sábado, 29 de junho de 2019

Manuela Eanes


O título, simples, deste post ilustra a minha estima pela pessoa. Para mim, Manuela Eanes é a forma mais natural de referir uma mulher que, ao lado do seu marido, marcou anos da história da democracia em Portugal.
Ontem, o Âmbito Cultural do Corte Inglês estava apinhado de gente conhecida para estar presente no lançamento de um livro constituído por uma longa entrevista conduzida por Fátima Campos Ferreira à ex "primeira dama" do Portugal democrático. 
A apresentação, excelente, coube a Leonor Beleza, um nome incontornável que não carece de apresentações e por quem tenho uma enorme admiração, apesar de não pertencer ao seu grupo de amigos. Com pena, confesso. E posso dizê-lo à vontade, porque nesta fase da minha vida, os encómios que faça não estão à espera de contrapartida. 
Admiro-a porque sempre teve a cabeça erguida quando outros a quiseram vergar, porque nunca baixou os braços e porque houve alguém neste país que numa época conturbada, confiou nela e lhe entregou, sem qualquer hesitação, a tarefa de criar, de raiz, uma grande Fundação na área da saúde.
Através dessa apresentação, o publico presente ficou a conhecer melhor Manuela Eanes, a primeira "primeira dama" da democracia nacional. Sem qualquer modelo anterior, ela criou uma figura e uma imagem muito próprias. De facto, na sua maneira de ser extremamente discreta desempenhou, na rectaguarda, funções que a maioria de nós desconhecia e que ela jamais referiu.
O livro retrata muitas delas, mas outras houve que Leonor Beleza salientou e que o completam. E, como sempre, o IAC, o Instituto de Apoio à Criança, não foi obra sua mas sim do colectivo que a acompanhou!
Confesso que tenho uma enorme estima por aquele que foi o meu Presidente. E confesso que tenho pela minha querida amiga Manuela, a maior ternura. Por questões de vida pessoal, foi dificílimo conseguir organizar a minha agenda e estar no Corte Inglês. Mas jamais me perdoaria se o não tivesse feito!

HSC

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Vinte anos de euro!

Confesso que vejo pouca televisão nacional. Já aqui o tenho referido. Salvam-me os programas de culinária - apesar de alguns mais parecerem catálogos de vestuário - e algumas séries policiais inglesas.
Mas, quando um nome ou um tema me interessa, esforço-me por estar atenta. Foi o que aconteceu na segunda feira, com os Pros e Contras de Fátima Campos Ferreira, onde todos os participantes eram pessoas que respeito profissionalmente.
Foi uma sorte, porque não sou uma aficionada daquele tipo de debate. Nos poucos a que assisti, houve demasiados atropelos, que perturbaram o objectivo de esclarecimento que, julgo, é a finalidade do programa. 
Mas o tema era aliciante e os meus colegas economistas eram de alto calibre. Além disso, quer o governo quer a supervisão bancária, estavam muito bem representados no Ministro dos Negócios Estrangeiros e na Vice Governadora do Banco de Portugal.
É sabido que não sou uma europeista ferrenha, que não simpatizo particularmente com os federalismos tradicionais e que ainda possuo uma marca geracional relativamente a uma eventual egemonia alemã. Tudo características pessoais que, garanto, sempre tento superar nas análises que faço.
Daí, talvez, a minha proximidade a algumas posições do professor madeirense - pena ter tido pouco tempo de expôr o seu pensamento - e à visão de Luis Aguiar Conraria. Foi muito pedagógico o tom do debate, sem gritarias nem imposições de pontos de vista e foi muito produtivo pôr a academia económica a debater com duas pessoas inteligentes e preparadas que, ali, de certo modo representavam o "poder".
Está de parabéns a Fátima Campos Ferreira que soube moderar, os participantes que se portaram à altura do que deles se esperava !

HSC

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Ainda a malfadada rede 707...

