sábado, 25 de fevereiro de 2023

Desencontros


 Marta teve durante toda a sua adolescência o trauma de ser filha de pais divorciados. Naquela época essa circunstância limitou-lhe os convívios e até as amizades. Era um tempo em que os casamentos se supunham para toda a vida.

Talvez fosse esse facto que a levasse a olhar a carreira como um substituto da família até à sua entrada na juventude e na Universidade. Aí, no meio desses homens e mulheres que batalhavam em pé de igualdade perante as mesmas dificuldades, ela compreendeu que nada a diferenciava dos restantes colegas.

Mas subsistia uma névoa que se manifestava no seu desejo de constituir uma família sólida que nada devesse, jamais, abalar. Foi assim que veio o primeiro e único namoro com um jovem que havia de se transformar no seu marido.

Marta foi mãe de um casal e a sua vida passou a girar entre o emprego e os filhos. O seu parceiro ia dando sinais de que se sentia preterido, mas ela não lhes ligou grande importância. Até ao dia em que se deu conta de que a vida deles como casal havia mudado radicalmente. Nesse momento tentou inverter a marcha dos acontecimentos, mas era tarde. Miguel já havia preenchido o espaço que Marta havia deixado livre.

Seguiu-se o inevitável divórcio que a deixou com a responsabilidade maior de educar dois filhos e a sensação trágica de que perdera, por omissão, o homem da sua vida.

Os anos foram decorrendo e Marta estava decidida a ser uma pessoa diferente se voltasse a encontrar alguém que valesse a pena. Esse dia chegou e com ele, por causa do anterior falhanço, todo um processo de transformação e entrega a esse novo amor.

Todavia, a vida não se escreve por episódios e, ao fim de algum tempo, Marta percebeu que a personagem que dedicadamente encarnava, não era aquela que o seu homem, António, precisava. Isto era tão verdadeiro que, se os seus dois maridos, se juntassem para falar dela, nenhum a reconheceria.

Novo divórcio e uma constatação dolorosa. Quem António verdadeiramente amava e queria era a Marta do primeiro casamento. E o Miguel, eventualmente, poderia ter sido feliz com a Marta do segundo. A vida também é feita destes desencontros...

 

HSC

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Mas acredite que também tem encontros inesperados e que ficam para sempre.
Sou testemunha viva dessa realidade.
Tenha uma óptima semana

Anónimo disse...

🌹