verdade que tinha um palminho de cara e de corpo. É verdade que me esforçava por ser boa nos três pilares em que assentava a minha vida: marido, filhos, carreira. Mas não tinha tempo para mais nada. Para o mundo à minha volta e, sobretudo, para mim, a constante deste tripé e aquela que, verdadeiramente, me irá acompanhar até ao fim.
Pessoalmente sou muito mais rica agora do que naquela época. A beleza foi-se. É verdade. Mas o resto ficou cá. Todo. Não quer dizer que seja muito. Mas esforço-me por que o seja.
Ora é disto que a frase de Cocteau fala!

H.S.C


Jornais

Não é muito estimulante ler jornais em Portugal. Por dever de ofício, leio vários. E chego ao fim das leituras com uma sensação de quase náusea. As notícias variam, com intermitências, entre a inveja e a desgraça. Tudo, como se sabe, produtos de manufactura nacional.
Nuns dias são abusos sexuais, noutros abusos de filhos relativamente aos pais ou as diversas formas de que se reveste a violência doméstica, noutros os ordenados chorudos dos gestores - hoje Fernando Gomes e equipa a ganharem 1817 euros por dia - noutros, ainda, os lamentáveis dados do INE sobre o estado da economia. Abstenho-me, por posicionamento pessoal, de mencionar os relatos de vida privada, que não interessando senão aos próprios, acabam por interessar a todo o mundo.
O tempo que se perde com este género de informação faz mal aos portugueses e dá uma triste imagem de Portugal. Eu sei que a palavra de ordem da família política que nos comanda é a "transparência". A qual, pelos vistos e face às reacções a que assisto, ou é demais ou de menos, não sei.
Percebo a intenção, quando aplicada aos actos administrativos de quem elegemos para nos representar. Percebo, até, que ela se estenda aos que escolhem militar na política.
Mas não entendo o vasculhar doentio do que apelido de assuntos de alcova. Quando estes se apoderam da vida do país, o único recurso admissível são os tribunais.
A mim, particularmente, não me interessam absolutamente nada. Mais, não quero, sequer, saber que forma revestem.

H.S.C

sábado, 11 de abril de 2009

As tentações do cidadão

A propósito das "sugestões" de vestuário feminino para a Loja do Cidadão no Algarve tão noticiadas esta semana - nada de decotes e nada de mini saias - assalta-me uma dúvida.
E os homens? Poderão eles andar de camisa aberta deixando vislumbrar o Sansão que existe em cada um? E a fralda da dita? Fica dentro ou fora da calça? E o pezinho? Poderemos lobrigá-lo numa dessas sandálias de origem oriental que tudo mostram?
Todas estas questões pressupõem, claro, um espírito demasiado lúbrico, concedo. Mas os conselhos agora dados ao género feminino não serão, também eles, reveladores dessa mesma lubricidade?
Eu sei que tais alvitres visam proteger o cidadão contra... os malefícios da lascívia. Por isso resolvi pensar num modo de os resolver que, podendo embora ser politicamente incorrecto, teria a vantagem de acabar não só com o problema das tentações do utilizador do serviço público, como com o da inveja das colegas a quem Deus não beneficiou com tais atributos.
Use-se, então, uma farda, uma bata, enfim, um qualquer uniforme que permita igualar todos sem excepção e evitar a pecaminosa concupiscência.
Reaccionária a ideia, dirão. Mas não os usam médicos, enfermeiros, investigadores laboratoriais, polícias, forças armadas e até os nossos futebolistas? Afinal não pretendemos todos uma sociedade mais igualitária? De decerto. Mas, além disso, os nossos governantes querem, agora, os seus servidores menos pecaminosos...
A próxima vai ser o retorno ao fato de banho de saia para as senhoras e à camisola de alças para o homens!

H.S.C

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Gostar...