Já me insurgi aqui, por mais de uma vez, ao abuso do prefixo telefónico 707, para  prestar informações publicas a que qualquer cidadão tem direito ao preço de uma chamada normal.
De facto, a utilização destes números - que, por norma nos põem em fila de espera  e se torna caríssimo - é, a meu ver, inaceitável em repartições públicas. Sendo, como é, um serviço pago ao minuto, adivinham-se as elevadas facturas cobradas aos incautos que desconheçam a situação.
Há dias, no excelente programa CONTAS POUPANÇA, da Sic, percebi que havia um meio de contornar este gasto vergonhoso. Tratava-se de ir ao Google, escrever o 707 ( seguido do resto do número )acrescido de ".pt". Carregava-se no "enter2 e lá apareceria um numero normal alternativo.
Resolvi fazer isso, hoje, com o El Corte Inglês. O número em causa era o 707211711. Lá segui as instruções do programa e, de facto, apareceu o alternativo 213711711. Contente, marquei o dito número, mas aparece-me uma mensagem a dizer que "no momento não era possível fazer a ligação". 
Como sou crédula admiti que fosse por ser feriado. Mas, porque também sou desconfiada, resolvi ligar o 707. Fui, claro, logo diligentemente atendida.
Ou seja, a linha alternativa existe, mas neste caso, ninguém respondeu. No entanto, havia quem o pudesse fazer, já que através do numero caro, fui atendida de imediato...
É a vida. Mas que raio de vida em que o cidadão se queixa, mas ninguém faz nada.

HSC

domingo, 16 de junho de 2019

Até 6 de Outubro...

Até 6 de Outubro irão começar as promessas. Para já, as mais fresquinhas, dirigem-se aos funcionários públicos. Muitas outas iremos ouvir, independentemente de haver ou não dinheiro para as concretizar. Pode ser que apareça até algum bónus para os pensionistas, mas parece-me difícil porque a classe não tem qualquer força reivindicativa no mundo do trabalho que já foi o seu e os sindicatos estão mais interessados em defender os activos, porque os outros sãom peso morto, embora ainda votem.
O PS vai pedir a maioria e até é capaz de a obter, se os incendios não vierem, de novo, ensombrar o seu caminho. Com mais uns passinhos de dança, se os socialistas a não obtiverem, podem sempre vir a dispensar o BE e o PC, fazendo acordos com o PAN.
Assim, teremos quatro meses garantidos de promessas eleitorais e de cartazes, num pais em que nenhum dos partidos limpou sequer a poluição que causou com os das europeias, que por lei já deveriam estar a ser retirados. Mas quem é que, na política, cumpre a lei?!
Por mim, vou tentar, finalmente, vergar-me à Netflix, como forma de atravessar este período sem grandes conflitos anímicos. É que, já que as legislativas vão constituir series próprias, assim pelo menos naquela plataforma, eu vou poder escolher o que muito bem entenda. Senão, só me resta o Fox Crime...

HSC

sábado, 15 de junho de 2019

Ainda o 10 de Junho


Por muitas e variadas razões, não me pronunciei aqui – nem aliás em nenhum outro lado – sobre o badalado discurso de JMT feito no dia 10 de Junho em Portalegre. 
Vi gente entusiasmada e gente irritada. A mim, não me causou nem uma nem outra daquelas reacções. Por isso, achei inútil dizer o que quer que fosse sobre o assunto.
Leio, de vez em quando, o autor. Discordo muitas vezes dele, cumprimento-o pela defesa que faz do matrimónio, mas a sua imagem do homem feito a pulso, no actual contexto nacional, não me parece muito significante, porque o país, como sabemos, está cheio deles. Nós é que os não conhecemos.
Acontece que hoje li a crónica de Alberto Gonçalves, no Observador, sobre o discurso. E, curiosamente, descobri nela, algumas razões do meu silêncio sobre o tema. 
O cronista elenca divergências, concordâncias e incertezas sobre o conteúdo do dito. Creio que tem razão. E explica, afinal, porque é que eu entendi que não valia a pena falar sobre o assunto e me mantive silenciosa, no meio de tanto ruído!

HSC

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Que vergonha!


