quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

ESQUECER

Esquecer é um tipo estranho de liberdade. No começo, é um esforço, um imenso empurrão contra a maré das lembranças, como quem tenta caminhar sobre areia movediça. Mas, a pouco e pouco, o esquecimento aprende a respirar dentro de nós, encontra o seu espaço entre as lacunas da memória e infiltra-se nas entrelinhas do cotidiano.

Esquecer não é apagar. Não é um estalo, uma chave que vira. É uma névoa lenta, um sol que se põe devagar sobre o que um dia foi muito vivo. As vozes tornam-se ecos, os rostos perdem os contornos nítidos, as palavras antes tão carregadas de sentido agora soam vazias, como folhas secas levadas pelo vento.

No entanto, há um certo medo em esquecer. Como se, ao deixar ir, estivéssemos traindo a importância daquilo que um dia segurámos tão forte. Mas a verdade é que a vida exige espaço para o novo e, às vezes, para seguir em frente, é preciso deixar algumas partes de nós dissolverem-se na bruma do tempo.

Esquecer não é fraqueza. É um ato de sobrevivência. E, talvez também, um pouco de amor-próprio!

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