Gosto de cozinhar. Gosto de cozinhar para a família. Gosto de cozinhar para os amigos. Gosto de comer. Gosto de ver uma mesa cuidada para nela partilhar o que as minhas mãos prepararam para aqueles que à volta dela se vão sentar.
Não gosto de jantares encomendados, jantares de "parecer bem", jantares ditos sociais, enfim, jantares de retribuição, em que tudo é comprado e o menu se repete à mesma velocidade com que desaparecem aquelas que antes os manipulavam.
Ficaram-me de criança e da minha avó Joana, tais prazeres. Foi com ela que aprendi quase tudo o que permite este convívio caloroso. Tive muita sorte e tenho consciência disso.
À sua mesa e, posteriormente, à mesa dos meus sogros - os melhores do mundo - a norma era uma refeição com muita gente e uma mesa sempre posta. As festas, a caça, as efemérides familiares era assim que as viviamos. E, quando nada havia a celebrar... nunca deixámos de arranjar motivos que justificassem tão alegres repastos.
Ontem fiquei horas na cozinha. A preparar o cabrito e a ouvir a Paixão segundo S. Mateus. Deitei-me de bem com a vida. Talvez por gostar tanto desta aleluia que está para chegar!
H.S.C



Medo

"... Tenho medo da Justiça. Tenho medo da incompetência e da discricionariedade. Da falta de prazos e resultados. De não se sancionar quem erra..."
(extracto de um artigo de Ricardo Costa publicado no Expresso de 10/04/09)

Também eu tenho medo. Há uns meses confessei-o ao meu querido amigo Pedro Rolo Duarte. Na altura sentimento difuso mas real.
Agora Ricardo Costa vai mais longe nos seus medos. A mim estes já me chegam. E sobejam...
Porque eu não sei, ninguém sabe, viver amedrontado. Apesar da longa noite fascista, não aprendi. E não quero aprender.
Mas o pior de tudo, é que começo a ter medo de ter medo...

H.S.C

O regime

"... Esta arrogância socialista é um reflexo da velha tradição portuguesa que transforma a Verdade numa marquise do Poder. O PS não se concebe como um partido igual aos outros. O PS acha que é a Verdade do regime. O PS acha que é o senhorio da III República (os outros partidos são apenas inquilinos). Como é óbvio os socialistas que vivem neste caldo têm dificuldades em aceitar críticas. E acabam por pensar que os tribunais são apêndices czaristas que servem para impor a Verdade do Poder a quem recusa associar a Verdade ao Poder".


( extracto de um artigo de Henrique Raposo publicado no Expresso de 10/04/09)


Mudaria muito pouca coisa ao sentimento expresso neste texto. E, apesar de saber que o Poder exacerba, por norma, o lado menos bom de quem o exerce, não deixa de ser preocupante que se encare a cidadania nesta perspectiva. É claro, que também sei, que se fosse outra a côr política deste governo, a crítica poderia ser a mesma. E sei ainda que, com determinadas famílias políticas, o texto poderia, até, considerar-se light.

O que me aflige é que a política, corporizada naqueles que foram investidos, por delegação nossa, no seu exercício, possa justamente merecer tais comentários. E, pior, que eles sejam a razão que leva certas pessoas de extrema qualidade a não quererem, a nenhum título, envolver-se nela!

H.S.C

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O parque de campismo

As frases infelizes dos políticos começam a atingir um grau de paranóia procupante. Depois do belo exemplo dado pelo erudito Presidente do Brasil, Lula da Silva, a medalha da insensibilidade vai agora para Silvio Berlusconi que, desde que fez a plástica ao rosto e o implante capilar, parece ter plastificado também o reduzido miolo cerebral.
Com efeito, depois de uma catástrofe como a que atingiu a Itália, esta semana, será possível que, face aos desgraçados que se encontram alojados em tendas do exército, o PM italiano, que nem aos lugares sinstrados foi, ficando apenas lá por perto, lhes peça que encarem a situação como "um fim de semana no parque de campismo" ?
São vinte e oito mil os desalojados, duzentos e oitenta os mortos, trezentas e cinquenta as réplicas, e o político não encontra nada mais para dizer?
"Perdoai-lhe, Senhor, se conseguires, porque este homem não sabe o que faz". Mas perdoa, também, àqueles que nele votaram e permitiram a sua eleição...

H.S.C

A Camuflagem

A Margarida e o seu Criativemo-nos.blogspot.com, têm-me feito pensar. Àcerca da camuflagem. Isso mesmo. Daquela que vai da paleta das cores ao painel dos sentimentos. Portanto, da física à psicológica.
A primeira, muito usada pelas mulheres -diz ela - permite-nos ser sempre diferentes, com uma mudança de penteado, cor ou corte de cabelo, maquilhagem mais ou menos carregada. Enfim, nós teriamos essa possibilidade física de ser camaleónicas, com pequenas nuances meramente provisórias.
A segunda, muito usada pelos homens -disse eu - é mais complicada porque exige uma capacidade cénica especial. Mas ela alertou-me, e bem, para o facto de também nós a termos e a exercemos com razoável excelência. Tem razão.
Mas então porque é que será mais frequente um homem manter duas mulheres do que uma mulher manter dois homens?