Acabei de assistir à reportagem de Ana Leal, na TVI, sobre o estado em que se encontra actualmente Pedrogão Grande. Fica-se com um aperto na garganta.
Como é possível que os nossos dirigentes durmam tranquilos, sabendo do que aquela gente precisa e não tem? Como é possível que toros de lenha, fios eléctricos e floresta permaneçam no mesmo estado, à espera de  virem a ser, de novo, dizimados pelo fogo? 
Gente que sofreu, que perdeu tudo, que os portugueses solidariamente ajudaram e que continuam à espera de que alguém se lembre deles e faça o que ainda não foi feito. Como é possível?
O Presidente da República prometeu que não abandonaria Pedrogão Grande e que havia de lá voltar. Não esqueça essa promessa, não esqueça aquelas pessoas que precisam que se lhes devolva uma vida. 
A Ana Leal fez um trabalho meritório e pôs a nu o muito que não foi cumprido. É esse o trabalho do jornalista e ela fe-lo muito bem. Mas é preciso que esse seu labor não caia em saco roto...
Volte a Pedrogão Grande, Senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa. E mostre que, de facto, os não esqueceu!

HSC

terça-feira, 11 de junho de 2019

Ruben, um homem especial


Ruben de Carvalho, histórico militante do PCP, morreu esta terça-feira aos 74 anos. Para além da carreira na política, teve uma vida de intervenção e de luta na resistência antifascista e no movimento associativo estudantil. 
Viria a abraçar a Revolução de Abril e deixou à sociedade portuguesa um contributo de relevo no domínio da música, quer nas suas raízes populares, quer na sua dimensão erudita.
Foi jornalista na 'Vida Mundial' e no 'O Século' e chefe de redação do semanário 'Avante', a partir do seu primeiro número legal. Foi, igualmente, membro do Conselho de Opinião da RTP em 2002 e comentador da SIC Notícias.
Conheci Ruben de Carvalho já lá vão muitos anos, mas continuava a guardar dele a memória de um homem de letras culto e de um melómano que gostava da mesma música que eu, desde o fado ao jazz, dos blues à música americana. Tudo o que, na altura como hoje, me dizia e diz, muito mais do que as opções políticas que nos afastavam .
Deixa-me um sentimento de pena e de tristeza, ver partir cedo alguém que, pouco tendo de comum comigo ideologicamente, sabia apreciar  e valorizar o que uma certa cultura tem de melhor.
À Família os meus sentidos pêsames.

HSC 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

A "nossa" TAP


“...O caso da TAP é mais um exemplo de concretização de prioridades eleitorais que saem muito caro aos contribuintes. Estamos perante um caso de nacionalização de prejuízos e privatização de lucros. Neste momento, a TAP é privada nos seus actos de gestão, mas é pública se precisar de dinheiro. É o melhor dos mundos para a irresponsabilidade financeira privada. A privatização pode não ter sido positiva, mas a nacionalização agravou ainda mais as responsabilidades do Estado
Em 2018, a TAP registou prejuízos de 118 milhões de euros e agravou o seu capital próprio negativo de 476 milhões de euros para 618 milhões de euros. Teve, além disso, prejuízos operacionais de 44 milhões de euros.
...Apesar de ter 50% do capital, o Estado detém apenas 5% dos direitos económicos e é responsável por capitalizar a empresa sempre que os capitais próprios desçam abaixo do valor negativo de 571,3 milhões de euros, como aliás aconteceu em 2018. Ou seja, o Estado, através da Parpública, pode ser chamado a aumentar em breve o capital da TAP. Mais: caso exista incumprimento dos acordos, a Parpública terá de pagar ao acionista privado, a Atlantic Gateway, 217,5 milhões de euros, no mínimo (no caso da privatização esse direito exercia-se em 10 milhões de euros).
Os pormenores do acordo de privatização e de recompra podem ser lidos na auditoria do Tribunal de Contas. Esta síntese permite perceber como boa parte dos incentivos vão no sentido de premiar a irresponsabilidade financeira ou, no mínimo, de não premiar a responsabilidade financeira dos gestores executivos da TAP.
O presidente da TAP pode pagar os prémios que entender e fazer a gestão que quiser. Se correr mal a conta vai para o Estado, se correr bem 90% dos lucros que forem distribuídos vão para os privados.
Um caso típico de nacionalização das perdas e privatização dos lucros. Que torna ainda mais incompreensível a “renacionalização” da TAP, tanto mais que os gestores nomeados elo Estado – um dos ganhos da recompra — parecem incapazes ou sem ferramentas para controlarem a gestão.”
                     
                                    Helena Garrido in Observador

Creio que se dispensam comentários. E nem está tudo dito, porque se as coisas correrem mal, sobram ainda mais compromissos para o Estado. 
Como é que a TAP se dá a este luxo? Porque pode, é a resposta simples. E pode, claro, porque quem negociou não acautelou o que devia!

