segunda-feira, 2 de abril de 2018

As festas familiares


A "família", essa palavra que todos usamos e está na base da maioria de certos feriados é, para muitos, uma moeda de duas faces. Para uns porque já não existe, para outros porque se tornou pesada.
Ora é nas festas ditas familiares que esta dualidade mais se faz sentir. São dias em que se corre de uma casa para outra, num frenesim de repastos, ou que em que a nossa casa é invadida por uma "multidão" que, subitamente existe em simultâneo.
A partir da morte da minha Mãe, desaparecida no dia de Natal, este perdeu todo o lado festivo porque, ainda hoje, as saudades que tenho dela são imensas. Já quase lhe não relembro a cara, mas o cheiro, os gestos, as mãos, estão presentes diariamente. Depois o Miguel morreu e, confesso, desde aí, reuniões de familia alargada são, para mim, um sufoco. A morte recente do meu irmão mais velho só agravou a situação. 
Esta Páscoa era, por isso, uma incógnita que me andava a angustiar um pouco, visto que tinha combinado com o meu filho Paulo que os dois estaríamos pacatamente juntos.
Depois da morte do irmão e não estando mais que dez dias por mês em Portugal, ele tem sido inexcedível no apoio que me tem dado. Calculo que faça o mesmo com o Pai, mas francamente, agora, que só o tenho a ele, essa não é matéria sobre a qual me debruce.
Curiosamente, a vida troca-nos, quase sempre, as voltas. O meu irmão mais novo que saía sexta feira,  resolveu postergar, por três dias, a ida para África. Assim e sem esperar, acabámos os quatro a almoçar calmamente em Caxias na casa dele, rindo e brincando como se de nada especial houvesse a celebrar. 
Foi bom demais já que, agora, começa Abril, o meu pior mês do ano até ao dia 24, em que me despedi do Miguel. Depois é outra arrancada até 1 de Maio em que ele faria 56 anos...
Enfim, nestas alturas lembro-me de facto, de quem não tem familia e que lamenta isso. Respondo, sempre a rir, que há outros que a têm  em excesso. Mas percebo, que para os solitários, a época seja amarga, apesar dos doces que a caracterizam!

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

🌷

Silenciosamente ouvindo... disse...

Compreendo este seu texto.

Minha mãe também morreu numa noite de Natal.

Não tendo tido filhos, os meus sobrinhos netos

estão todos na Irlanda, e por aqui restamos muito

poucos.

Abril também era o mês dos anos de minha mãe,

mas agora também é o mês do nascimento do Daniel

a 21, onde completará, se Deus quiser, um ano.

Os meus cumprimentos.

Irene Alves

Anónimo disse...


Helena
Ontem no Alentejo fui com a minha madrinha ao cemitério perdeu o seu único filho há 10 anos, já perdeu 2 irmãs, entre outros seres muito queridos, uma pessoa adorável mas com uma história de vida dura.
Contou-me que não dorme, pairam na mente conversas que tinha com o filho, fala-me dele ouvia-a atentamente, conta outras histórias de outros, diferentes na tristeza mas tristes também.
Madrinha mas as histórias são sempre tristes, não existem histórias alegres?
Madrinha- Existem histórias felizes mas essas passam rápido as tristes levam mais tempo a desaparecer.

A partir de um certo momento da minha vida comecei a perceber que há pessoas que carregam dentro delas histórias duras, com as quais não fico indiferente até me fazem pensar e repensar a vida.
Alguém me dizia a vida é uma ilusão, e não será esta uma verdade?
Pois que tenhamos a imaginação de a viver assim enquanto possamos, porque a ilusão pode ser quebrada a todo o momento.

Tenho a certeza que se divertiu, soltou as suas gargalhadas e melhor estive perto de quem gosta e gosta de si, isso é bom muito bom.

Abraço forte
Carla




,

Anónimo disse...

Como a entendo

Helena Sacadura Cabral disse...

Carla
Também há historias alegres. Mas o que importa é que as tristezas não consumam a nossa vid. Ninguém ganha com isso,
O meu Miguel morreu. Mas tenho Paulo e os netos. se eu ficar triste o que é que lhes dou?
Prefiro pensar que o tive 50 anos e que isso foi muito bom!

CA disse...

Também perdi demasiada família, demasiado cedo.

Ao facto de aos quase 36 ainda não ser mãe atribuo o significado: factor de proteção. É a vida a proteger-me. Proteger-me do medo constante com que, provavelmente, viveria a maternidade. Medo de perder um filho, medo por saber a dor dilacerante que constitui perder quem tanto se amou e ama.

Depois... Leio-a. E, como sempre, está tudo lá.

"Prefiro pensar que o tive 50 anos e que isso foi muito bom".

Para mim, é, ainda nos dias de hoje, um exercício constante. Dar graças a Deus pelo tempo em que as tive e pedir força para continuar a viver honrando a vida.

Helena... Gosto de si desde aqui até à lua, com viagem de regresso incluída. :)

Muitas bênçãos para a Senhora, é o que peço sempre.

Que a vida lhe dê em dobro, triplo, quádruplo... :)

Anónimo disse...


Helena
O meu primo tinha 46 anos, deitou-se e já não acordou não tinha filhos. Com netos o animo seria outro, mesmo assim é forte a vida na aldeia também não ajuda nada.
A sua clareza e visão da vida ajuda muitos e isso é muito bom.
Há palavras que fazem eco e as suas fazem , falo por mim.

Abraço
Carla



Sandra disse...

A todos os que aqui têm a coragem de partilhar a dor e as alegrias, um abraço com carinho.