H.S.C

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Páscoa

Por uma qualquer razão que desconheço, a Páscoa tornou-se uma época, digamos, perceptível.
Explico-me. Antes, quando eu era miúda, a efeméride nos meios não católicos era apenas assinalada com um dominical almoço ou jantar familiar, em que se comia um prato tradicional - entre os meus, o cabrito - e se trincavam amendoas.
Entretanto, a Igreja tem vindo a perder fiéis e a Páscoa a ganhar adeptos. A crise instalou-se e as férias da época também. E da festa de Domingo ficou, apenas, uma pálida ideia.
Não há, de facto, como o remanso e o cartão de crédito para os portugueses esquecerem os problemas...

H.S.C

Em Portugal

Em Portugal o Banco de Portugal renovou a sua CRC*, Central de Responsabilidade de Crédito, dotando-a de meios que irão permitir vigiar os créditos concedidos a particulares e empresas e emitir alarme sobre os riscos de sobreendivdamento. No qual, aliás, já nos encontramos. De caminho facilitará a necessária distinção entre entre bons e maus pagadores. É que o total de crédito concedido a seis milhões de pessoas - mais de metade da nossa população - já quase atingiu o dobro da riqueza produzida no país...
Em finais de Fevereiro último, o montante da dívida à Banca, situava-se nos 284 mil milhões de euros, dos quais 113 mil respeitavam a compra de habitação própria. Ora se a previsão do INE, Instituto Nacional de Estatística, para o nosso PIB em 2008 é de 166 mil milhões, ressalta evidente que o endividamento ultrapassa os 70%.
Na lista de incumpridores irá poder saber-se quais os montantes de exposição de cada um de nós, mas não será do conhecimento dos bancos, quem são os credores dessas dívidas. O lado bom desta lista deverá ser a possibilidade de tratar melhor, em matéria de taxas de juro praticadas, aqueles que cumprem com as suas obrigações.
Em Portugal metade do crédito para aquisição de bens não está garantido. D e facto, apenas 27% dos empréstimos está seguro por uma hipoteca e apenas 8% é objecto de outras garantias.
Como se vê o quadro é preocupante e demonstra a "irresponsabilidade" com que os bancos concederam empréstimos. São conhecidas, por exemplo, as campanhas agressivas nesse sentido e na atribuição do cartão de plástico, um dos maiores responsáveis do endividamento familiar. Estas, aliás, não parecem ter abrandado, pese embora uma maior vigilância por parte das entidades fiscalizadoras. Deveriam exigir-se apertadas condições na atribuição daqueles cartões, que dão aos que pouco têm, a imagem de que possuem alguma coisa. A sua única real capacidade é postergar o pagamento daquilo que adquirem. O resto é fantasia!

H.S.C

Nota
A CRC foi criada em 1978, mas só em 2003 os bancos puderam aceder electronicamente aos seus dados. As listas registam 5,6 milhões de particulares e 281 mil empresas.

Em França

"La récession étant d'une violence exceptionelle, toutes les entreprises sont touchées. Il n'y aura donc aucun secteur dont la croissance accélérera en 2009, juste quelques-uns dont les ventes resteront stables par rapport à 2008"

(Palavras de Karine Berger, directora de Estudos da Euler Hermes)

O jornal Le Monde fazia, há dias, uma análise curiosa da crise financeira, onde se destacava que, apesar dela, certos sectores conseguem resistir e alguns até lucram.
Entre muitos outros, a construção civil, a siderurgia , a industria química, os transportes, oferecem previsões de crescimento desastrosas. Mas áreas existem que não parecem tocadas pela tormenta.
Destacam-se numa primeira categoria as empresas que produzem bens ou serviços vitais ou considerados como tal. Salientam-se o sector agro alimentar, cujo consumo privilegiado vai para as marcas dos distribuidores, as telecomunicações - nas quais ninguém dispensa, já, o telemóvel ou a net -, a energia, sobretudo a elécrica, que aquece os lares dos franceses e beneficia de contratos plurianuais e os serviços de saúde pessoais - medicamentos, ajuda domiciliária, guarda de crianças - que tiram proveito duma população envelhecida mas com uma dinâmica taxa de natalidade.
Numa segunda categoria estão os sectores que ganham com a crise e os novos comportamentos que ela provoca, como sejam as vendas à distância, a restauração rápida, o artesanato, a segurança, a vídeo-vigilância e os equipamentos de controle de acesso biométrico.
Depois duma leitura destas, a pergunta natural será inquirir se em Portugal haverá alguma semelhança com o quadro descrito.
Quais os sectores, além da banca - perdoem o sarcasmo - que entre nós estão nestas duas categorias? Vale a pena pensar!