HSC

sábado, 8 de junho de 2019

Uma traição necessária


Sou admiradora de longa data da actriz Julie Dench. Creio que terei visto quase todos os filmes em que ela participou. Hoje, fui ver Red Joan, traduzido entre nós como "Uma Traição Necessária", em que ela é uma das protagonistas.
Trata-se da história real de uma brilhante estudante de Física da Universidade de Cambridge que, por amor a um colega comunista, acaba por ser recrutada pelo KGB. 
Dench já muito envelhecida, irá ser obrigada a relatar a sua própria história várias décadas depois de ela se ter desenrolado.
E fá-lo com a qualidade habitual, levando-nos para o clima ideológico da época que atinge o seu auge com o drama do lançamento, pelos americanos, da bomba em Hiroshima.
Não se trata de uma fita genial, mas é uma história bem contada e que nos reporta a certos belicismos que, infelizmente, parecem estar a ficar cada vez mais esquecidos com a forma como se ensina a história das nações.
Enfim, para mim, que aprecio muito pouco as aglomerações que o turismo trouxe ao país, ir ver uma película destas, num sábado à tarde, numa sala meia cheia, é uma alternativa extremamente  saudável. Sobretudo, quando o ruído se aproxima a passos largos da minha casa, onde a policia corta as ruas e os balões, as sardinhas e as cantorias, me preparam uma noite de insónia  garantida.

HSC

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Bombas em Portugal

Hoje peço-vos, em meu nome e no de Luis Aguiar Conraria, que muito admiro, e é autor deste artigo, publicado no jornal Público, que assinem uma iniciativa legislativa e uma petição solicitando que a distribuição de bombas de insulina seja alargada aos adultos. Aqui fica o seu texto que compartilho com todos os que me lêem.

