Marta teve durante toda a sua adolescência o trauma de ser filha de pais divorciados. Naquela época essa circunstância limitou-lhe os convívios e até as amizades. Era um tempo em que os casamentos se supunham para toda a vida.
Talvez fosse esse facto que a levasse a olhar a
carreira como um substituto da família até à sua entrada na juventude e na
Universidade. Aí, no meio desses homens e mulheres que batalhavam em pé de
igualdade perante as mesmas dificuldades, ela compreendeu que nada a diferenciava
dos restantes colegas.
Mas subsistia uma névoa que se manifestava no seu
desejo de constituir uma família sólida que nada devesse, jamais, abalar. Foi
assim que veio o primeiro e único namoro com um jovem que havia de se
transformar no seu marido.
Marta foi mãe de um casal e a sua vida passou a girar
entre o emprego e os filhos. O seu parceiro ia dando sinais de que se sentia
preterido, mas ela não lhes ligou grande importância. Até ao dia em que se deu
conta de que a vida deles como casal havia mudado radicalmente. Nesse momento
tentou inverter a marcha dos acontecimentos, mas era tarde. Miguel já havia
preenchido o espaço que Marta havia deixado livre.
Seguiu-se o inevitável divórcio que a deixou com a
responsabilidade maior de educar dois filhos e a sensação trágica de que
perdera, por omissão, o homem da sua vida.
Os anos foram decorrendo e Marta estava decidida a ser
uma pessoa diferente se voltasse a encontrar alguém que valesse a pena. Esse
dia chegou e com ele, por causa do anterior falhanço, todo um processo de
transformação e entrega a esse novo amor.
Todavia, a vida não se escreve por episódios e, ao fim
de algum tempo, Marta percebeu que a personagem que dedicadamente encarnava, não
era aquela que o seu homem, António, precisava. Isto era tão verdadeiro que, se
os seus dois maridos, se juntassem para falar dela, nenhum a reconheceria.
Novo divórcio e uma constatação dolorosa. Quem António verdadeiramente
amava e queria era a Marta do primeiro casamento. E o Miguel, eventualmente, poderia
ter sido feliz com a Marta do segundo. A vida também é feita destes
desencontros...
HSC
2 comentários:
Mas acredite que também tem encontros inesperados e que ficam para sempre.
Sou testemunha viva dessa realidade.
Tenha uma óptima semana
🌹
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