H.S.C

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Voz

Conheço o Mario Andrea há muitos anos. Felizmente, até hoje, nunca precisei dele como médico. Apenas como amigo. Mas os meus filhos usam e abusam dos seus serviços. Admito que seja porque falam demais...
Se trago aqui o seu nome à colação, é porque partiu dele, no ano passado, uma iniciativa de grande mérito. Tratou-se da "Semana da Voz", que abordou o tema de forma multidisciplinar. Lembro-me de ter feito, com a Rita Ferro, um dueto em forma de diálogo, sobre a importância da voz nos afectos, na carreira, na afirmação pessoal. Como temos ambas sentido do humor, a coisa correu bem.
Pois bem, este ano vai repetir-se a efeméride, já com muito maior projecção, porque terá envolvimento internacional. Lá estarei de novo, junto a muitos outros que fazem da voz uma das suas ferramentas de trabalho. Esperemos que as pessoas possam ficar alertadas para a grandeza da sua importância, tantas vezes esquecida.
O Mario é uma daquelas raras criaturas que junta a excelência profissional a um diversíssimo campo de interesses. E isso faz com que consiga congregar à sua volta uma pleíade de amigos e de especialistas que se empenham, com ele, em tudo aquilo em que se envolve.
Aproximou-nos, pasmem, o jazz, de que ambos somos militantes. No meu caso, é mesmo a única militância extra familiar que pratico. No seu há, até, verdadeira criação, porque dispõe não só do jeito, como dos instrumentos necessários para tal proeza.
H.S.C


domingo, 5 de abril de 2009

"Gente branca de olhos azuis"...

Há frases infelizes. Dos governantes e dos governados. Mais graves quando ditas pelos primeiros. O actual Presidente do Brasil não escapa à regra. E, como se acha um predestinado, "malha" - o termo, como sabem, tem registo no nacional socialismo actual - naqueles que, afinal, constituem hoje o seu mundo. Mas aos quais, acha politicamente conveniente, desconsiderar.
Explico-me. Toda a imprensa referiu a última gaffe de Lula que, ao lado de Gordon Brown, culpou "essa gente branca com olhos azuis" , pela crise que atravessamos.
A afirmação de tão idiota não merecderia qualquer referência, se não fosse dita por quem foi. No caso, merece, porque ademais de revelar ignorância mostra preconceito.
Para além da demagogia da análise, Silva tem a obrigação de saber que as crises são cíclicas e que, neste caso particular, muita gente que não é necessariamente branca nem neecessariamente da América, esteve envolvida no processo e a ganhar muito com ele.
O problema é, infelizmente, bem mais preocupante. Não é um prolema de brancos, mas sim de bancos, que concederam créditos. E é bom não esquecer que a classe média americana também é responsável pelo seu endividamento. Porque comprou a prazo aquilo que não tinha condições de pagar, aproveitando as baixas taxas de juro.
Só que o universo americano estendeu-se a outros mundos, também eles não necessariamente brancos. Falo da China, da India, do Japão e até do Brasil. Porque todos eles são credores dos Estados Unidos da América...
Claro que houve muita irresponsabilidade em tudo o que se passou. Até à era Clinton o mercado estava relativamente regulamentado e regulado. A desregulamentação que teve início no seu governo entrou, posteriormente, numa promiscuidade financeira inadmissível.
E aí os colarinhos de muita gente engravatada, independentemente de terem ou não os olhos azuis, cometeu crimes. Mas não os cometeram sozinhos. Alguns morenos de olhos castanhos - e, decerto, de encantos tamanhos - terão dado uma ajudinha.
Lula devia pensar nisso. Tanto mais que ou muito me engano ou o branco me parece ser a cor da sua pele!