"Quando recebemos o diagnóstico, já lá vão quase três anos, de que a nossa filha mais velha tinha diabetes de tipo 1, o choque foi enorme. Como já expliquei, esta é uma doença auto-imune, em que os nossos anticorpos destroem as células do pâncreas, que deixa de produzir insulina. Antes de esta ser descoberta, um diagnóstico da doença era uma sentença de morte. Depois da sua descoberta, a solução parece fácil: se o pâncreas não produz insulina, passamos nós a injectá-la quando necessário.
No início, ainda antes de termos bomba de insulina, parecia fácil. Basicamente tínhamos duas insulinas para administrar: a basal, de efeito lento, tão lento que só era dada à noite, de 24 em 24 horas. Essa injecção destina-se a cobrir as necessidades permanentes do corpo. E uma outra, de efeito rápido, que era para ser injectada de cada vez que se comia.
No início parecia um jogo matemático: tínhamos de perceber quantos açúcares e hidratos de carbono a criança ia ingerir, fazer umas contas com base nuns rácios e dar a insulina correspondente. Só ao fim de algum tempo percebemos que a demanda pelos rácios certos era uma missão quase condenada ao insucesso.
Porquê condenada ao insucesso? Porque há demasiadas variáveis em jogo. A maçã de hoje pode ser mais doce ou mais amarga do que a comida ontem; se a rapariga se está a mexer, a sensibilidade à insulina aumenta; se está mais calor, idem; se está em ovulação, aumenta a resistência; se tem uma doença, o corpo tanto se torna mais como menos sensível, etc. Rapidamente se percebe que ou a criança faz uma alimentação low carb, reduzindo a ingestão de hidratos de carbono ao mínimo, o que médicos e nutricionistas desaconselham vivamente, ou a glicemia andará numa montanha-russa.
É quando tomamos consciência disso que a realidade nos bate com força. A diabetes de tipo 1 deve ser a única doença crónica mortal em que as doses do medicamento (no caso, a insulina) são decididas várias vezes ao dia pelo paciente e não pelo médico. Isto é assustador pela simples razão de que a dose errada pode ser letal. E foi nessa altura que entendi que um dos maiores riscos era o de confundir a insulina lenta com a rápida.
As canetas com que injectamos uma e outra eram praticamente iguais, apenas a cor as distinguia. Mas a dose de insulina lenta a injectar diariamente anda perto das dez unidades, enquanto a dose de insulina rápida a dar no caso raro de um almoço pouco saudável (por exemplo, uma ida ao McDonald’s) não passava das três unidades. Tomámos consciência de que, se numa noite qualquer trocássemos as canetas e injectássemos a insulina de efeito rápido em vez da lenta, isso poderia ser fatal.
Na edição do PÚBLICO de 4 de Outubro do ano passado, Ana Carolina Rocha contou como quase morreu com uma hipoglicemia tremenda apenas porque decidiu dormir mais uns minutos. Se pequenos erros se pagam tão caro, imagine-se um grande erro.
Mais perturbador foi perceber, num grupo privado de Facebook, que de vez em quando essa troca de insulinas acontece entre diabéticos de tipo 1. A solução passa por ir imediatamente para o hospital e ficar umas horas a soro. Este foi um dos principais benefícios que percebi quando a minha miúda passou a ter bomba de insulina: o perigo de confusão simplesmente desaparece. Explico: com a bomba de insulina, apenas se usa um tipo de insulina, a rápida; a lenta é substituída por um fluxo constante da rápida, injectado através de um cateter.
Quando foi diagnosticada diabetes à minha filha, fiz uma declaração de interessesdizendo que a partir daquele momento me ia tornar um activista. Por coincidência, e não por qualquer efeito de lobbying meu, pouco tempo depois saiu um decreto-lei que garantia a todos os menores de 18 anos o acesso gratuito a uma bomba de insulina. Foi aprovado um monitor contínuo de glicemia que permite aos diabéticos controlá-la sem ter de andar sempre a picar o dedo para extrair sangue.
Sei, por experiência própria, como estas novas tecnologias ajudam. E, como sei isso, não consigo deixar de lamentar que as bombas não sejam distribuídas a adultos. Corrijo, são distribuídas umas quantas por ano, mas a um ritmo tão lento que nunca atingirão toda população adulta.
Percebo perfeitamente que a prioridade seja dada às crianças. Um estudo recente publicado na revista médica Lancet mostra que a esperança média de vida de uma criança a quem foi diagnosticada esta doença é 16 a 18 anos menor. Já alguém a quem lhe foi diagnosticada em adulto “apenas” perde dez anos de vida.
Convém, no entanto, ter em atenção que muitos dos actuais adultos conheceram o seu diagnóstico em criança, pelo que novas tecnologias que lhes permitam fazer uma melhor gestão da doença são fundamentais. E mesmo quem receba o diagnóstico já em adulto pode beneficiar muito deste tratamento. Afinal de contas, é por isso que tantos nos orgulhamos do nosso Sistema Nacional de Saúde, não é? O existir para que quem tem menos posses financeiras possa usufruir dos melhores cuidados médicos.
É por isso que hoje lhe peço que assine uma iniciativa legislativa (de que sou subscritor e que necessita de 20.000 assinaturas) e uma petição (que já não precisa de tantas) dirigidas à Assembleia da República pedindo que a distribuição de bombas de insulina seja alargada a todos os adultos, com prioridade para grávidas e mediante recomendação médica. Com a iniciativa legislativa propõe-se uma lei, com a petição apenas se pede à AR que discuta o assunto.
Compreendo a dúvida que esteja a sentir: faz sentido acrescentar mais esta despesa ao SNS? Não conheço estudos para Portugal, pelo que apenas lhe posso responder com os de outros países. Um recente, feito para a província canadiana Alberta, conclui que o melhor controlo glicémico que se obtém graças às bombas de insulina permite ao sistema de saúde poupar dinheiro, já que o custo de fornecer as bombas é mais do que compensado pela poupança com a diminuição de futuras complicações (problemas de visão, rins, má circulação, neuropatia, etc.). É uma solução boa para os doentes e para as finanças públicas.
Não quero enganar ninguém, conheço um estudo para outro país que conclui que, apesar da melhoria na qualidade de vida dos diabéticos, de um ponto de vista estritamente financeiro, o fornecimento de bombas não permite ao Estado poupar dinheiro. Essa é outra das vantagens destas iniciativas: criar um incentivo para que se façam estudos destes para Portugal que nos permitam tomar decisões informadas."
Para subscrever a iniciativa legislativa, vá a este link. Terá de se registar e confirmar a sua assinatura. Se achar o processo complicado, pode ir a esta páginae imprimir uma folha para assinaturas manuais. Nesse site encontrará a morada para onde as poderá enviar pelo correio. A petição pode ser subscrita aqui.

