Esquecer é um tipo estranho de liberdade. No começo, é um
esforço, um imenso empurrão contra a maré das lembranças, como quem tenta
caminhar sobre areia movediça. Mas, a pouco e pouco, o esquecimento aprende a
respirar dentro de nós, encontra o seu espaço entre as lacunas da memória e
infiltra-se nas entrelinhas do cotidiano.
Esquecer não é apagar. Não é um estalo, uma chave que vira. É
uma névoa lenta, um sol que se põe devagar sobre o que um dia foi muito vivo.
As vozes tornam-se ecos, os rostos perdem os contornos nítidos, as palavras
antes tão carregadas de sentido agora soam vazias, como folhas secas levadas
pelo vento.
No entanto, há um certo medo em esquecer. Como se, ao deixar
ir, estivéssemos traindo a importância daquilo que um dia segurámos tão forte.
Mas a verdade é que a vida exige espaço para o novo e, às vezes, para seguir em
frente, é preciso deixar algumas partes de nós dissolverem-se na bruma do
tempo.
Esquecer não é fraqueza. É um ato de sobrevivência. E, talvez também, um pouco de amor-próprio!
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