quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A Presença dos Ausentes

Paradoxalmente, a ausência pode ser uma forma intensa de presença. Quantas vezes nos vemos revivendo lembranças de pessoas que já partiram, sentindo a sua influência em cada espaço que, um dia, ocuparam? O vazio deixado por aqueles que partiram não é apenas a falta física, mas também a permanência emocional, um eco de gestos, palavras e momentos compartilhados.

Em famílias onde a partida de um ente querido deixou marcas, a ausência torna-se quase tão tangível quanto a própria presença. Uma fotografia na estante, um perfume esquecido num casaco guardado, uma música que ressoa na memória , são fragmentos que mantêm vivos aqueles que não estão mais aqui.

No entanto, a ausência também pode manifestar-se naqueles que estão fisicamente presentes, mas emocionalmente distantes. A indiferença, o silêncio, a falta de ligação autêntica podem tornar um encontro vazio, preenchendo espaços com uma presença ausente. É o paradoxo do mundo moderno: hiper-conectado e, ao mesmo tempo, solitário.

A presença dos ausentes não precisa ser, apenas, dor ou saudade. Ela pode ser um convite à reflexão, uma lembrança do que foi belo, uma chamada para valorizar os que ainda estão ao nosso lado. Afinal, entre a presença e a ausência, está o que permanece dentro de nós.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Tenho aqui o telemóvel do meu pai.
E as passwords dele.
Todas ligadas à nora, às netas e ao filho.
Comovente.

Helena Sacadura Cabral disse...

Tem toda a razão. Eu ainda não consegui apagar o numero de telemóvel do Miguel.