Sejamos solidários. A diabetes é uma doença que pode ser melhor controlada se todos fizermos um pequeno esforço. Nomeadamente, o de obrigar o governo a estender aos adultos o âmbito  desta medida. 

HSC

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Morreu Agustina

Há três mulheres que tenho, há anos, na minha cabeceira. São Agustina Bessa Luis, Clarisse Lispector e Marguerite Yourcenar. Amo todas elas de forma diferente e, muito possivelmente, não seria quem sou se as não tivesse encontrado.
Felizmente conheci, entrevistei e convivi com a primeira. Faltam-me palavras e sobejam-me lágrimas ao pensar que Agustina desapareceu. E eu não sou de chorar, mas sim de ficar com um nó atravessado na garganta quando perco alguém de quem gosto muito.
Estas mulheres marcaram tanto a minha vida, que as sinto como se fizessem parte de mim. Foi com elas que venci medos, atravessei crises, enfrentei barreiras e aprendi que a sociedade se constrói, quando temos a coragem de dizer o que pensamos, pese embora as criticas que possamos suscitar.
Houve uma altura em que o politicamente correcto considerava Agustina uma mulher de direita e, com isso, não lhe dava a importância devida. Muitos desses nomes, deram-lhe hoje as leias que á época lhe negaram. Esquecendo que ninguém se poderia apoderar de um espírito livre como o dela, que olhava a sociedade sem qualquer submissão a ideologias, fossem elas de que teor fossem.
Estou muitíssimo triste com o seu desaparecimento, apesar de já esperado. Mas enquanto a sabia viva, sentia que se mantinha a brisa suave das suas palavras. Estas vão continuar a alimentar-me, mas eu sei que a sua voz não se fará mais ouvir...

HSC

domingo, 2 de junho de 2019

Falar demais...

Marcelo excedeu-se ao afirmar ontem na FLAD, a Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, que “há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos" e defendeu que, num tal contexto, o seu papel "é importante para equilibrar os poderes".
Marcelo comentava os resultados das eleições europeias de domingo numa intervenção em inglês, declarando que Portugal tem agora "uma esquerda muito mais forte do que a direita" e que "o que aconteceu à direita é muito preocupante".
Quanto à esquerda, o chefe de Estado referiu que "o PS fortaleceu a sua posição, e quem se sabe se isso acontecerá de forma ainda mais profunda nas próximas eleições legislativas", podendo vir a ter "diferentes possibilidades" para formar maioria, além de PCP e BE, "porque outros partidos estão a crescer" – numa clara alusão ao PAN.
"Portanto, disse, há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos. Isto, para ser muito realista, o que explica porque razão o equilíbrio de forças está como está. 
E um bocadinho também por que é que o Presidente, pelo menos neste momento, é importante para equilibrar os poderes", acrescentou.
O chefe de Estado admitiu, à saída da FLAD, que o equilíbrio de forças entre esquerda e direita, após as eleições legislativas, possa influenciar o seu papel como Presidente da República e a sua decisão sobre uma recandidatura.
E defendeu que "é muito importante haver um equilíbrio nos dois hemisférios da vida política portuguesa, para não haver um desequilíbrio muito para um lado, relativamente a outro".
"Agora, só o resultado das legislativas é que permitirá dizer qual é o equilíbrio a que se chegará em Outubro e, depois, qual é o papel que o Presidente terá até ao fim do mandato, e se isso influenciará ou não a decisão sobre a recandidatura", acrescentou. 
Questionado sobre o que é que entende que muda no seu papel num cenário de crescimento da esquerda face à direita, o Presidente da República respondeu que "as legislativas serão apenas em outubro" e que antes disso "é prematuro falar da evolução do sistema partidário português e também do papel do Presidente".

Com uma abstenção de 68%, Marcelo falou demais. Nada garante que em ambiente de legislativas, se repita o quadro das europeias. E falar da crise da direita sem se pronunciar sobre o que se passou no PCP, ou no aparecimento dos novos pequenos partidos ou até no seu próprio papel como PR, parece-me manifestamente exagerado...

HSC