“...O caso da TAP é mais um exemplo de concretização de prioridades eleitorais que saem muito caro aos contribuintes. Estamos perante um caso de nacionalização de prejuízos e privatização de lucros. Neste momento, a TAP é privada nos seus actos de gestão, mas é pública se precisar de dinheiro. É o melhor dos mundos para a irresponsabilidade financeira privada. A privatização pode não ter sido positiva, mas a nacionalização agravou ainda mais as responsabilidades do Estado
Em 2018, a TAP registou prejuízos de 118 milhões de euros e agravou o seu capital próprio negativo de 476 milhões de euros para 618 milhões de euros. Teve, além disso, prejuízos operacionais de 44 milhões de euros.
...Apesar de ter 50% do capital, o Estado detém apenas 5% dos direitos económicos e é responsável por capitalizar a empresa sempre que os capitais próprios desçam abaixo do valor negativo de 571,3 milhões de euros, como aliás aconteceu em 2018. Ou seja, o Estado, através da Parpública, pode ser chamado a aumentar em breve o capital da TAP. Mais: caso exista incumprimento dos acordos, a Parpública terá de pagar ao acionista privado, a Atlantic Gateway, 217,5 milhões de euros, no mínimo (no caso da privatização esse direito exercia-se em 10 milhões de euros).
Os pormenores do acordo de privatização e de recompra podem ser lidos na auditoria do Tribunal de Contas. Esta síntese permite perceber como boa parte dos incentivos vão no sentido de premiar a irresponsabilidade financeira ou, no mínimo, de não premiar a responsabilidade financeira dos gestores executivos da TAP.
O presidente da TAP pode pagar os prémios que entender e fazer a gestão que quiser. Se correr mal a conta vai para o Estado, se correr bem 90% dos lucros que forem distribuídos vão para os privados.
Um caso típico de nacionalização das perdas e privatização dos lucros. Que torna ainda mais incompreensível a “renacionalização” da TAP, tanto mais que os gestores nomeados elo Estado – um dos ganhos da recompra — parecem incapazes ou sem ferramentas para controlarem a gestão.”
Helena Garrido in Observador
Creio que se dispensam comentários. E nem está tudo dito, porque se as coisas correrem mal, sobram ainda mais compromissos para o Estado.
Como é que a TAP se dá a este luxo? Porque pode, é a resposta simples. E pode, claro, porque quem negociou não acautelou o que devia!
HSC
5 comentários:
O falecido sogro de bom amigo, o General Silvino Silvério Marques, costumava dizer-lhe - "Pedro, as minhas ideias e o seu dinheiro? Vamos em frente!"
Mutatis mutandis...
É mais um bom trabalhinho dos políticos
que não sabem defender o dinheiro dos
contribuintes.Uma vergonha!!!
Os meus cumprimentos.
Irene Alves
Drª Helena:
Isto já não é um país! A derrocada sistemática de todas as áreas que tutelam a organização de um país e consequentemente a vida de todos os cidadãos tem vindo a ser paulatinamente destruída e a olhos vistos!!! Aflige-me esta indiferença generalizada que tomou conta das pessoas. Há um estado de anomia que se instalou na sociedade e isso é muito preocupante. Não costumo ser nada pessimista, mas aquilo que vejo desenrolar-se diante dos olhos, nos sectores que deveriam constituir os pilares e as traves-mestras de uma democracia estão a desabar. Vejo tudo isto com muita preocupação.
Aconselho vivamente a leitura um artigo de opinião no jornal Observador da autoria de Luís Rosa alertando para o que se está a "desenhar" em relação ao controlo da Justiça e combate à corrupção.
Um grande abraço.
Dra Helena:
Para tudo há um COMEÇO que justifica o que vem depois como CONSEQUÊNCIA... Há uns anos li um artigo, "Costa no seu labirinto", da autoria de Maria de Fátima Bonifácio, historiadora que muito admiro. Impressionou-me de tal forma a sua análise acutilante que ainda hoje me vem à memória aquele seu escrito, porque considero que está lá o COMEÇO de tudo isto. Estive agora mesmo a relê-lo, a propósito deste seu texto sobre a "boa gestão" da TAP. E de tudo o resto que se tem visto e a que se tem assistido...
Cumprimentos
Anónimo das 20.24
Já somos dois a admirar a Prof. Fátima Bonifácio, que tenho o prazer de conhecer pessoalmente há muitos anos.
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