H.S.C

O pequeno teatro

Depois do surpreendente encontro que, hoje, vos relatei fui, à noite, ao teatro estúdio Mário Viegas, ver uma peça de Richard Harris que, na versão nacional, se chama "O Crime Perfeito". Gosto desta arte mas acabo sempre por frequentar mais o cinema. E não devia. Porque estes pequenos grupos teatrais só podem sobreviver e crescer se nós os apoiarmos com a nossa presença.
A peça, não sendo um exercício para intelectuais, é uma comédia com piada, que vive apenas de três actores. Não terei vindo em extase para casa. Mas gozei de uma boa companhia, comi uma ceia excelente e apoiei um pequeno grupo que ama o que faz. Valeu, portanto, a pena.
E acabei a lembrar os meus anos de Paris mais os teatros que conheci, pela mão de um homem a quem muito devo e que foi meu Director Geral, na Aeronáutica Civil. Casado com uma grande actriz do nosso teatro, ensinou-me a estar atenta e a apreciar estes pequenos grupos.
Um dia hei-de falar dele. Porque é, também crédito seu, a paixão que nutro por Nova Iorque.
Se a tais dádivas eu não chamar sorte, então, o que é que lhes chamarei?

H.S.C

A surpresa...

Sou zelosa com os meus amigos. Muito. Mas, às vezes, o gãozinho de loucura que me habita dá sinal. E eu dou-lhe vazão. Foi o que aconteceu - e nem sequer me lembro como tudo começou -quando, há um ano, passei a integrar uma rede de contactos denominada Plaxo.
Nela, aos poucos, nasceu um pequeno grupo que gostava de literatura. E, desde os poemas aos discos favoritos de cada um, fomo-nos apercebendo de um fino elo cultural que nos unia a todos. Mais tarde vieram os escritos que alguns faziam só para si. Mas que deixaram de ter vergonha de partilhar. Surge , assim, uma tertúlia que, devagar, se foi revelando em lados mais pessoais.
Tudo inicialmente liderado pela Elsa que até gostava dos meus poetas de eleição. Falo de António Botto e de Eugénio de Andrade, que cantando amores que desconheço, me continuam a lembrar, ao fim de tantos anos, a beleza dos que conheço.
Os meses foram passando, as conversas literárias alargaram-se e eu decidi lançar o desafio de nos conhecermos. Repto aceite, juntámo-nos hoje. Eramos seis. Sem precisarmos de cravo na lapela. A pequena foto que, antes, nos identificava, deu lugar "ao natural e a cores".
Uma delícia de encontro. A prova de fogo a que decidimos sujeitar-nos foi passada com distinção e excelência. Não é que a vida continua a conseguir surpreender-me?!

H.S.C

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Os defeitos e as virtudes

Tenho-me deliciado com os textos com que Francisco Seixas da Costa nos tem brindado no seu blog. A minha admiração por este Embaixador vem crescendo de mansinho, que é a melhor forma de ela crescer. Mas também me regalo com alguns comentários dos seus leitores.
Hoje, um deles, a propósito do amor a Portugal, escreve que "os defeitos são virtudes inesquecíveis".
De repente, fiquei estupefacta. Imóvel. Depois, bem depois, sentei-me e soltei uma enorme gargalhada. Que veio cá do fundo, como sempre acontece quando rio de mim própria. Touchée. Lá estava eu a relembrar os excitantes defeitos que, em outros, tanto amei. Em detrimento, às vezes, de tão menos estimulantes qualidades...
Meu Deus quanta sabedoria tem este comentador. E que retrato, involuntário, fez de mim. Mas...há sempre um mas, o meu imenso sorriso mostrou bem a satisfação que tive com a descoberta. Abençoado e oportuno comentário!

H.S.C

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A Felicidade

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade! "

( Texto de João Pereira Coutinho)

Permito-me aqui reproduzir um texto de um jovem culto e talentoso, que aborda um tema que para mim é recorrente e que aqui tenho referido a propósito de diversos aspectos da nossa sociedade. Ele constitui um bom exemplo da esperança que deposito nas novas gerações, em particular a dos alunos que na Universidade passam pelas minhas mãos e também na dos netos que tenho. Oxalá esta minha expectativa não seja gorada, porque a vida acabou por corromper muitos daqueles que, na minha época, tinham um passado prometedor!

H.S.C